INTRODUÇÃO
O Dicionário define vocação como a ação ou
efeito de chamar; chamamento; escolha, predestinação (Dicionário Lutf). Na
Bíblia o termo vocação aparece 10 vezes e apenas no Novo Testamento (Rm 11.29;
1 Co 1.26; 7.20; Ef 4.1; 4.4; Fp 3.14; 2 Ts 1.11; 2 Tm 1.9; Hb 3.1; 2 Pe1. 10).
Conforme Hans Wolf a vocação pode ser definida
assim:
Vocação é a nossa resposta ao chamado de Deus para
o cumprimento de uma determinada missão no mundo, quer seja temporária ou
permanente. Convocação esta que pode acontecer em qualquer época da nossa vida,
para uma execução de uma tarefa definida dentro do escopo da ação redentora de
Deus (Antropologia do Velho Testamento).
Em todas as vezes que aparece o termo vocação
parece fazer menção a dois grupos: todos os crentes, que são chamados para a
salvação, e aos que são chamados para um ministério específico. Vejamos então
estas duas faces da vocação:
I- A VOCAÇÃO DE TODOS OS CRENTES.
Todo salvo deve se considerar uma pessoa
vocacionada inicialmente para a salvação. Este é o sentido das palavras de
Paulo em Efésios 4.1… Que andeis de modo digno da vocação a que fostes
chamados. No mesmo sentido Ele chama a atenção dos irmãos em Corinto
advertindo que reparassem sua na vocação e reparassem que não foram chamados
muitos sábios segundo a carne, nem muitos poderosos, nem muitos de nobre
nascimento (1 Co 1.26). Esta vocação, este chamado para ser salvo, é o que de
mais especial pode acontecer a uma pessoa. Paulo a chama desoberana vocação,
cujo fundamento é o próprio Céu (Fl 3.14). É o mesmo sentido das palavras do
autor aos Hebreus que ensina que os crentes participam da vocação celestial (Hb
3.1). Esta vocação é fruto de uma eleição, um chamado de Deus para os que serão
salvos (2 Pe 1.10).
Em um outro aspecto, todos os salvos também são
vocacionados para o serviço. Neste sentido podemos interpretar as palavras de
Pedro na sua Primeira Epístola (2.9,10), como um chamado especial para que o
povo que alcançou a misericórdia de Deus para a salvação proclame as virtudes
de Deus com a mesma responsabilidade de Israel, visto que agora, os salvos
são a raça eleita, nação santa e povo de propriedade exclusiva de
Deus. Assim, cada salvo, além de ser chamado para a salvação, o é
também para o serviço. Diferentemente do tempo do Antigo Testamento, onde
somente os sacerdotes ministravam os ofícios do Tabernáculo e do Templo, no
Novo, todos os salvos são convocados para o serviço.
A Reforma Protestante resgatou a doutrina do
sacerdócio universal de todos os salvos, estabelecendo um serviço igualitário a
todos nós. Segundo Martinho Lutero os leigos, sacerdotes, bispos, no
fundo verdadeiramente não têm qualquer diferença senão em função do cargo ou da
ocupação e não pela sua classe, pois todos eles são de classes espirituais,
Autênticos sacerdotes, bispos e papas. Contudo, nem
todos têm a mesma ocupação, assim também entre os sacerdotes nem todos tem a
mesma ocupação.
Somos sacerdotes não no sentido de fazer uma
intermediação entre o homem e Deus, mas no sentido do serviço. Nós servimos a
Deus servindo aos homens. Quando se trata de dons espirituais cada um de nós
tem pelo menos um e este dever ser colocado à disposição do Senhor e de sua
igreja. Não faz parte do espírito do Novo Testamento uma pessoa servir ao
Senhor apenas como um ouvinte, um contemplador, um assistente. O verdadeiro
salvo quer servir, quer colocar a mão no arado, quer oferecer sacrifício “vivo”
ao Senhor.
