Então, vi descer do céu um anjo; tinha na mão a chave do abismo e uma grande corrente.
Ele segurou o dragão, a antiga serpente, que é o diabo, Satanás, e o prendeu por mil anos;
lançou-o no abismo, fechou-o e pôs selo sobre ele, para que não mais enganasse as nações até se completarem os mil anos. Depois disto, é necessário que ele seja solto pouco tempo.
Vi também tronos, e nestes sentaram-se aqueles aos quais foi dada autoridade de julgar. Vi ainda as almas dos decapitados por causa do testemunho de Jesus, bem como por causa da palavra de Deus, tantos quantos não adoraram a besta, nem tampouco a sua imagem, e não receberam a marca na fronte e na mão; e viveram e reinaram com Cristo durante mil anos.
Os restantes dos mortos não reviveram até que se completassem os mil anos. Esta é a primeira ressurreição.
Bem-aventurado e santo é aquele que tem parte na primeira ressurreição; sobre esses a segunda morte não tem autoridade; pelo contrário, serão sacerdotes de Deus e de Cristo e reinarão com ele os mil anos. Apocalipse 20:1-6
A partir de Apocalipse 20.1-6 surgiram algumas
interpretações, que são divergentes entre si sobre o período de mil anos onde
Cristo reinará. As três principais linhas de pensamento são as seguintes:
pré-milenismo - Cristo reinará literalmente por mil anos após a sua segunda
vinda e o arrebatamento da igreja; pós-milenismo - O retorno de Cristo será
após o milênio. Até lá o Evangelho alcançará as nações de forma contínua e
sobrenatural; amilenismo – O milênio começou com a ressurreição de Jesus e
terminará com a sua segunda vinda. O termo "Amilenista" significa
especificamente "não há milênio". Porém os que sustentam essa posição
não negam as palavras de Apocalipse 20, nem o seu cumprimento, apenas entendem
que a visão de João apenas como um símbolo da realidade presente em nossos
dias.
Há uma riquíssima literatura sobre estas três correntes teológicas. Este
trabalho visa oferecer argumentos sobre o amilenismo, apontando, especialmente
com textos bíblicos, que de fato o milênio já se iniciou com a triunfante
ressurreição de Jesus.
Seguem então algumas razões para assegurarmos que já estamos no milênio.
1- A NÃO LITERALIDADE DA PALAVRA MILÊNIO
O livro de Apocalipse não pode ser interpretado de maneira literal, e sim
espiritual. Em Apocalipse 20, por exemplo, o verso primeiro já sinaliza nesta
direção simbólica e espiritual. Ali se diz que Satanás será acorrentado por mil
anos. Com certeza estas “correntes” não são literais, de ferro ou aço, por
exemplo. É uma maneira simbólica de se dizer que ele será restrito em suas
ações. Então se o verso primeiro já é simbólico porque não seria o restante do
texto?
Berkhof nos ajuda nesta compreensão ao afirmar que se o reino milenar de Deus
se instalar de maneira literal, então os grandes poderes do mundo do Antigo
Testamento terão que ressurgir, como por exemplo, os egípcios, assírios e
babilônicos. As nações vizinhas a Israel, como os moabitas, amonitas, edomitas
e filisteus, terão que reaparecer. O templo terá que ser restaurado e o
cerimonial de sacrifícios terá que ser restaurado. Os filhos de Zadoque terão
que servir como sacerdotes (Zc 14.16). (Teologia Sistemática – Berkhof, p.
719).
Vejamos por exemplo a figura da besta, em Apocalipse 13. Ela tem dez chifres e
sete cabeças e sobre os chifres, dez diademas e, sobre as cabeças nomes de
blasfêmia (v.1). A única forma de interpretarmos este texto é de maneira
figurada e espiritual, caso contrário deveremos no futuro encontrar em nossas
ruas um animal com o formato descrito neste verso. O dragão, no capítulo 12 não
é uma figura representativa do diabo? Neste sentido apocalipse 20 também é
figurado e simbólico, conquanto tragam verdades reais e de sentido espiritual.
Temos aqui uma maneira toda singular de se revelar uma realidade espiritual
através de símbolos e figuras.
A palavra milênio aqui se refere seguramente a uma era, um longo tempo e não
necessariamente a mil anos literais. Do ponto de vista divino um dia pode ser
como mil anos e mil anos como um dia, conforme o Salmo 90.4 e 2 Pedro 3.8. O
texto então se refere a uma era, um tempo, uma dispensação e não a mil anos
literais e não de um reino de Cristo literal sobre a terra. O Número mil deve
ser um interpretado como um templo pleno e completo e não como um tempo literal
depois da segunda vinda de Cristo. Trata-se de um reino espiritual, que já se iniciou
com a ressurreição de Jesus e terminará com a sua segunda vinda.
