Atos 15:36 – 41
E alguns dias
depois, disse Paulo a Barnabé: Tornemos a visitar nossos irmãos por todas as
cidades em que já anunciamos a palavra do Senhor, para ver como estão.
E Barnabé
aconselhava que tomassem consigo a João, chamado Marcos.
Mas a Paulo
parecia razoável que não tomassem consigo aquele que desde a Panfília se tinha
apartado deles e não os acompanhou naquela obra.
E tal
contenda houve entre eles, que se apartaram um do outro. Barnabé, levando
consigo a Marcos, navegou para Chipre.
E Paulo,
tendo escolhido a Silas, partiu, encomendado pelos irmãos à graça de Deus.
E passou pela
Síria e Cilícia, confirmando as igrejas (Bíblia Sagrada - Atos 15:36-41).
Conflitos são inevitáveis. Mesmo em situações em que crentes
maduros estão envolvidos, eles estão presentes. Eles acontecem em qualquer
ambiente e entre qualquer grupo social. Como bem declara Janzen: Onde dois ou três se reúnem, há um conflito
em vista. Conflitos simplesmente acontecem (JANZEN, 2007, p. 09).
O livro de Atos narra uma controvérsia entre Paulo e Pedro em um
tempo em que parecia haver paz na igreja. Já havia passado a controvérsia sobre
a circuncisão e uma resolução estava combinada. Somos informados sobre os
trâmites deste conflito e a alegria da comunidade pela paz alcançada:
Tendo eles
então se despedido, partiram para Antioquia e, ajuntando a multidão, entregaram
a carta.
E,
quando a leram, alegraram-se pela exortação.
Depois Judas
e Silas, que também eram profetas, exortaram e confirmaram os irmãos com muitas
palavras.
E, detendo-se
ali algum tempo, os irmãos os deixaram voltar em paz para os apóstolos;
Mas
pareceu bem a Silas ficar ali.
E Paulo e
Barnabé ficaram em Antioquia, ensinando e pregando, com muitos outros, a
palavra do Senhor. (Bíblia Sagrada - Atos
15:30-35).
Tudo estava bem, até que Paulo resolve voltar às cidades onde ele
e Barnabé haviam pregado o evangelho durante a sua primeira viagem. Quando
Barnabé quis levar João Marcos houve uma dissensão. Paulo não queria levar o
jovem por causa da deserção deste no passado.
Estabelece-se então um conflito envolvendo Paulo, Barnabé e João
Marcos. Paulo se recusava a levar João Marcos nesta viagem. O abandono deste da
primeira missão deixou um reflexo muito negativo, na perspectiva de Paulo.
Barnabé, por sua vez, queria dar-lhe nova oportunidade. Não houve acordo. Segundo
Paulo, Marcos era muito novo e haveria perseguição pelo caminho. Faltava a João
Marcos a força missionária.
Barnabé, no entanto, olhava com mais ternura para o jovem
discípulo. Deve-se olhar as pessoas com os olhos de Deus, pensava ele. Marcos
precisava de uma nova oportunidade. Não se poderia estigmatizar alguém.
Não houve acordo. Lucas narra assim a questão:
E tal contenda houve entre eles, que se apartaram um do outro.
Barnabé, levando consigo a Marcos, navegou para Chipre (Bíblia Sagrada - Atos
15:39).
Houve entre estes líderes experimentados grande desavença,
exaltação e extrema da paixão.
A paixão é um grande dificultador quando há conflitos.
A paixão pela obra dividia dois apóstolos. Muitas das divisões da
igreja são frutos da paixão. Os que não rendem suas paixões a Deus acabam
sempre provocando divisões.
O que nos surpreende, no entanto, é que nem Lucas, nem qualquer
outro escritor do Novo Testamento, fazem um julgamento sobre este triste
episódio. Não há nem aprovação, nem reprovação. O fato é citado sem que haja um
erro ou um acerto de um dos lados. Relata-se apenas que, no final, a obra de
Deus ainda avançaria, agora com duas equipes missionárias:
João Marcos, por sua vez, mais tarde, chegou a ser um bom servo de
Deus, destacado pela sua utilidade ao trabalho:
Só
Lucas está comigo. Toma Marcos, e traze-o contigo, porque me é muito útil para
o ministério (Bíblia Sagrada - 2 Timóteo 4:11).