II- A VOCAÇÃO ESPECIAL PARA O MINISTÉRIO.
Conforme bem descreveu Gene Veith, o conceito de
sacerdócio universal da Reforma não denigre de forma alguma o ofício pastoral,
como geralmente se pensa, nem ensina que os pastores e cooperadores da igreja
são desnecessários, tampouco afirma que cada pessoa pode apresentar sua própria
teologia. Pelo contrário, ela ensina que o ofício pastoral é uma vocação, um
chamado de Deus com sua autoridade, suas responsabilidades específicas e suas
bênçãos (Deus em ação – Cultura Cristã, p.15).
Não podemos negar, especialmente observando o
ministério de algumas pessoas na Bíblia, que exerceram ministérios específicos,
que não exista o que podemos chamar de vocação especial para o
ministério. O que dizer de Samuel, Moisés, Elias, Jeremias, Isaías,
Daniel, Pedro, Paulo, Timóteo? Todos eles desenvolveram ministérios exclusivos
para os quais foram chamados com uma clareza solar.
Todos os crentes podem pregar, no entanto existem
aqueles que são separados para este propósito especial. Estes são os que
presidem a igreja e se afadigam, mais que os demais para o ensino (1 Tm 5.17).
Todos os salvos devem compartilhar a Palavra, mas existem os separados para um
projeto missionário especial (Atos 13.1,2).
Já na época da reforma Calvino ensinava que o
governo da igreja, por exemplo, deveria ser exercido por pessoas vocacionadas
para este fim. Dizia ele:
Para que não se introduzissem temerariamente homens
inquietos e turbulentos a ensinar ou a governar, o que de outra sorte haveria
de acontecer, tomou-se precaução expressamente a que alguém não assuma para si
ofício público na igreja sem a devida vocação. Portanto, para que alguém seja
considerado verdadeiro ministro da igreja, primeiro importa que tenha sido
devidamente chamado (Hb 5.4); então, que responda ao chamado, isto é, empreenda
e desempenhe as funções a si conferidas (As Institutas).
Lutero, no mesmo sentido nos instrui:
A vocação não deve ser assumida levianamente, pois
não é o suficiente que uma pessoa tenha conhecimento. Ele precisa estar certo
de haver sido devidamente vocacionado. Aqueles que exercem o ministério sem a
devida vocação almejam bom propósito, mas Deus não abençoa os seus labores.
Eles podem ser bons pregadores, mas não edificam (Comentário aos Gálatas).
Como podemos então entender esta vocação especial
para o ministério cristão? Em outras palavras, como podemos saber se uma pessoa
está sendo vocacionada para um ministério especial?
1- Um desejo Intenso, continuado e repetido.
O que julga que está sendo vocacionado para o
ministério especial, seja para o pastorado, missões ou qualquer outro fim, deve
fazer uma leitura de seu próprio coração e averiguar se sente um grande desejo
de fazer o trabalho de Deus. Ensina-nos Spurgeon:
Se vocês não sentem o calor sagrado, rogo-lhes que
voltem para casa e sirva a Deus em suas respectivas esferas. Mas se, com
certeza, as barras de zimbro chamejam por dentro, não as apaguem “(Lições aos
meus alunos)”.
Este desejo deve ser continuado, sempre frequente.
Não pode ser algo que só acontece em tempos de retiros espirituais ou
conferências de consagração, etc. A voz de Deus deve ser constante no coração
do que é chamado ao ministério especial. Este é o sentido de 1 Tm. 3.1 onde
afirma estar presente no coração do que almeja ao episcopado, uma aspiração
celestial pois diz: Se alguém aspira ao episcopado, excelente obra
almeja.
Neste sentido Calvino nos ajuda:
Portanto, é aparentemente absurdo que os desejos
humanos antecipem a vocação divina. Porém, Paulo está falando de um desejo
piedoso que os homens consagrados possuem, ou seja, aplicar seu conhecimento da
doutrina para a edificação da igreja.
Jedeías Duarte acrescenta o seguinte comentário.