2- O LIVRO DE APOCALIPSE NÃO SEGUE UMA ORDEM CRONOLÓGICA.
Parece razoável pensar que o Milênio seja um período de tempo no final de todas
as coisas, visto que está quase no final do livro de Apocalipse. No entanto,
este livro não está em uma ordem cronológica. Ele não é linear. Ele é dividido
de forma cíclica. Trata-se do que alguns chamam de “paralelismo progressivo”. O
livro de Apocalipse é dividido em 07 seções ou 07 ciclos, que se desenvolvem
paralelamente e que, obviamente, correspondem ao mesmo período. As seções são
as seguintes:
Primeiro – Cristo no meio dos sete candeeiros (Capítulos 1-3).
Segundo – A visão do Céu e os sete selos (Capítulos 4-7).
Terceiro – As sete trombetas (Capítulos 8-11).
Quarto – O dragão perseguidor e as sete vozes (Capítulo 12-14).
Quinto – As sete taças (Capítulos 15-16).
Sexto – A queda da Babilônia (Capítulos 17-19).
Sétimo – A Consumação final (Capítulos 20-22).
Sem esta compreensão teríamos por exemplo a humanidade morrendo várias vezes
(6.12; 9.18,19; 19.20,21). Assim podemos afirmar que o capítulo 20 não é uma
sequência do capítulo 19, mas é o início de um novo ciclo. Apocalipse 19:19-21
nos leva ao final da história, ao dia do juízo. Apocalipse 20 retorna ao começo
da dispensação atual.
O milênio não é o final de tudo e sim o início. Ele começa com a vitória de
Cristo na cruz e termina com a sua segunda vinda. Este certamente antecede a
segunda vinda de Cristo. Os inimigos do Evangelho (o dragão, a besta, o falso
profeta, a meretriz e os selados da besta.) são derrotados em cada ciclo da
narração. Todos caem juntos e não um após o outro. No final de cada uma destes
períodos os inimigos caem e Cristo triunfa sobre eles.
3- JESUS JÁ REINA
Jesus já alertara que o seu Reino seria espiritual e que não haveria nenhuma
manifestação visível e terrena do reino. Ele afirma enfaticamente que o Reino
teria o seu cumprimento de forma espiritual. Em Lucas 17.20 e 21 lemos:
Interrogado pelos fariseus sobre quando viria o reino de Deus, Jesus lhes
respondeu: Não vem o reino de Deus com visível aparência. Nem dirão: Ei-lo
aqui! Ou: Lá está! Porque o reino de Deus está dentro de vós. Jesus tem toda a
autoridade, como descreve Mateus 28.18-20: Jesus, aproximando-se, falou-lhes,
dizendo: Toda a autoridade me foi dada no céu e na terra. Ide, portanto, fazei
discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do
Espírito Santo.
O Milênio corresponde a todo o período do Novo Testamento, e especialmente a
partir da ressurreição de Jesus, até a segunda vinda de Cristo. Em todo este
tempo Jesus já reina.
Paulo tem clareza sobre isso ao descrever o triunfo de Jesus na cruz sobre as
forças malignas ao dizer que ali Jesus despojou os principados e potestades e
os expôs publicamente ao desprezo ao triunfar, na cruz sobre eles (Cl 2.15).
Jesus foi, é, e sempre será vitorioso sobre Satanás. Ele já antecipa este
pensamento ao se denominar o valente que amarra Satanás e liberta os que são
seus reféns (Mt.12.22-32). Em certo sentido a igreja também, e na autoridade de
Cristo, também tem autoridade sobre os demônios (Lc 10.17-18).
4- SATANÁS JÁ NÃO ENGANA AS NAÇÕES
Em Apocalipse 20.3 se diz que Satanás estaria preso para que não mais enganasse
as nações. Pois bem, isto começou a acontecer desde o tempo do Novo Testamento,
especificamente com a morte e ressurreição de Jesus. Satanás não pode impedir
que o mundo inteiro seja evangelizado. De certa forma ele foi detido pelo
Senhor de enganar os povos quanto ao Evangelho.
O livro de Atos certifica que outros povos, além dos judeus foram alcançados
pelo Evangelho. Em Atos 2 várias nações são alcançadas pela pregação de Pedro.
Este entende que o que está acontecendo tem a ver com os últimos dias (At 2.17).