A
vossa co-eleita em babilônia vos saúda, e meu filho Marcos (Bíblia Sagrada - 1Pedro
5:13).
Mesmo os autores bíblicos não terem tecido comentário crítico
sobre este conflito podemos aprender muito com ele. Que lições podemos tirar de
um episódio assim? Aproveitando as ideias dos pontos centrais de Teodoro
Campos, descritas em seu magnífico artigo: “Quem tem razão, Paulo ou Barnabé?”,
acrescentando a elas meus singelos comentários, bem como de outros autores
(descritos na bibliografia) aponto cinco atitudes para vencermos nossa paixão
desenfreada em tempos de conflitos. Vejamos:
1. CONFLITOS SÃO RESULTADOS DE PECADO
Desde o Jardim do Édem, o pecado tem gerado na humanidade caída os
conflitos. Timothy Lane e Paul Trippe, em seu livro: Relacionamentos (TRIPPE,
2011, p. 41 e 42) apontam para a origem deste conflito baseando-se na natureza
pecaminosa do homem. Segundo eles este se estabelece por causa de alguns
fatores inerentes à natureza pecaminosa do homem, tais como:
1.1
Egocentrismo
O homem rejeitou a Deus. Assim, criou-se dentro dele um vácuo
permanente. O pecado o levará a preenchê-lo institivamente com ele mesmo. Se o
homem é o seu próprio centro ele tentará de qualquer forma proteger os seus
direitos.
1.2
Autorregência
Quando a sábia e amorosa regência de Deus sobre o homem é
substituída pela autorregência, as outras pessoas se tornam apenas coadjuvantes
e às vezes, súditos deste. Assim, se exige de outras pessoas a sujeição às suas
ordens e a submissão ao seu controle.
1.3
Autossuficiência
Quando se rejeita a Deus o homem passa a acreditar na intoxicante,
porém venenosa, ilusão de que não depende de ninguém. O melhor fundamento para
um relacionamento é a dependência de Deus.
1.4
Autojustificação
Se a santidade de Deus não for o padrão do homem, ele tentará ser
o seu próprio padrão. A pessoa que se
acha justificada e que nega a sua própria necessidade estará sempre em
conflitos com o seu próximo.
1.5
Autossatisfação
Quando o homem se convence de que satisfação e realização podem
ser encontradas fora de Deus, ele segue em duas direções a partir de então. Se
alguém encontra satisfação em cosias materiais, não estará interessado em
relacionamento ou apenas os usará para conseguir aquilo que quer. Se alguém
encontra satisfação em outras pessoas, usará os relacionamentos para sua
própria felicidade.
1.6
Auto ensino
Quando o homem é a sua própria fonte da verdade e sabedoria, ele
abre mão do espírito de aprendiz humilde, vital para um bom relacionamento com
o próximo. Este será sempre o mentor em seu relacionamento e passará a
impressão de que tem pouco ou nada a prender dos outros. O pecado volta a nossa
atenção para dentro. Quando o amor por Deus é substituído pelo amor por nós
mesmos, vemos nos outros os obstáculos que nos impedem de atingir nossos alvos
ou meios para promovê-los. O auto interesse pecaminoso vira os dois grandes
mandamentos de cabeça para baixo: Em vez de amarmos a Deus e usarmos os seus
donos para servir aos outros, nós passamos a amar os donos e a usar as pessoas
para consegui-los.
Enfim, os comentários acima nos indicam que os conflitos são amostras de nossa
natureza pecaminosa. Mesmo as Escrituras não apontando esta desavença entre
Paulo e Barnabé como um erro, não a aponta como uma virtude ou como um modelo a
ser seguido. Não há nenhum estímulo para que sigamos os mesmos passos destes
dois líderes da igreja primitiva.
No entanto, devemos olhar mais amplamente do que para este caso e
perceber o quanto os conflitos são reflexos e frutos de nossa natureza caída.