O chamado interno para o sagrado ministério decorre
de um amor a Deus que crescentemente leva o vocacionado a amar as almas dos
pecadores, inquietando-se pela ausência de obreiros suficientes para fazer a
colheita no seu momento da história e vendo a cada ação dentro do tempo uma
confirmação gradual da sua vocação tanto na vitória sobre os obstáculos quanto
na percepção genuína da grandeza da sua vocação. (Revista Fides Reformata).
O chamado é constante e repetitivo, como no caso de
Samuel, que ouve a voz de Deus insistentemente, que só cessa após ser atendida
(1 Sm 3).
Deus chama insistentemente o menino Samuel quatro
vezes (v. 4, 6, 8,10), e o chamaria cem vezes se fosse necessário). Os dons e a
vocação de Deus são irrevogáveis, nos ensina Paulo (Rm 11:29). Neste texto
Paulo fala do chamamento de Israel, de sua vocação espiritual, mas por extensão
fala do seu chamamento a cada um de nós.
Ele não desiste, pois não desistiu de chamar e usar
Jonas, quando este, após ouvir seu chamado se dispôs a fugir. Na hora certa ele
estava em Nínive cumprindo a vontade de Deus. Ele não desiste até ver sua
vontade executada.
É esta convicção interior que levará o vocacionado
a perseverar em seu ministério mesmo quando este se mostrar difícil. João
Batista é um dos melhores exemplos do que significa ter convicção de seu
chamado em face das barreiras, e no seu caso, diante da morte. E João 1.6,
lemos: “houve um homem enviado por Deus cujo nome era João”. Deus
queria que esse homem fosse o que foi, que falasse o que falou, que vivesse
como viveu.
Esta convicção de que, nós somos enviados por Deus,
que Deus tem um plano através de nós, nos move, nos direciona, e nos enche de
paixão pelo trabalho de Deus.
Não é tarefa fácil definir se a voz que nos fala é
de Deus ou dos homens. Moisés é o típico caso de alguém que relutou muito antes
de tomar o seu lugar no ministério de Deus. Ele argumentou sobre a sua
fragilidade diante de tão grande missão (Êx 3.11,12), a sua dificuldade em
provar ao povo que Deus de fato o tinha chamado e finalmente a sua incapacidade
na área de comunicação (Êx. 3. 1-22). Somente depois de vencidas todas estas
questões, ele se dispõe.
Após esta etapa nos ajuda Hannah Smith:
Ele tomará posse de nosso querer e operará por nós;
e que as suas sugestões nos virão, não tanto como ordens externas, mas como
desejos que brotem do interior… Ele escreve suas leis em nossos corações e em
nossas mentes, de modo que a nossa afeição e nosso entendimento as abraçam, e
somos atraídos para obedecer, em vez de sermos impelidos a isso (O Segredo para
uma vida feliz).
2- Uso dos dons ministeriais.
Uma pessoa chamada para o ministério deverá
apresentar alguns dos dons ministeriais descritos em Efésios 4.11, que diz:
E ele mesmo concedeu uns para apóstolos, outros
para profetas, outros para evangelistas e outros para pastores e mestres.
Aqui temos identificadas as várias facetas de um
ministério especial. Apóstolos (missionários), Profetas (pregadores),
Evangelistas, Pastores e Mestres. Uma pessoa vocacionada dará sinais visíveis
de um ou mais destes dons. Há quem entenda que todos estes cinco dons devem, em
maior ou menor proporção, estar presente em todos os chamados para o ministério
especial.
Quando, aqui no Seminário, um candidato se
apresenta para a entrevista com a finalidade de ingressar em um de nossos
cursos, fazemos algumas perguntas que consideramos essenciais que são: O
que você está fazendo na sua igreja local? Qual o seu ministério agora? Quais
são os seus dons e a sua disposição de usá-los antes de vir para o Seminário?
