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LIÇÕES DO CONFLITO ENTRE PAULO E BARNABÉ.






         Atos 15:36 – 41


E alguns dias depois, disse Paulo a Barnabé: Tornemos a visitar nossos irmãos por todas as cidades em que já anunciamos a palavra do Senhor, para ver como estão.
E Barnabé aconselhava que tomassem consigo a João, chamado Marcos.
Mas a Paulo parecia razoável que não tomassem consigo aquele que desde a Panfília se tinha apartado deles e não os acompanhou naquela obra.
E tal contenda houve entre eles, que se apartaram um do outro. Barnabé, levando consigo a Marcos, navegou para Chipre.
E Paulo, tendo escolhido a Silas, partiu, encomendado pelos irmãos à graça de Deus.
E passou pela Síria e Cilícia, confirmando as igrejas (Bíblia Sagrada - Atos 15:36-41).

Conflitos são inevitáveis. Mesmo em situações em que crentes maduros estão envolvidos, eles estão presentes. Eles acontecem em qualquer ambiente e entre qualquer grupo social. Como bem declara Janzen: Onde dois ou três se reúnem, há um conflito em vista. Conflitos simplesmente acontecem (JANZEN, 2007, p. 09).

O livro de Atos narra uma controvérsia entre Paulo e Pedro em um tempo em que parecia haver paz na igreja. Já havia passado a controvérsia sobre a circuncisão e uma resolução estava combinada. Somos informados sobre os trâmites deste conflito e a alegria da comunidade pela paz alcançada:

Tendo eles então se despedido, partiram para Antioquia e, ajuntando a multidão, entregaram a carta.
E, quando a leram, alegraram-se pela exortação.      
Depois Judas e Silas, que também eram profetas, exortaram e confirmaram os irmãos com muitas palavras.
E, detendo-se ali algum tempo, os irmãos os deixaram voltar em paz para os apóstolos;
Mas pareceu bem a Silas ficar ali.

E Paulo e Barnabé ficaram em Antioquia, ensinando e pregando, com muitos outros, a palavra do Senhor.  (Bíblia Sagrada - Atos 15:30-35).

Tudo estava bem, até que Paulo resolve voltar às cidades onde ele e Barnabé haviam pregado o evangelho durante a sua primeira viagem. Quando Barnabé quis levar João Marcos houve uma dissensão. Paulo não queria levar o jovem por causa da deserção deste no passado.

Estabelece-se então um conflito envolvendo Paulo, Barnabé e João Marcos. Paulo se recusava a levar João Marcos nesta viagem. O abandono deste da primeira missão deixou um reflexo muito negativo, na perspectiva de Paulo. Barnabé, por sua vez, queria dar-lhe nova oportunidade. Não houve acordo. Segundo Paulo, Marcos era muito novo e haveria perseguição pelo caminho. Faltava a João Marcos a força missionária.
Barnabé, no entanto, olhava com mais ternura para o jovem discípulo. Deve-se olhar as pessoas com os olhos de Deus, pensava ele. Marcos precisava de uma nova oportunidade. Não se poderia estigmatizar alguém.

Não houve acordo. Lucas narra assim a questão:

E tal contenda houve entre eles, que se apartaram um do outro. Barnabé, levando consigo a Marcos, navegou para Chipre (Bíblia Sagrada - Atos 15:39).
Houve entre estes líderes experimentados grande desavença, exaltação e extrema da paixão.

A paixão é um grande dificultador quando há conflitos.

A paixão pela obra dividia dois apóstolos. Muitas das divisões da igreja são frutos da paixão. Os que não rendem suas paixões a Deus acabam sempre provocando divisões.
O que nos surpreende, no entanto, é que nem Lucas, nem qualquer outro escritor do Novo Testamento, fazem um julgamento sobre este triste episódio. Não há nem aprovação, nem reprovação. O fato é citado sem que haja um erro ou um acerto de um dos lados. Relata-se apenas que, no final, a obra de Deus ainda avançaria, agora com duas equipes missionárias:

João Marcos, por sua vez, mais tarde, chegou a ser um bom servo de Deus, destacado pela sua utilidade ao trabalho:

Só Lucas está comigo. Toma Marcos, e traze-o contigo, porque me é muito útil para o ministério (Bíblia Sagrada - 2 Timóteo 4:11).