Talvez seja por isso que somos informados de uma paz perene no novo céu e na
nova terra:
Porque ele é
a nossa paz, o qual de ambos os povos fez um; e, derrubando a parede de
separação que estava no meio,
Na sua carne
desfez a inimizade, isto é, a lei dos mandamentos, que consistia em ordenanças,
para criar em si mesmo dos dois um novo homem, fazendo a paz,
E pela cruz
reconciliar ambos com Deus em um corpo, matando com ela as inimizades.
E, vindo, ele
evangelizou a paz, a vós que estáveis longe, e aos que estavam perto (Bíblia
Sagrada - Efésios 2:14-17).
2. NOS CONFLITOS A MAIOR FORTALEZA PODE SE TORNAR A
MAIOR DEBILIDADE.
O melhor de nós pode ser tornar o pior se não nos submetemos à
unidade do Espírito Santo.
Paulo e Barnabé ilustram bem esta questão neste episódio.
Paulo era uma pessoa lógica, racional, sempre pronta a promover a
unidade da igreja. Vários de seus escritos descrevem a intensidade de seu coração
em buscar a unidade do corpo de Cristo:
Rogo-vos,
pois, eu, o preso do Senhor, que andeis como é digno da vocação com que fostes
chamados,
Com toda a
humildade e mansidão, com longanimidade, suportando-vos uns aos outros em amor,
Procurando
guardar a unidade do Espírito pelo vínculo da paz.
Há um só
corpo e um só Espírito, como também fostes chamados em uma só esperança da
vossa vocação;
Um só Senhor,
uma só fé, um só batismo;
Um só Deus e
Pai de todos, o qual é sobre todos, e por todos e em todos vós (Bíblia Sagrada
- Efésios 4:1-6).
Jesus já havia demonstrado esta intenção para a sua igreja.
Para que
todos sejam um, como tu, ó Pai, o és em mim, e eu em ti; que também eles sejam
um em nós, para que o mundo creia que tu me enviaste.
E eu dei-lhes
a glória que a mim me deste, para que sejam um, como nós somos um.
Eu neles, e
tu em mim, para que eles sejam perfeitos em unidade, e para que o mundo conheça
que tu me enviaste a mim, e que os tens
amado a eles como me tens amado a mim.
Pai, aqueles
que me deste quero que, onde eu estiver, também eles estejam comigo, para que
vejam a minha glória que me deste; porque tu me amaste antes da fundação do
mundo.
Pai justo, o
mundo não te conheceu; mas eu te conheci, e estes conheceram que tu me enviaste
a mim.
E eu lhes fiz
conhecer o teu nome, e lho farei conhecer mais, para que o amor com que me tens
amado esteja neles, e eu neles esteja (Bíblia Sagrada - João 17:21-26).
Mesmo tento este sentimento Paulo se distanciou da unidade da
igreja desentendendo-se com um de seus
mais chegado irmão e companheiro de ministério.
Barnabé, por sua vez, fez o mesmo. Este que era tido como um
alicerce, um conciliador, um consolador, queria levar João Marcos e não pensou
na unidade.
O melhor deles se tornou armas que os denunciavam.
Que lições preciosas podemos aprender aqui. A história tem
demonstrado que homens de mentes privilegiadas podem se tornar os maiores
empecilhos para a paz da igreja. Os concílios eclesiásticos são prova da força
exercida para alguns líderes, tanto para a unidade quanto para a divisão. O
melhor de nós, usado sem a submissão ao Espírito Santo, muito pode causar danos
à igreja de Jesus. Uma liderança forte tanto pode alavancar o trabalho de Deus
como pode destruí-lo. Talvez possamos
aqui aplicar o ensinamento de Tiago quando se refere ao poder da língua.
Semelhantemente esta tanto pode edificar quanto destruir:
Porque toda a
natureza, tanto de bestas feras como de aves, tanto de répteis como de animais
do mar, se amansa e foi domada pela natureza humana;
Mas nenhum
homem pode domar a língua. É um mal que não se pode refrear; está cheia de
peçonha mortal.