Em certo grau Satanás já está amarrado, ou seja, limitado em suas ações. Um dia
Satanás terá a permissão de agir com mais força (1 Ts 2. 7-9), mas desde a
primeira vinda de Cristo ele está impedido de agir livremente e principalmente
de enganar as nações quando ao Evangelho.
Isto não significa que Satanás não possa agir e continuar a fazer suas obras;
mas ele não pode impedir que as nações sejam alcançadas pelo Evangelho.
5- OS CRENTES JÁ REINAM COM CRISTO
Em Apocalipse 20. 4 se fala de crentes, já no Céu, reinando com Cristo.
Trata-se de todos os mártires da fé, de todas as épocas, os que já morreram por
causa do testemunho cristão. Ali no Céu, já agora, eles participam do reinado
de Cristo. A primeira ressurreição citada aqui em Apocalipse 20.5 já aconteceu.
Os crentes que já morreram como mártires, como testemunhas de Cristo, já foram
ressuscitados e já reinam com Cristo hoje. Em Mateus 19.28 se diz: Jesus lhes
respondeu: Em verdade vos digo que vós, os que me seguistes, quando, na
regeneração, o Filho do Homem se assentar no trono da sua glória, também vos
assentareis em doze tronos para julgar as doze tribos de Israel. Jesus já está
assentado em seu trono (At 2.33). Tais palavras nos levam a pensar que alguns
crentes, os mártires de Apocalipse 20.4, já reinam com ele. A palavra “trono”
aparece aproximadamente 70 vezes no livro de Apocalipse. Na sua maioria estes
tronos se referem a um governo a partir do céu e não da terra.
Também podemos entender, à luz de Efésios 2.6 que todos os salvos já estão, em
Cristo, assentados nos lugares celestiais. Estando em Cristo, o Rei supremo,
todos os salvos já reinam. Os salvos já são denominados em 2 Pe 2.9, como nação
santa e sacerdócio real. Em Apocalipse 1.6 temos a afirmação de que Deus nos
constituiu reino e sacerdotes para o seu Deus e Pai. O verbo está no presente.
Deus já nos constituiu.
6- NÃO HAVERÁ REINO TERRENO TEMPORÁRIO
Os estudos hermenêuticos nos ensinam que não é prudente fazer afirmações
teológicas baseadas em tão somente um só texto. A referência ao milênio só
aparece em Apocalipse 20.1 a 6. Não há sustentação hermenêutica para se fazer
uma afirmação tão relevante sobre o milênio tendo por base um único texto.
Ademais, um reino milenar terreno é, conforme alguns estudiosos trataria de um período
estranho, injusto e desnecessário. Estranho porque haveria crentes ressurretos
e não ressurretos vivendo juntos; injusto porque haveria oportunidade de
salvação para muitos, e isto após a volta de Jesus; e desnecessário pois não há
razão alguma para se protelar a instalação do Reino definito de Jesus.
É nos dito que “a carne e o sangue não podem herdar o reino de Deus” (1 Co
15.50). Assim é nos impedido pensar em qualquer possibilidade de entrada de
carne e sangue terrestres no milênio, o contrariaria esta afirmação de Paulo.
Não devemos fazer uma ligação forçada de textos do Antigo Testamento, como por
exemplo Isaías 65.17 a 25 para ilustrar o Milênio literal. Se olharmos com
clareza para este texto veremos que ele aponta, não um reino temporal e terreal,
mas fala do próprio Céu. O verso 17 diz: Pois eis que eu crio novos céus e nova
terra; e não haverá lembrança das coisas passadas, jamais haverá memória delas.
Esta profecia de Isaías está mais perto de Apocalipse 21 e 22 do que do
capítulo 20. No 21.1 se diz: Vi novo céu e nova terra, pois o primeiro céu e a
primeira terra passaram, e o mar já não existe. Aqui sim podemos ter o
cumprimento de Isaías 65, e não no capítulo 20.
Pedro usa este mesmo termo ao se referir do novo céu e da nova terra, já na
conclusão de todas as coisas e não o início de um reino temporal e terreno (2
Pe 3.13). No Novo Testamento há inúmeras alusões a uma compreensão espiritual
do Reino de Deus. Não é hermeneuticamente coerente defender a existência do
Milênio literal em textos que não fazem qualquer alusão a ele.
Em Atos 2.29-36 temos um exemplo deste princípio espiritual de interpretação.
Pedro, fazendo referência ao estabelecimento perpétuo do reino de Davi,
assegura que isto já se cumpriu inteiramente em Cristo. Desta forma não há
necessidade de um reino físico e terreno. Tudo já está realizado em Cristo, que
é descendente de Davi e reina eternamente. Da mesma forma em Atos 15.14-18, os
Apóstolos entenderam que a reedificação do tabernáculo caído de Davi, foi
realizada quando os gentios se converteram, tornando-se assim, o seu novo povo
(v.14).