A vossa co-eleita em babilônia vos saúda, e meu filho Marcos (Bíblia Sagrada - 1Pedro 5:13).

Mesmo os autores bíblicos não terem tecido comentário crítico sobre este conflito podemos aprender muito com ele. Que lições podemos tirar de um episódio assim? Aproveitando as ideias dos pontos centrais de Teodoro Campos, descritas em seu magnífico artigo: “Quem tem razão, Paulo ou Barnabé?”, acrescentando a elas meus singelos comentários, bem como de outros autores (descritos na bibliografia) aponto cinco atitudes para vencermos nossa paixão desenfreada em tempos de conflitos. Vejamos:

1.    CONFLITOS SÃO RESULTADOS DE PECADO

Desde o Jardim do Édem, o pecado tem gerado na humanidade caída os conflitos. Timothy Lane e Paul Trippe, em seu livro: Relacionamentos (TRIPPE, 2011, p. 41 e 42) apontam para a origem deste conflito baseando-se na natureza pecaminosa do homem. Segundo eles este se estabelece por causa de alguns fatores inerentes à natureza pecaminosa do homem, tais como:

1.1 Egocentrismo

O homem rejeitou a Deus. Assim, criou-se dentro dele um vácuo permanente. O pecado o levará a preenchê-lo institivamente com ele mesmo. Se o homem é o seu próprio centro ele tentará de qualquer forma proteger os seus direitos.

1.2 Autorregência

Quando a sábia e amorosa regência de Deus sobre o homem é substituída pela autorregência, as outras pessoas se tornam apenas coadjuvantes e às vezes, súditos deste. Assim, se exige de outras pessoas a sujeição às suas ordens e a submissão ao seu controle.

1.3 Autossuficiência

Quando se rejeita a Deus o homem passa a acreditar na intoxicante, porém venenosa, ilusão de que não depende de ninguém. O melhor fundamento para um relacionamento é a dependência de Deus.

1.4 Autojustificação

Se a santidade de Deus não for o padrão do homem, ele tentará ser o seu próprio padrão.  A pessoa que se acha justificada e que nega a sua própria necessidade estará sempre em conflitos com o seu próximo.

1.5 Autossatisfação

Quando o homem se convence de que satisfação e realização podem ser encontradas fora de Deus, ele segue em duas direções a partir de então. Se alguém encontra satisfação em cosias materiais, não estará interessado em relacionamento ou apenas os usará para conseguir aquilo que quer. Se alguém encontra satisfação em outras pessoas, usará os relacionamentos para sua própria felicidade.


1.6 Auto ensino

Quando o homem é a sua própria fonte da verdade e sabedoria, ele abre mão do espírito de aprendiz humilde, vital para um bom relacionamento com o próximo. Este será sempre o mentor em seu relacionamento e passará a impressão de que tem pouco ou nada a prender dos outros. O pecado volta a nossa atenção para dentro. Quando o amor por Deus é substituído pelo amor por nós mesmos, vemos nos outros os obstáculos que nos impedem de atingir nossos alvos ou meios para promovê-los. O auto interesse pecaminoso vira os dois grandes mandamentos de cabeça para baixo: Em vez de amarmos a Deus e usarmos os seus donos para servir aos outros, nós passamos a amar os donos e a usar as pessoas para consegui-los.

Enfim, os comentários acima nos indicam  que os conflitos são amostras de nossa natureza pecaminosa. Mesmo as Escrituras não apontando esta desavença entre Paulo e Barnabé como um erro, não a aponta como uma virtude ou como um modelo a ser seguido. Não há nenhum estímulo para que sigamos os mesmos passos destes dois líderes da igreja primitiva.