Com ela
bendizemos a Deus e Pai, e com ela amaldiçoamos os homens, feitos à semelhança
de Deus.
De uma mesma
boca procede bênção e maldição. Meus irmãos, não convém que isto se faça assim.
Porventura
deita alguma fonte de um mesmo manancial água doce e água amargosa?
Meus irmãos,
pode também a figueira produzir azeitonas, ou a videira figos? Assim tampouco
pode uma fonte dar água salgada e doce.
Quem dentre
vós é sábio e entendido? Mostre pelo seu bom trato as suas obras em mansidão de
sabedoria.
Mas, se
tendes amarga inveja, e sentimento faccioso em vosso coração, não vos glorieis,
nem mintais contra a verdade.
Essa não é a
sabedoria que vem do alto, mas é terrena, animal e diabólica.
Porque onde
há inveja e espírito faccioso aí há perturbação e toda a obra perversa.
Mas a
sabedoria que do alto vem é, primeiramente pura, depois pacífica, moderada,
tratável, cheia de misericórdia e de bons frutos, sem parcialidade, e sem
hipocrisia (Bíblia Sagrada - Tiago 3:7-17).
O melhor de Paulo, a mente lógica, e o melhor de Barnabé, o poder
de catalisar, se tornou o pior deles.
3. NOS CONFLITOS O OBJETIVO DEVE SER O AMOR E A
HUMILDADE
Os conflitos sempre existirão, no entanto, o amor e a humildade
devem ser a chave para vencê-los. A diferença de opiniões, de pensamentos e de
sentimentos, antes de nos dividir, devem ser fatores de nosso crescimento. Os
dons do Espírito, por exemplo, conquanto diversos, promovem o crescimento e a
unidade da igreja. Vejamos o seguinte texto:
Ora, há
diversidade de dons, mas o Espírito é o mesmo.
E há
diversidade de ministérios, mas o Senhor é o mesmo.
E há
diversidade de operações, mas é o mesmo Deus que opera tudo em todos.
Mas a
manifestação do Espírito é dada a cada um, para o que for útil (Bíblia Sagrada
- 1 Coríntios 12:4-7).
Devemos ser capazes de amar as pessoas mesmo desprezando suas
ações. Paulo tinha razão em duvidar da força missionária de João Marcos. Ele
presenciara a sua deserção na primeira viagem, no entanto, ele não foi capaz de
olhar, pelo menos naquele momento, além das falhas e ser amoroso com o jovem
discípulo. Se buscarmos em primeiro lugar amar o que se diferencia de nós, com
certeza teremos unidade. A Bíblia é clara quando fala do amor de Deus para
conosco e como deve ser o nosso amor para com Ele e para com o próximo.
Nisto está o
amor, não em que nós tenhamos amado a Deus, mas em que ele nos amou a nós, e
enviou seu Filho para propiciação pelos nossos pecados.
Amados, se
Deus assim nos amou, também nós devemos amar uns aos outros.
Ninguém
jamais viu a Deus; se nos amamos uns aos outros, Deus está em nós, e em nós é
perfeito o seu amor (Bíblia Sagrada - 1 João 4:10-12).
Um segundo aspecto tão importante em tempo de conflito é a
humildade. Sem esta não haverá qualquer possibilidade de construção de uma paz
na igreja de Cristo. Neste ponto temos o Senhor Jesus como o nosso melhor
modelo:
De sorte que
haja em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus,
Que, sendo em
forma de Deus, não teve por usurpação ser igual a Deus,
Mas
esvaziou-se a si mesmo, tomando a forma de servo, fazendo-se semelhante aos
homens;
E, achado na
forma de homem, humilhou-se a si mesmo, sendo obediente até à morte, e morte de
cruz (Bíblia Sagrada - Filipenses 2:5-8).
Em Jesus encontramos não somente o nosso melhor modelo de
humildade mas também os recursos para a implantação de uma cultura de paz na
igreja.