Uma nova aliança já foi formada entre Deus e o seu povo e esta foi firmada em
Jesus. Um novo povo foi escolhido e separado para Deus. Segundo o autor aos
Hebreus, a igreja é a nova casa de Israel e o seu cunho é espiritual, não
literal ou físico (Hb 8.8-13).
7- HAVERÁ UMA SÓ RESSURREIÇÃO
O Reino de Cristo termina com a vinda de Jesus. Trata-se do final e não do
começo do reino milenar. Em João 5.28 e 29 temos: Vem a hora em que os que se
acham no túmulo ouvirão a sua voz e sairão; uns para a ressurreição da vida e
outros para o juízo. Não se diz que haverá um intervalo entre a ressurreição
dos salvos e perdidos. Isto está em consonância com Daniel 12.2 que diz: Muitos
dos que dormem no pó da terra ressuscitarão, uns para a vida eterna, e outros
para vergonha e horror eterno. Também em Atos 24.15, se diz: tendo esperança em
Deus, com também estes a têm, de que haverá ressurreição, tano de justos como
de injustos. A primeira ressurreição, a dos salvos, e a segunda, a dos
perdidos, acontecerão simultaneamente e de forma alguma haverá um hiato entre
elas.
A ressurreição é prometida por Jesus no último dia e não no início de período
de mil anos. Vejamos por exemplo João 6.39-40: E a vontade de quem me enviou é
esta: que nenhum eu perca de todos os que me deu; pelo contrário, eu o
ressuscitarei no último dia. De fato, a vontade de meu Pai é que todo homem que
vir o Filho e nele crer tenha a vida eterna; e eu o ressuscitarei no último dia
(Jo 6.39-40). O mesmo sentido temos em João 6.44 e 54. A ressurreição é o final
do ciclo aqui na terra e não o início de um longo período milenar. Com a
segunda vinda de Cristo todos os homens, salvos e perdidos serão ressurretos,
no mesmo dia.
Há por parte de alguns amilenistas a compreensão de que a primeira ressureição
em Apocalipse 20.5, refere-se à ressurreição tão somente dos mártires, dos que
morreram por Cristo durante a história. Neste sentido eles já estão no céu, e
estes já reinam com Cristo. A primeira ressurreição seria com um sentido
espiritual, isto é, alguns crentes já estão espiritualmente reinando com
Cristo; a segunda ressurreição seria a dos demais crentes, na volta de Jesus.
Este pensamento parece bem coerente com as visões de João que em vários
momentos apontam para pessoas ao lado de Cristo, já reinando, como por exemplo
os vinte e quatro anciãos de Apocalipse 24.4 onde se diz: Ao redor do trono, há
também vinte e quatro tronos, e assentados neles, vinte e quatro anciãos
vestidos de branco, em cujas cabeças estão coroas de outro.
8- HAVERÁ UMA SÓ VINDA DE CRISTO
O pensamento de que mil anos separam duas vindas de Cristo não se sustenta à
luz de 1 Tessalonicenses 4. 17 onde se diz que após o arrebatamento todos os
salvos encontrarão o Senhor Jesus nas nuvens e estarão para sempre com o
Senhor. Não há nenhuma alusão a qualquer outra volta de Cristo nas epístolas
paulinas. Se Cristo fosse voltar em duas etapas não teríamos esta informação
nas Epístolas? Paulo reitera este argumento em 2 Tessalonicenses 1.7 a 8 e 2.8
onde se entende com toda clareza que o juízo final sobre os inimigos será no
mesmo momento da ressurreição e em sua única vinda depois que foi assunto aos
céus. Vejamos:
Se, de fato, é justo para com Deus que ele dê em paga tribulação aos que vos
atribulam 7e a vós outros, que sois atribulados, alívio juntamente conosco,
quando do céu se manifestar o Senhor Jesus com os anjos do seu poder, 8em chama
de fogo, tomando vingança contra os que não conhecem a Deus e contra os que não
obedecem ao evangelho de nosso Senhor Jesus. 9Estes sofrerão penalidade de
eterna destruição, banidos da face do Senhor e da glória do seu poder, 10quando
vier para ser glorificado nos seus santos e ser admirado em todos os que
creram, naquele dia (porquanto foi crido entre vós o nosso testemunho) (2 Ts
1.6-10).
Não há qualquer referência de que este juízo final será mil anos depois do
arrebatamento da igreja. Finalmente em 1 Timóteo 6.14 Paulo aponta para uma
única manifestação (epiphaneia) de Cristo e não duas. Com a sua vinda Jesus, de
uma única vez, Ele já estabelece o seu Reino eterno e simultaneamente condena
os seus inimigos.