No entanto, devemos olhar mais amplamente do que para este caso e perceber o quanto os conflitos são reflexos e frutos de nossa natureza caída. Talvez seja por isso que somos informados de uma paz perene no novo céu e na nova terra:

Porque ele é a nossa paz, o qual de ambos os povos fez um; e, derrubando a parede de separação que estava no meio,
Na sua carne desfez a inimizade, isto é, a lei dos mandamentos, que consistia em ordenanças, para criar em si mesmo dos dois um novo homem, fazendo a paz,
E pela cruz reconciliar ambos com Deus em um corpo, matando com ela as inimizades.

E, vindo, ele evangelizou a paz, a vós que estáveis longe, e aos que estavam perto (Bíblia Sagrada - Efésios 2:14-17).

2.    NOS CONFLITOS A MAIOR FORTALEZA PODE SE TORNAR A MAIOR DEBILIDADE.

O melhor de nós pode ser tornar o pior se não nos submetemos à unidade do Espírito Santo.

Paulo e Barnabé ilustram bem esta questão neste episódio.

Paulo era uma pessoa lógica, racional, sempre pronta a promover a unidade da igreja. Vários de seus escritos descrevem a intensidade de seu coração em buscar a unidade do corpo de Cristo:

Rogo-vos, pois, eu, o preso do Senhor, que andeis como é digno da vocação com que fostes chamados,
Com toda a humildade e mansidão, com longanimidade, suportando-vos uns aos outros em amor,
Procurando guardar a unidade do Espírito pelo vínculo da paz.
Há um só corpo e um só Espírito, como também fostes chamados em uma só esperança da vossa vocação;     
Um só Senhor, uma só fé, um só batismo;

Um só Deus e Pai de todos, o qual é sobre todos, e por todos e em todos vós (Bíblia Sagrada - Efésios 4:1-6).

Jesus já havia demonstrado esta intenção para a sua igreja.

Para que todos sejam um, como tu, ó Pai, o és em mim, e eu em ti; que também eles sejam um em nós, para que o mundo creia que tu me enviaste.
E eu dei-lhes a glória que a mim me deste, para que sejam um, como nós somos um.
Eu neles, e tu em mim, para que eles sejam perfeitos em unidade, e para que o mundo conheça que tu me enviaste a mim, e que os tens amado a eles como me tens amado a mim.
Pai, aqueles que me deste quero que, onde eu estiver, também eles estejam comigo, para que vejam a minha glória que me deste; porque tu me amaste antes da fundação do mundo.
Pai justo, o mundo não te conheceu; mas eu te conheci, e estes conheceram que tu me enviaste a mim.

E eu lhes fiz conhecer o teu nome, e lho farei conhecer mais, para que o amor com que me tens amado esteja neles, e eu neles esteja (Bíblia Sagrada - João 17:21-26).

Mesmo tento este sentimento Paulo se distanciou da unidade da igreja desentendendo-se com um de seus  mais chegado irmão e companheiro de ministério.

Barnabé, por sua vez, fez o mesmo. Este que era tido como um alicerce, um conciliador, um consolador, queria levar João Marcos e não pensou na unidade.

O melhor deles se tornou armas que os denunciavam.

Que lições preciosas podemos aprender aqui. A história tem demonstrado que homens de mentes privilegiadas podem se tornar os maiores empecilhos para a paz da igreja. Os concílios eclesiásticos são prova da força exercida para alguns líderes, tanto para a unidade quanto para a divisão. O melhor de nós, usado sem a submissão ao Espírito Santo, muito pode causar danos à igreja de Jesus. Uma liderança forte tanto pode alavancar o trabalho de Deus como pode destruí-lo.  Talvez possamos aqui aplicar o ensinamento de Tiago quando se refere ao poder da língua. Semelhantemente esta tanto pode edificar quanto destruir:

Porque toda a natureza, tanto de bestas feras como de aves, tanto de répteis como de animais do mar, se amansa e foi domada pela natureza humana;
Mas nenhum homem pode domar a língua. É um mal que não se pode refrear; está cheia de peçonha mortal.
Com ela bendizemos a Deus e Pai, e com ela amaldiçoamos os homens, feitos à semelhança de Deus.
De uma mesma boca procede bênção e maldição. Meus irmãos, não convém que isto se faça assim.
Porventura deita alguma fonte de um mesmo manancial água doce e água amargosa?
Meus irmãos, pode também a figueira produzir azeitonas, ou a videira figos? Assim tampouco pode uma fonte dar água salgada e doce. 
Quem dentre vós é sábio e entendido? Mostre pelo seu bom trato as suas obras em mansidão de sabedoria.
Mas, se tendes amarga inveja, e sentimento faccioso em vosso coração, não vos glorieis, nem mintais contra a verdade. 
Essa não é a sabedoria que vem do alto, mas é terrena, animal e diabólica.
Porque onde há inveja e espírito faccioso aí há perturbação e toda a obra perversa.

Mas a sabedoria que do alto vem é, primeiramente pura, depois pacífica, moderada, tratável, cheia de misericórdia e de bons frutos, sem parcialidade, e sem hipocrisia (Bíblia Sagrada - Tiago 3:7-17).

O melhor de Paulo, a mente lógica, e o melhor de Barnabé, o poder de catalisar, se tornou o pior deles.


3.    NOS CONFLITOS O OBJETIVO DEVE SER O AMOR E A HUMILDADE

Os conflitos sempre existirão, no entanto, o amor e a humildade devem ser a chave para vencê-los. A diferença de opiniões, de pensamentos e de sentimentos, antes de nos dividir, devem ser fatores de nosso crescimento. Os dons do Espírito, por exemplo, conquanto diversos, promovem o crescimento e a unidade da igreja. Vejamos o seguinte texto:
Ora, há diversidade de dons, mas o Espírito é o mesmo.      
E há diversidade de ministérios, mas o Senhor é o mesmo.
E há diversidade de operações, mas é o mesmo Deus que opera tudo em todos.

Mas a manifestação do Espírito é dada a cada um, para o que for útil (Bíblia Sagrada - 1 Coríntios 12:4-7).

Devemos ser capazes de amar as pessoas mesmo desprezando suas ações. Paulo tinha razão em duvidar da força missionária de João Marcos. Ele presenciara a sua deserção na primeira viagem, no entanto, ele não foi capaz de olhar, pelo menos naquele momento, além das falhas e ser amoroso com o jovem discípulo. Se buscarmos em primeiro lugar amar o que se diferencia de nós, com certeza teremos unidade. A Bíblia é clara quando fala do amor de Deus para conosco e como deve ser o nosso amor para com Ele e para com o próximo.

Nisto está o amor, não em que nós tenhamos amado a Deus, mas em que ele nos amou a nós, e enviou seu Filho para propiciação pelos nossos pecados.
Amados, se Deus assim nos amou, também nós devemos amar uns aos outros.

Ninguém jamais viu a Deus; se nos amamos uns aos outros, Deus está em nós, e em nós é perfeito o seu amor (Bíblia Sagrada - 1 João 4:10-12).

Um segundo aspecto tão importante em tempo de conflito é a humildade. Sem esta não haverá qualquer possibilidade de construção de uma paz na igreja de Cristo. Neste ponto temos o Senhor Jesus como o nosso melhor modelo:

De sorte que haja em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus,
Que, sendo em forma de Deus, não teve por usurpação ser igual a Deus,
Mas esvaziou-se a si mesmo, tomando a forma de servo, fazendo-se semelhante aos homens;

E, achado na forma de homem, humilhou-se a si mesmo, sendo obediente até à morte, e morte de cruz (Bíblia Sagrada - Filipenses 2:5-8).