Dificilmente aceitaríamos alguém que não tenha dado
sinais positivos de serviço efetivo e uso dos dons ministeriais. O Seminário
não concede dons ao aluno, mas ajuda aquele que já os tem, a desenvolvê-los.
3- O Reconhecimento da Igreja Local
Jedeías nos ajuda novamente afirmando que além da
convicção interna do chamado para o ministério é necessário o reconhecimento da
igreja, que, ao aferir as evidências do chamado através dos dons, habilidades e
testemunho do futuro ministro, reconhece o seu chamado e cita Veith:
A igreja é o mecanismo externo da vocação. O
chamado possui características comunitárias e corporativas; sempre o chamado
ultrapassa o próprio indivíduo; o chamado é confirmado através da igreja; essa
confirmação que acontece primeiramente na consciência pessoal do vocacionado,
acontece também no seio da igreja na qual foi chamado, tornando claro o chamado
para o ofício eclesiástico e neste, o ministério pastoral. Esse mesmo chamado é
assistido pela Igreja; a gestação de uma vocação para um ofício acontece no
ventre da igreja, no convívio da comunidade local (Fides Reformata).
Apenas uma igreja doente não será capaz de
reconhecer o chamado de Deus para um de seus membros. Caso contrário, ela
saberá distinguir a voz de Deus chamando os seus para o trabalho. Em Atos
13.1-3 vemos a igreja de Antioquia respondendo a Deus positivamente na questão
da separação e envio daqueles que já eram, reconhecidamente, seus ministros. A
igreja não tomou a decisão de enviá-los ao campo, mas reconheceu neles a
vocação e entendeu o chamado de Deus para suas vidas. Haverá sempre um “Eli”
para dizer: É Deus quem chama o menino (1 Sm 3.8).
Há muitas vezes falhas na identificação da voz de
Deus por parte do homem, como aconteceu na chamada de Samuel: nas três
primeiras interpelações de Deus, houve falha no reconhecimento por parte de
Samuel (I Sm. 3:1-8), exatamente porque Samuel “ainda não conhecia a voz do
Senhor” v.7. Somente depois do auxílio de alguém, no caso o sacerdote Eli,
ele pôde, na quarta interpelação, reconhecer a chamada divina (3:10).
4 – O uso das Escrituras Sagradas.
Ainda que não seja usual hoje em dia o Senhor fazer
uma chamada usando diretamente as Escrituras, estas deverão ser o crivo para
toda decisão importante do que está sendo vocacionado.
Uma direção especial para uma pessoa deverá
obedecer aos princípios e critérios do que já estão revelados na Bíblia. A
decisão não pode contrariar o que a Palavra de Deus nos ensina como certo. Não
há melhor bússola para seguirmos do que ao que Deus já revelou.
5- O respeito às diferentes forma de chamada,
circunstância e propósito.
Como bem descreveu Jowett, ninguém pode definir ou
descrever a outrem a aparência e a forma da vocação divina… A natureza das
circunstâncias da nossa vocação a torra distinta e original.
Observemos como Deus age para que cada chamada seja
única e especial.
PESSOAS CHAMADAS
|
CIRCUNSTÂNCIAS
|
PROPÓSITO
|
1. Abraão
|
Acomodação em Ur
|
Formação de uma nação para ser uma bênção para todas as famílias da
Terra.
|
2. Moisés
|
Escravidão no Egito
|
Libertação do povo
|
3. Gideão
|
Malhando o trigo no lagar – ameaça dos midianitas.
|
“Ferirás os midianitas”
|
4. Samuel
|
Auxiliar no templo
Dormindo no templo
|
Julgamento do sacerdócio e confirmação como profeta
|
5. Isaías
|
Desvios de Judá e Jerusalém – Visão do Senhor entronizado no templo.
|
Condenação do pecado do povo e ameaças externas
|
6. Amós
|
Pastoreando o rebanho em Tecoa
|
Profetizar contra as transgressões do povo e as ameaças externas.
|
7. Davi
|
Pastoreando o rebanho de ovelhas
|
Ser rei sobre o povo de Israel
|
8. Paulo e
Barnabé
|
Servindo o Senhor na Igreja – Jejuando e orando. O Espírito Santo
separa e envia
|
Testificar de Jesus e evangelizar
|
Conquanto toda vocação tenha o seu aspecto comum e
geral, visto que é o mesmo Deus quem chama, ela tem peculiaridades advindas
deste mesmo Deus que é multiforme em sua sabedoria e graça (Efésios 3.10). Daí
entendermos a diversidade dos dons e dos serviços por Ele preparados.