Novamente nos reportando à
história da igreja, podemos observar o quanto a falta de humildade produz
divisões e crises, às vezes irreconciliáveis. Igrejas e até denominações
tiveram divisões históricas pela predominância de espíritos orgulhosos e
vaidosos que não se importaram com a sua unidade. Neste sentido, Tanto Paulo quanto Barnabé
nada nos instruem. Armados de seus argumentos deixaram aflorar uma crise que
somente não foi maior por causa das misericórdias de Deus revelados no fato e
pela aparente concordância, depois de anos, da utilidade de João Marcos no
ministério de Paulo.
Só Lucas está
comigo. Toma Marcos, e traze-o contigo, porque me é muito útil para o
ministério (Bíblia Sagrada - 2 Timóteo 4:11).
Talvez aqui, no fato de Paulo solicitar a ajuda de João Marcos,
esteja um princípio muito importante, o da restituição. No caso não se trata de
algo material, mas de uma restituição moral. Com certeza Marcos falhara
abandonando a campanha evangelística, e talvez Paulo também o tenha feito ao
desprezar a sua companhia na segunda viagem, mas tudo foi devidamente colocado
em ordem. Janzem trabalha muito esta questão da restituição. Ele afirma o
seguinte:
Perdoar
alguém não significa suprimir a sua responsabilidade pelos atos, livrando-o,
assim, da restituição. Depois ela faz parte do processo de cura do relacionamento,
pois demonstra arrependimento, sinceridade e uma nova atitude. Além disso,
serve como uma lição de vida, porque pode ajudar a pessoa que causou o dano a
decidir evitar erros semelhantes no futuro. “No entanto, também é uma
oportunidade para a parte lesada fazer o uso da misericórdia e, em alguns
casos, isentar a pessoa do pagamento da dívida” (JANZEN, 2007, p. 190.).
4. NOS CONFLITOS DEVE-SE CONSIDERAR AS DEBILIDADES E
NÃO OS ARGUMENTOS
Geralmente durante os conflitos somos propensos a analisar nossos
argumentos e não as nossas debilidades. Se os argumentos nos são satisfatórios
os defendemos sem analisar a nossa fraqueza ao fazê-lo. O poder de nossa
posição não é o que nos vai trazer problemas e sim nossas debilidades. Paulo e
Barnabé têm argumentos fortíssimos. Paulo olhou a causa e esta requereria
pessoas destemidas, fortes, que não se acovardassem. Barnabé por sua vez olhou
a pessoa e viu o que Deus poderia fazer através de João Marcos. Os argumentos
são bons mas os que os defendiam esqueceram-se de sua fragilidade.
Em outra circunstância
Paulo descreve esta verdade claramente quando apresenta sua defesa à igreja de
Corinto.
O velho apóstolo tem argumentos fortíssimos para defender seu
ministério e apostolado. Ele tem argumentos fortíssimos para se defender:
Em verdade
que não convém gloriar-me; mas passarei às visões e revelações do Senhor.
Conheço um
homem em Cristo que há catorze anos (se no corpo, não sei, se fora do corpo,
não sei; Deus o sabe) foi arrebatado ao terceiro céu.
E sei que o tal
homem (se no corpo, se fora do corpo, não sei; Deus o sabe)
Foi
arrebatado ao paraíso; e ouviu palavras inefáveis, que ao homem não é lícito
falar.
De alguém
assim me gloriarei eu, mas de mim mesmo não me gloriarei, senão nas minhas
fraquezas.
Porque, se
quiser gloriar-me, não serei néscio, porque direi a verdade; mas deixo isto,
para que ninguém cuide de mim mais do que em mim vê ou de mim ouve (Bíblia
Sagrada - 2 Coríntios 12:1-6).
No entanto ele olha para as suas debilidades e se humilha:
E, para que
não me exaltasse pela excelência das revelações, foi-me dado um espinho na
carne, a saber, um mensageiro de Satanás para me esbofetear, a fim de não me
exaltar.
Acerca do
qual três vezes orei ao Senhor para que se desviasse de mim.
E disse-me: A
minha graça te basta, porque o meu poder se aperfeiçoa na fraqueza. De boa
vontade, pois, me gloriarei nas minhas fraquezas, para que em mim habite o
poder de Cristo.