Em Jesus encontramos não somente o nosso melhor modelo de humildade mas também os recursos para a implantação de uma cultura de paz na igreja.
 Novamente nos reportando à história da igreja, podemos observar o quanto a falta de humildade produz divisões e crises, às vezes irreconciliáveis. Igrejas e até denominações tiveram divisões históricas pela predominância de espíritos orgulhosos e vaidosos que não se importaram com a sua unidade.  Neste sentido, Tanto Paulo quanto Barnabé nada nos instruem. Armados de seus argumentos deixaram aflorar uma crise que somente não foi maior por causa das misericórdias de Deus revelados no fato e pela aparente concordância, depois de anos, da utilidade de João Marcos no ministério de Paulo.
Só Lucas está comigo. Toma Marcos, e traze-o contigo, porque me é muito útil para o ministério (Bíblia Sagrada - 2 Timóteo 4:11).

Talvez aqui, no fato de Paulo solicitar a ajuda de João Marcos, esteja um princípio muito importante, o da restituição. No caso não se trata de algo material, mas de uma restituição moral. Com certeza Marcos falhara abandonando a campanha evangelística, e talvez Paulo também o tenha feito ao desprezar a sua companhia na segunda viagem, mas tudo foi devidamente colocado em ordem. Janzem trabalha muito esta questão da restituição. Ele afirma o seguinte:

Perdoar alguém não significa suprimir a sua responsabilidade pelos atos, livrando-o, assim, da restituição. Depois ela faz parte do processo de cura do relacionamento, pois demonstra arrependimento, sinceridade e uma nova atitude. Além disso, serve como uma lição de vida, porque pode ajudar a pessoa que causou o dano a decidir evitar erros semelhantes no futuro. “No entanto, também é uma oportunidade para a parte lesada fazer o uso da misericórdia e, em alguns casos, isentar a pessoa do pagamento da dívida” (JANZEN, 2007, p. 190.).

4.    NOS CONFLITOS DEVE-SE CONSIDERAR AS DEBILIDADES E NÃO OS ARGUMENTOS

Geralmente durante os conflitos somos propensos a analisar nossos argumentos e não as nossas debilidades. Se os argumentos nos são satisfatórios os defendemos sem analisar a nossa fraqueza ao fazê-lo. O poder de nossa posição não é o que nos vai trazer problemas e sim nossas debilidades. Paulo e Barnabé têm argumentos fortíssimos. Paulo olhou a causa e esta requereria pessoas destemidas, fortes, que não se acovardassem. Barnabé por sua vez olhou a pessoa e viu o que Deus poderia fazer através de João Marcos. Os argumentos são bons mas os que os defendiam esqueceram-se de sua fragilidade.

 Em outra circunstância Paulo descreve esta verdade claramente quando apresenta sua defesa à igreja de Corinto.

O velho apóstolo tem argumentos fortíssimos para defender seu ministério e apostolado. Ele tem argumentos fortíssimos para se defender:

Em verdade que não convém gloriar-me; mas passarei às visões e revelações do Senhor.
Conheço um homem em Cristo que há catorze anos (se no corpo, não sei, se fora do corpo, não sei; Deus o sabe) foi arrebatado ao terceiro céu.
E sei que o tal homem (se no corpo, se fora do corpo, não sei; Deus o sabe)
Foi arrebatado ao paraíso; e ouviu palavras inefáveis, que ao homem não é lícito falar.
De alguém assim me gloriarei eu, mas de mim mesmo não me gloriarei, senão nas minhas fraquezas.

Porque, se quiser gloriar-me, não serei néscio, porque direi a verdade; mas deixo isto, para que ninguém cuide de mim mais do que em mim vê ou de mim ouve (Bíblia Sagrada - 2 Coríntios 12:1-6).

No entanto ele olha para as suas debilidades e se humilha:

E, para que não me exaltasse pela excelência das revelações, foi-me dado um espinho na carne, a saber, um mensageiro de Satanás para me esbofetear, a fim de não me exaltar.
Acerca do qual três vezes orei ao Senhor para que se desviasse de mim.
E disse-me: A minha graça te basta, porque o meu poder se aperfeiçoa na fraqueza. De boa vontade, pois, me gloriarei nas minhas fraquezas, para que em mim habite o poder de Cristo.