6- A Necessidade de alimentar a vocação.
A vocação ministerial é o maior privilégio que uma
pessoa pode experimentar sobre a face da terra, no entanto não é uma tarefa
desprovida de dissabores. Vida e obra se misturarão, tornando uma só
pessoa, fazendo assim com que o serviço se torne parte da realização pessoal do
servo de Deus. Não haverá intervalo entre o homem e sua obra e ambos têm um
inimigo em comum, Satanás, que trabalhará para infligir ao que é chamado, um
espírito de desânimo, medo, e sentimentos semelhantes. A vara precisará sempre
estar ligada à videira para extrair a seiva de que necessitará para fazer o
trabalho de Deus (Jo 6.57). Deus deverá sempre ser o propulsor de nossos
ministérios e vidas. Sem ele nada poderemos fazer (Jo 15.5). Muitas forças
concorrerão para o desvio da chamada, no entanto há provisão divina para
corrermos a carreira cristã e esta passa pelo olhar ininterrupto à pessoa de
Jesus (Hb. 12. -1,2). A carreira somente poderá ser completada se olharmos firmemente
para o autor e consumador de nossa fé. Neste mesmo sentido ouçamos Esli
Faustino:
Um caso clássico e sempre lembrado por todos nós é
o caso de Jonas que chamado por Deus e comissionado para ir a Nínive, toma o
barco na direção errada, paga a passagem do próprio bolso, vai parar no porão
de um navio e acaba sendo atirado nas profundezas do mar como resultado da
desobediência à voz de Deus. Vemos pelo exemplo de Jonas que o caminho da fuga
leva sempre para baixo. É um caminho perigoso. Quando Deus chama e envia, Ele
mesmo, paga a passagem, mas quando tomamos o caminho da fuga pagamos a passagem
do próprio bolso (Jn. 1:3); – Quando Deus chama, Ele mesmo, coloca-nos sobre a
torre de vigia, em um lugar alto (Hab. 2:1), mas quando fugimos, acabamos em um
porão, dormindo profundamente (Jn. 1:5); – Quando Deus chama, Ele mesmo,
protege contra a fúria do mar, quando, porém, fugimos, somos atirados dentro do
mar agitado (Jn. 1:15). (Apostila – SETECEB).
Há tantas barreiras que podem tirar do vocacionado
a sua motivação: Falta de sustento e privações materiais (Fl 4.11), sofrimentos
advindos de abandonos (2 Tm 4.9-14), lobos vorazes que atacam o rebanho (Atos
20.29-30), perigos e sofrimentos físicos (2 Co 11.23), ameaças (Jr 29.26-29), e
muito mais.
Ouçamos ainda Faustino:
A Bíblia mostra-nos também que em face da natureza
da missão e dos conflitos com a realidade do mundo presente, caracterizado como
um sistema oposto ao governo de Deus (I Jo. 5:19, Mt. 4:8-9, Jo. 14:30, 16:11),
frequentemente os enviados são possuídos pelo sentimento de deserção da
responsabilidade: Moisés pede ao Senhor para riscar o seu nome do livro divino
(Ex. 32:32); Elias sentindo-se derrotado procura um refúgio na caverna tentando
salvar a sua própria vida (I Rs. 19:3-4); Jonas irritado pede o fim de sua vida
(4:1-3); Jeremias depois de reconhecer que foi dado à luz um homem de rixa
(15:10), amaldiçoa o dia do seu nascimento (20:14-18).(Apostila – SETECEB).