Por isso
sinto prazer nas fraquezas, nas injúrias, nas necessidades, nas perseguições,
nas angústias por amor de Cristo. Porque quando estou fraco então sou forte
(Bíblia Sagrada - 2 Coríntios 12:7-10).
Tanto Paulo quanto Barnabé tem razão em seus argumentos, mas
deixam levar pela paixão que os dominava.
Timothy Lane e Paulo Tripp contribuem com esta ideia com o seguinte
argumento:
Pense na
outra pessoa. Ao passo que seu coração é reconquistado pela graça de Deus,
pergunte-se como seria empenhar-se num conflito sagrado. Você precisa ir atrás
de alguém e confrontá-lo? Você precisa ter paciência e encorajá-lo? Você
precisa ignorar uma ofensa? Quais são os pecados e as fraquezas que você
precisa levar em consideração quando decidir o seu próximo passo? Em 1
Tessalonicenses, o apóstolo Paulo, com muito amor, encoraja a igreja a
empenhar-se em conflitos sagrados uns com os outros. Nos versículos 14-18 do
capítulo 5, Paulo diz que existem diferentes maneiras de confrontar alguém,
baseadas nas necessidades daquela pessoa e daquilo que a edificará. Há uma hora
certa para advertir, encorajar e ajudar a pessoa com quem estamos em conflito.
Somos chamados a sermos sempre pacientes e renunciar à vingança (TRIPP, 2011,
p.).
Paulo e Barnabé aparentemente firmaram-se em suas causas e
esqueceram-se de suas debilidades, o que causou a divisão entre eles.
5. NOS CONFLITOS DEVE-SE ANALISAR QUE PECADOS DEUS
ESTÁ REVELANDO
A nossa natureza caída estará sempre presente em tudo o que
fazemos. Mesmo quando, aos nossos olhos, nos entendemos debaixo da completa
orientação de Deus, há possibilidade de pecarmos no que fazemos. O texto bíblico não nos revela claramente os
erros destes dois líderes da igreja. Sabemos tão somente que houve um
desentendimento, uma “tal desavença” (Atos 16.39), que, conquanto não receba
nenhuma repreensão de Deus, também não recebe louvores. No entanto, partindo do
princípio de que o pecado está sempre presente em nossa natureza devemos sempre
analisar quando ele se manifesta. Neste caso demos nos perguntar que pecado, ou
pecados, Deus quer revelar a nós em tempo de conflitos.
Ken Sande muito nos ajuda ao apontar o que chama de A Colina
Escorregadia do Conflito como reações pecaminosas durante o mesmo. Segundo ele
Há três maneiras básicas com que as pessoas reagem ao conflito: Fuga, Ataque ou
Pacificação. Tanto a fuga quanto o ataque são manifestações negativas, fruto do
pecado e a exteriorização do velho homem que habita em nós. E continua:
Se você deseja
ficar no topo desse terreno escorregadio, (que é onde se encontra a
pacificação) precisa fazer duas coisas. Em primeiro lugar, peça a Deus que o
ajude a resistir à inclinação natural de fugir ou atacar quando diante de um
conflito. Em segundo lugar, peça a Deus que o ajude a desenvolver a habilidade
de colocar em prática o evangelho, usando a reação de pacificação, que é mais
adequada para resolver um conflito em particular. (SAND, 2004, p. 23).
O cristão sincero deve, à luz da orientação de Deus, averiguar seu
próprio coração e verificar quais são os pecados que Deus quer revelar em
tempos de crise e especialmente em tempo de conflito. Cada um precisará
analisar suas próprias inclinações e debilidades, verificando, humildemente o
que Deus quer revelar e transformar em tempos assim.
Da mesma forma, ao buscarmos a pacificação entre aqueles aos quais
ministramos devemos, da mesma forma, trabalhar a natureza pecaminosa que toma
corpo durante o conflito.
Tiago nos mostra que o conflito passará necessariamente pela ação
da velha natureza em nós. Adverte-nos ele:
De onde vêm as guerras e pelejas entre vós? Porventura não vêm disto, a
saber, dos vossos deleites, que nos vossos membros guerreiam? (Bíblia Sagrada -
Tiago
4:1).