Por isso sinto prazer nas fraquezas, nas injúrias, nas necessidades, nas perseguições, nas angústias por amor de Cristo. Porque quando estou fraco então sou forte (Bíblia Sagrada - 2 Coríntios 12:7-10).

Tanto Paulo quanto Barnabé tem razão em seus argumentos, mas deixam levar pela paixão que os dominava.

Timothy Lane e Paulo Tripp contribuem com esta ideia com o seguinte argumento:

Pense na outra pessoa. Ao passo que seu coração é reconquistado pela graça de Deus, pergunte-se como seria empenhar-se num conflito sagrado. Você precisa ir atrás de alguém e confrontá-lo? Você precisa ter paciência e encorajá-lo? Você precisa ignorar uma ofensa? Quais são os pecados e as fraquezas que você precisa levar em consideração quando decidir o seu próximo passo? Em 1 Tessalonicenses, o apóstolo Paulo, com muito amor, encoraja a igreja a empenhar-se em conflitos sagrados uns com os outros. Nos versículos 14-18 do capítulo 5, Paulo diz que existem diferentes maneiras de confrontar alguém, baseadas nas necessidades daquela pessoa e daquilo que a edificará. Há uma hora certa para advertir, encorajar e ajudar a pessoa com quem estamos em conflito. Somos chamados a sermos sempre pacientes e renunciar à vingança (TRIPP, 2011, p.).

Paulo e Barnabé aparentemente firmaram-se em suas causas e esqueceram-se de suas debilidades, o que causou a divisão entre eles.


5.    NOS CONFLITOS DEVE-SE ANALISAR QUE PECADOS DEUS ESTÁ REVELANDO

A nossa natureza caída estará sempre presente em tudo o que fazemos. Mesmo quando, aos nossos olhos, nos entendemos debaixo da completa orientação de Deus, há possibilidade de pecarmos no que fazemos.  O texto bíblico não nos revela claramente os erros destes dois líderes da igreja. Sabemos tão somente que houve um desentendimento, uma “tal desavença” (Atos 16.39), que, conquanto não receba nenhuma repreensão de Deus, também não recebe louvores. No entanto, partindo do princípio de que o pecado está sempre presente em nossa natureza devemos sempre analisar quando ele se manifesta. Neste caso demos nos perguntar que pecado, ou pecados, Deus quer revelar a nós em tempo de conflitos.

Ken Sande muito nos ajuda ao apontar o que chama de A Colina Escorregadia do Conflito como reações pecaminosas durante o mesmo. Segundo ele Há três maneiras básicas com que as pessoas reagem ao conflito: Fuga, Ataque ou Pacificação. Tanto a fuga quanto o ataque são manifestações negativas, fruto do pecado e a exteriorização do velho homem que habita em nós. E continua:

Se você deseja ficar no topo desse terreno escorregadio, (que é onde se encontra a pacificação) precisa fazer duas coisas. Em primeiro lugar, peça a Deus que o ajude a resistir à inclinação natural de fugir ou atacar quando diante de um conflito. Em segundo lugar, peça a Deus que o ajude a desenvolver a habilidade de colocar em prática o evangelho, usando a reação de pacificação, que é mais adequada para resolver um conflito em particular.  (SAND, 2004, p. 23).


O cristão sincero deve, à luz da orientação de Deus, averiguar seu próprio coração e verificar quais são os pecados que Deus quer revelar em tempos de crise e especialmente em tempo de conflito. Cada um precisará analisar suas próprias inclinações e debilidades, verificando, humildemente o que Deus quer revelar e transformar em tempos assim.

Da mesma forma, ao buscarmos a pacificação entre aqueles aos quais ministramos devemos, da mesma forma, trabalhar a natureza pecaminosa que toma corpo durante o conflito.

Tiago nos mostra que o conflito passará necessariamente pela ação da velha natureza em nós. Adverte-nos ele:

De onde vêm as guerras e pelejas entre vós? Porventura não vêm disto, a saber, dos vossos deleites, que nos vossos membros guerreiam? (Bíblia Sagrada - Tiago 4:1).