E Finalmente devemos destacar que em
última instância todo sofrimento de nosso ministério provém da natureza da
nossa vocação, que é ligada a Cristo. Sofremos por Cristo, com Cristo e em
Cristo (Lucas 6.22). É o nome dele que está em foco, não o nosso (Mc 13.13; Jo
15.21).
A vocação ministerial será alimentada pela ligação
com Deus na pessoa de seu filho. Este é o sentido das palavras de Paulo: O amor
de Cristo nos constrange (2 Co 5.14). Assim, ligado a Cristo poderemos dizer
como o mesmo apóstolo:
“Mas em nada tenho a minha vida como preciosa para
mim, contanto que complete a minha carreira e o ministério que recebi do Senhor
Jesus, para dar testemunho do evangelho da graça de Deus” At. 20:24.
“Combati o bom combate, acabei a carreira, guardei
a fé. Desde agora a coroa da justiça me está guardada, a qual o Senhor, justo
juiz, me dará naquele dia” II Tm. 4:7, 8a.
CONCLUSÃO
Conquanto seja claro que Deus tem um chamado
especial para alguns de sua igreja, estes não são maiores, nem menores, no
plano de Deus para o seu povo. Que cada um veja neste oficio de sacerdote
a responsabilidade de ministrar aos irmãos, de orar por eles e com eles; de
instruir pessoas na Palavra de Deus; de ajudar em suas fraquezas; de conduzir
pessoas a Cristo; de ser instrumento de Deus para abençoar vidas. Todos os
salvos devem servir a Deus com dedicação, como quem deita em um altar e se
consagra totalmente (Rm 12.1-2); Para os que são chamados para um ministério
especial a responsabilidade parece ser maior, pois como disse o próprio Senhor
Jesus, a quem muito foi dado, muito lhe será cobrado (Lc 12.48.).
Que todos nós possamos dizer as palavras de Stanley
Jones:
Minha vontade e a vontade de Deus não são coisas
diferentes, nem estranhas. Quando encontro a vontade dele, acho a minha própria
vontade. O pensamento de que a vontade de Deus está na mesma linha daquilo que
nos desagrada é falso. A vontade de Deus é sempre o nosso interesse supremo.
Não pode ser doutra maneira, e Deus é Deus. (O Caminho).
O fato é que o Senhor Jesus nos escolheu e nos designou para que produzamos muitos frutos e frutos que tenham um impacto eterno (João 15.16).
Como Deus não fica devendo nada a ninguém, há
recompensa pelo serviço prestado ao Senhor.
Esli Faustino analisando João 4.36 -O ceifeiro
recebe desde a recompensa e entesoura o seu fruto para a vida eterna; e
destarte se alegram, tanto o semeador como o ceifeiro- nos ensina o seguinte:
Esse versículo faz três grandes
afirmações: 1. Existe uma recompensa aqui e agora para os ceifeiros
ou enviados do Senhor. Naturalmente que nada substitui a consciência do dever
cumprido. Antes de tudo esta recompensa é interior e diz respeito ao nosso
relacionamento com Deus no foro íntimo da nossa consciência. A mesma promessa
está incluída por Jesus na palavra dos discípulos a respeito da recompensa que
teriam por abandonar tudo e seguir a Jesus (Cf. Mc. 10:28-30); 2. Existe
uma recompensa futura – “entesoura para a vida eterna” – o próprio exercício da
missão é considerado como lançar no tesouro reservas diante de Deus para a vida
futura no céu; 3. Existe um regozijo mútuo – “alegram-se tanto o
semeador como o ceifeiro” – o próprio trabalho traz alegria e segundo a Bíblia
provoca comoções de gozo até no céu (Lc. 15:9-10). Essas afirmações levam-nos a
indagar sobre a natureza do serviço que prestamos a Deus bem como a natureza do
serviço prestado (Apostila – SETECEB).