9- NÃO HAVERÁ UMA DISTINÇÃO ENTRE ISRAEL E IGREJA
O pensamento de que igreja será arrebatada, depois será instalado um período de
mil anos onde somente os judeus convertidos terão a missão de evangelizar é
também sem amparo hermenêutico. Com certeza Deus tem um trato especial com
Israel, mas asseverar que os judeus serão os últimos a anunciar o Evangelho
sobre a terra, e em um reino milenar, não parece um pensamento razoável. A
igreja se apropriou das promessas de Deus dadas a Israel. Conforme 1 Pedro 2.9,
a igreja é, desde já, raça eleita, nação santa, sacerdócio real, povo de
propriedade exclusiva de Deus. Ela, e não a nação de Israel, tem o ofício de
proclamar as virtudes de Deus. Conforme Paulo a igreja é o Israel de Deus (Gl
6.16). Em Efésios 2.11-19 Paulo faz um extenso discurso para assegurar que não
há mais distinção entre Israel (o povo de Deus no Antigo Testamento) e a igreja
(o povo de Deus no Novo Testamento). Os circuncisos (Israel) e os incircuncisos
(os gentios), se unem com um só povo, chamado de igreja. O muro que os separava
foi removido na cruz do calvário. Os versos 14 e 15 dizem: Porque ele é a nossa
paz, o qual de ambos fez um; e, tendo derribado a parecer da separação que
estava no meio, a inimizade, aboliu, na sua carne, a lei dos mandamentos na
forma de ordenanças, para que dos dois criasse, em si mesmo, um nomo homem,
fazendo a paz.
Os Apóstolos entenderam que a reconstrução do Tabernáculo de Davi não tem outro
sentido senão que isto já se cumpriu na vida e ministério de Jesus (Atos 15.14
a 18). Não haverá a restauração do templo, nem dos sacrifícios em um reino
terreno milenar, visto que esta promessa se cumpriu completamente em Jesus.
Além do que é inimaginável pensar na restauração do templo e dos sacrifícios
visto que tudo isso, no Antigo Testamento, apontava para Cristo. Se Cristo já
veio e cumpriu todas as profecias, qual seria o sentido dos sacrifícios que
seriam oferecidos em um possível reino milenar terreno?
O que somos levados a crer no conjunto as Escrituras é que o sacrifício de
Jesus foi suficiente para a redenção dos eleitos. Podemos concluir que só
existe um povo de Deus, uma só noiva, uma só esposa, a igreja.
10- NÃO PODE HAVER SALVAÇÃO SEM A CRUZ DE CRISTO
Os defensores do milênio literal e terreno afirmam, em sua maioria, que haverá
salvação neste período, não pela cruz, necessariamente, mas pela observância
das leis do Senhor. Um dos textos usados para este modelo de salvação é o de
Zacarias 8.20-22.
Neste período dizem os sacrifícios de animais voltarão a ser oferecidos no
templo, que será reconstruído. Ainda que se diga que a restauração do culto
judaico será para aspectos comemorativos (Pentecost. Eventos del Porvenir.
p.379), para muitos, trata-se de sacrifícios expiatórios. É estranho que em
nenhuma outra parte do Novo Testamento se faz menção à menor possibilidade de
culto e até de salvação, após à segunda vinda de Jesus. Além do quê, parece sem
sentido judeus convertidos precisarem retornar ao sacrifício
veterotestamentário como uma forma de celebração. Não é a cruz de Cristo o
cumprimento de tudo o que os sacrifícios apontavam? Claro que sim. Segundo
Hebreus 9.26 o sacrifício de Cristo foi único e suficiente para a salvação do
seu povo.
Também seria um cerimonial injusto visto que aqueles que aqueles que estiverem
vivos no milênio literal tenham uma oportunidade de salvação que não foi
oferecida aos demais homens.
Neste ponto devemos refletir na seguinte pergunta: Como conceber a idéia de que
as nações estarão sob o reinado de Cristo mil anos e depois elas se rebelam
totalmente contra ele? (Ap 20:7-9).
Podemos concluir que à luz destes apontamentos biblicos que já estamos no
Milênio, que não haverá no futuro um reino milenar terreno. Devemos nos firmar
naquilo que as Escrituras nos ensinam e aguardar de forma vigilante o
cumprimento de todas as coisas. Enquanto isso advertamos a todo homem quanto ao
tempo presente e à necessidade de ter um encontro pessoal com Cristo, agora,
enquanto há vida. Que Deus nos abençoe.