Alfred Poirier desenvolve excelente estudo sobre a aplicação deste texto em situações de conflito. Para ele a natureza de todos os conflitos está em uma exacerbação do pecado humano. E argumenta:

Nós tipicamente respondemos o porquê do conflito com um quem. “Por que estão brigando?” Ao ouvir essa pergunta imediatamente apontamos para alguém, nossos filhos, nosso cônjuge, ou algum irmão ou irmã em Cristo. Culpamos nosso chefe, nosso pastor, ou mesmo um colega do trabalho. Mas Tiago nos diz que o conflito não procede dele ou dela, mas sim de nós mesmos. Meus prazeres são a causa do conflito. Eles colocam-se acima e contra os prazeres dos outros. Portanto, a fonte do conflito não está em algo que me falta ou algo de que eu preciso, mas sim naquilo que desejo, meus prazeres. Na verdade, não somos taças vazias que precisam ser cheias. Somos taças que transbordam de arrogância, ambições, presunção e de desejos egoístas. Da mesma forma, podemos dizer que nosso coração não está vazio, passivo, mas sim plenamente ativo e cheio até a boca, transbordante. (POIRIER, 2011, p. 54.).


Não somos informados sobre quais as motivações pecaminosas Paulo e Barnabé manifestaram. Não temos autorização bíblica nem mesmo para afirmar que houve pecado ali. No entanto houve uma desavença tal, narrada pela Escritura, o que poderia apenas sugerir algum pecado. No entanto, independentemente de qualquer julgamento, partimos de outros textos, e especialmente o de Tiago, que nos mostra como a natureza adâmica sempre age em tempo de conflitos. Há sempre pecado em nós a ser revelado, confessado e abandonado aos pés de Cristo.

CONCLUSÃO

Quem tem razão, Paulo ou Barnabé? Conquanto nos pareça difícil qualquer julgamento, pois a própria Bíblia não o faz, poderíamos nos permitir uma opinião: Os dois, quando analisamos suas paixões. Nenhum quando se avaliamos as suas atitudes.
Os argumentos eram bons, mas a atitude nem tanto. Conquanto a obra de Deus avançasse, agora com duas duplas missionárias, e mesmo tendo João Marcos se redimido de seu erro na primeira viagem, não temos princípios bíblicos que abonem a conduta de Paulo e Barnabé. O princípio da unidade, tão bem descritos na Bíblia, parece não terem sido observados a rigor.

Devemos, no entanto, em vista da Bíblia não omitir uma situação assim, tirar lições preciosas como as que cito acima e muitas outras a serem descobertas e descritas.
O Salmo 133 parece propício para terminar tais observações. Que Deus nos ajude, que nos dê sabedoria espiritual para aprendermos tanto com os acertos quanto com os erros do outros, e finalmente vivermos em união.

Oh! Quão bom e quão suave é que os irmãos vivam em união.
É como o óleo precioso sobre a cabeça, que desce sobre a barba, a barba de Arão, e que desce à orla das suas vestes.   
Como o orvalho de Hermom, e como o que desce sobre os montes de Sião, porque ali ordena a bênção e a vida para sempre.·.



                                                                                                        Pr. Luiz César



REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

JANZEN, Ernst Werner. Conflitos: Oportunidade ou perigo? Curitiba: Editora Esperança, 2007.
POIER, Alfred. O pastor pacificador: Um guia bíblico para a solução de conflitos na igreja. São Paulo: Vida Nova, 2011.
TRIPP Paul e LANE, Timothy. Relacionamentos: Uma confusão que vale a pena. São Paulo: Cultura Cristã, 2011.
SANDE, Ken. O pacificador. Rio de janeiro: Casa Publicadora das Assembleias de Deus, 2011.



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Pr. Luiz César : LIÇÕES DO CONFLITO ENTRE PAULO E BARNABÉ.
LIÇÕES DO CONFLITO ENTRE PAULO E BARNABÉ.
Pr. Luiz César
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