APÊNDICE II – DOIS DEPOIMENTOS HISTÓRICOS
1- Rev. Archibald Tipple
“A mim, o menor de todos os santos, me foi dada
esta graça de pregar aos gentios o evangelho das insondáveis riquezas de
Cristo” (Efésios 3:8).
E o ilustre pregador (sem jamais me conhecer, antes
ou depois de sua pregação), tendo anunciado este texto básico de seu sermão,
procedeu, sem misericórdia, a desmanchar, uma por uma, as minhas “boas razões”,
por que seria impossível para eu ir ao estrangeiro como missionário. (…)
Embora o meu interesse na causa missionária
aumentasse cada vez mais, concluí que me seria impossível ir ao estrangeiro
como missionário. Certamente eu estava determinado a fazer todo possível em
prol desta causa tão nobre. Talvez adquirisse uma casa comercial, como um ex-
colega fizera, e então consagrasse uma boa porcentagem dos lucros a este fim.
Ir pessoalmente? Isto não! Pois eu não tinha nenhum dom para qualificar-me à
tão sublime serviço. Não é impossível que o fato de eu estar apaixonado por uma
moça da igreja estivesse me influenciando nesta decisão! Esta ocupava lugar de
grande confiança na vida da igreja, sendo quase a mão direita do amado Dr.
Holden. Naturalmente, ela nunca iria ao estrangeiro como missionária. (…)
Se fosse o nosso ministro o pregador naquela
ocasião memorável, ainda teria sido possível que ele falasse a mim daquela
maneira, pois me conhecia intimamente; porém, quando aquele pregador estranho
esquadrinhou o meu coração e, tomando as minhas “boas razões”, uma por uma,
mostrou-me serem apenas desculpas e subterfúgios, tornou-se bem claro que, quem
falava não era ele próprio, e sim, o Espírito Santo. Fiz minha rendição
completa e incondicional.
(Rev. Archibald Tipple – Bandeirantes da Bíblia no Brasil Central pags. 3,4).
(Rev. Archibald Tipple – Bandeirantes da Bíblia no Brasil Central pags. 3,4).
2- Frederico Glass
“Acreditei no Senhor Jesus como meu Salvador
pessoal, e, ao levantar-me era já um pecador perdoado, nova criatura em Jesus
Cristo, no dia 20 junho de 1897”.
Depois desse momento comecei a sentir que havia
sido salvo para objetivo mais alto e maior do que as experiências auríferas e
sua refinação, e senti também que Deus tivera um propósito especial quando me
trouxe ao Brasil.
Não possuía o preparo necessário para o trabalho de
evangelização não era douto bastante na língua portuguesa; era muito tímido, e
finalmente, me sentia incapaz de enfrentar as lutas e privações que, bem sabia,
faziam parte da vida de qualquer verdadeiro missionário. (…) escondi-me,
contudo atrás do contrato… Até lá talvez o Senhor não precisasse dos meus
serviços… Esta atitude que tomei Deus não a poderia honrar… Fui envenenado
violentamente com hidrogênio. Fui levado para o hospital para morrer… Entre
envenenados, como fui, raramente se salva um em cada cem… Sem estar preso a
contrato e depois de difícil e considerável luta interna, eu abdiquei… Quiseram
renovar meu contrato, mas não consenti. Deixei a mina sem mesmo saber o que
poderia fazer e para onde iria… O caminho abriu-se imediatamente à minha
frente. As dificuldades que julgava do tamanho de montanhas e como tal
insuperáveis, desapareceram como névoa fina, ficando provado que todas as
minhas dúvidas eram ridículas, porque o Senhor me tomara para si… Descobri, em
seguida, que possuía uma grande dádiva de Deus, verdadeira capacidade para
vender Bíblias, coisa em que antes jamais pensara. Foi essa a época mais feliz
da minha vida.
(Frederico Glass – Aventuras com a Bíblia no
Brasil).
Pr.
Luiz César de Araújo.