Alfred Poirier desenvolve excelente estudo sobre a aplicação deste
texto em situações de conflito. Para ele a natureza de todos os conflitos está
em uma exacerbação do pecado humano. E argumenta:
Nós
tipicamente respondemos o porquê do conflito com um quem. “Por que estão
brigando?” Ao ouvir essa pergunta imediatamente apontamos para alguém, nossos
filhos, nosso cônjuge, ou algum irmão ou irmã em Cristo. Culpamos nosso chefe,
nosso pastor, ou mesmo um colega do trabalho. Mas Tiago nos diz que o conflito
não procede dele ou dela, mas sim de nós mesmos. Meus prazeres são a causa do
conflito. Eles colocam-se acima e contra os prazeres dos outros. Portanto, a
fonte do conflito não está em algo que me falta ou algo de que eu preciso, mas
sim naquilo que desejo, meus prazeres. Na verdade, não somos taças vazias que
precisam ser cheias. Somos taças que transbordam de arrogância, ambições,
presunção e de desejos egoístas. Da mesma forma, podemos dizer que nosso
coração não está vazio, passivo, mas sim plenamente ativo e cheio até a boca,
transbordante. (POIRIER, 2011, p. 54.).
Não somos informados sobre quais as motivações pecaminosas Paulo e
Barnabé manifestaram. Não temos autorização bíblica nem mesmo para afirmar que
houve pecado ali. No entanto houve uma desavença tal, narrada pela Escritura, o
que poderia apenas sugerir algum pecado. No entanto, independentemente de
qualquer julgamento, partimos de outros textos, e especialmente o de Tiago, que
nos mostra como a natureza adâmica sempre age em tempo de conflitos. Há sempre
pecado em nós a ser revelado, confessado e abandonado aos pés de Cristo.
CONCLUSÃO
Quem tem razão, Paulo ou Barnabé? Conquanto nos pareça difícil
qualquer julgamento, pois a própria Bíblia não o faz, poderíamos nos permitir
uma opinião: Os dois, quando analisamos suas paixões. Nenhum quando se
avaliamos as suas atitudes.
Os argumentos eram bons, mas a atitude nem tanto. Conquanto a obra
de Deus avançasse, agora com duas duplas missionárias, e mesmo tendo João
Marcos se redimido de seu erro na primeira viagem, não temos princípios
bíblicos que abonem a conduta de Paulo e Barnabé. O princípio da unidade, tão
bem descritos na Bíblia, parece não terem sido observados a rigor.
Devemos, no entanto, em vista da Bíblia não omitir uma situação
assim, tirar lições preciosas como as que cito acima e muitas outras a serem
descobertas e descritas.
O Salmo 133 parece propício para terminar tais observações. Que
Deus nos ajude, que nos dê sabedoria espiritual para aprendermos tanto com os
acertos quanto com os erros do outros, e finalmente vivermos em união.
Oh!
Quão bom e quão suave é que os irmãos vivam em união.
É como o óleo precioso sobre a cabeça, que desce sobre a barba, a barba de Arão, e que desce à orla das suas vestes.
Como o orvalho de Hermom, e como o que desce sobre os montes de Sião, porque ali ordena a bênção e a vida para sempre.·.
É como o óleo precioso sobre a cabeça, que desce sobre a barba, a barba de Arão, e que desce à orla das suas vestes.
Como o orvalho de Hermom, e como o que desce sobre os montes de Sião, porque ali ordena a bênção e a vida para sempre.·.
Pr. Luiz César
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
JANZEN, Ernst
Werner. Conflitos: Oportunidade ou
perigo? Curitiba: Editora Esperança, 2007.
POIER,
Alfred. O pastor pacificador: Um guia
bíblico para a solução de conflitos na igreja. São Paulo: Vida Nova, 2011.
TRIPP Paul e
LANE, Timothy. Relacionamentos: Uma
confusão que vale a pena. São Paulo: Cultura Cristã, 2011.
SANDE, Ken. O pacificador. Rio de janeiro: Casa
Publicadora das Assembleias de Deus, 2011.