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EVANGELIZE A PARTIR DO PÚLPITO





INTRODUÇÃO

Quando o famoso evangelista Billy Graham esteve no Brasil, em 1974, eu era um adolescente recém-convertido, mas já me senti impactado com a força evangelizadora que impulsionava aquele homem. Que movimento evangelístico maravilhoso foi aquele. A presença deste americano em nosso país redundou em um fervor evangelístico notável. Por todo o país se via mensagens apaixonadas nos púlpitos das igrejas. Outros evangelistas se levantaram e uma geração inteira se viu envolvida neste movimento. Hoje não só as cruzadas de evangelização acabaram, mas até mesmo as mensagens evangelísticas desapareceram de nossas igrejas e pregações. Os púlpitos, nos domingos à noite estão silenciosos; o fervor evangelístico arrefeceu-se.

            Toda pregação evangeliza, mas uma pregação inteiramente evangelística é de suma importância.

O Espírito Santo sempre usa as palavras que Ele mesmo inspirou para atingir o coração e a mente do ouvinte. A espada do Espírito continua sendo a Palavra de Deus (Ef. 6.17), e esta, como um todo, segue um caminho missionário e salvífico.  Não tenhamos dúvida: Deus busca o pecador, de Gênesis a Apocalipse.  A experiência das igrejas e dos pregadores tem demonstrado que independentemente da porção da Bíblia ministrada, há maravilhosas histórias de salvação acontecendo. A Palavra de Deus é viva, eficaz e penetrante (Hb. 4.12) e ela sempre cumprirá o seu propósito. Não devemos ficar surpresos quando alguém for alcançado por Cristo através de qualquer porção da Escritura. A Bíblia toda, e não somente uma parte dela, não somente textos seletos, são instrumentos de Deus para salvar o pecador.

 De fato, toda Escritura é inspirada por Deus e toda a Escritura revela a Cristo. Conforme o próprio Senhor Jesus nos ensina, as Escrituras, examinadas criteriosamente, o encontrarão (Jo. 5:38-39). Se a Escritura for pregada com precisão, Cristo é pregado. Se Cristo está sendo pregado, o evangelho está sendo pregado, pois Ele é a essência do evangelho. E se o evangelho for pregado, pecadores serão salvos por ele. Esse é o meio apontado por Deus para a salvação deles (2. Tm 3.16). A salvação é obra do Espírito Santo e Ele utiliza a palavra que Ele mesmo inspirou para despertar as almas que estão mortas.

 O pregador com sua própria força e argumentos não pode produzir salvação em seus ouvintes. Somente o sopro regenerador do Espírito Santo de Deus, ministrado através de sua Palavra, salvará o pecador que está morto em seus delitos e pecados (Ef 2.1), e toda ela é útil para isso. Dar vida àqueles que estão mortos espiritualmente é tarefa do Espírito Santo, usando a sua Palavra, através da instrumentalidade humana. Este é o maior de todos os mistérios.

No entanto, tentarei demonstrar aos leitores, não somente que Deus salva através de qualquer parte das Escrituras, mas especialmente, que Deus salva através de pregações evangelísticas, mesmo sendo estas baseadas em qualquer parte das Escrituras. A ênfase não está na porção da Escritura utilizada pelo pregador, mas na forma que Ele aborda e aplica cada porção ministrada aos ouvintes. O meu labor será em convencer os pregadores, que, utilizando-se dos mais diversos textos das Escrituras Sagradas, preguem mensagens evangelísticas com mais frequência; mensagens evangelísticas do começo ao fim.

 É preciso pregar mensagens que doutrinem que exortem, que despertem para o trabalho, mas é preciso resgatar a pregação evangelística em nossos púlpitos.

O conhecido pregador africano Conrad Mbewe nos alerta quanto a esta questão:

Onde estão os sermões que argumentam, explicam e provam, com base nas Escrituras, que Jesus é o Cristo? Onde estão os sermões preparados especificamente para expulsar de cada esconderijo e fenda iníqua os pecadores, até que se prostrem diante da cruz de Cristo? Onde estão os sermões que lutarão contra consciências entenebrecidas, até que estas vejam sua necessidade de reconciliação com Deus, por intermédio de Jesus Cristo? Para onde foram os sermões sobre fogo e enxofre do inferno, pregados nas gerações passadas? Onde estão os sermões semelhantes aos de George Whitefield, aos dos irmãos Wesley, Howell Harris, Jonathan Edwards e Asahel Nettleton?

Não pode haver nenhum menosprezo pelas pregações doutrinárias, discipuladoras, que edificam e fortalecem a fé dos crentes. O próprio Apóstolo Paulo descreve esse desafio no seu clássico texto de 2 Timóteo 3.14-17 quando apresenta o objetivo principal de ensinarmos a Bíblia: alcançar a perfeição e a habilitação para toda boa obra de todo homem. A Perfeição citada no verso 17, no entanto, passa necessariamente pela salvação.  Ele inicia o parágrafo fazendo uma relação entre o ensino da Bíblia e a salvação: E que desde a infância sabes as sagradas letras, que podem tornar-te sábio para a salvação pela fé, em Cristo Jesus (v.15).

 Com certeza está no pensamento de Paulo o crescimento em santificação que todo salvo deve experimentar. A salvação, no entanto, inicia-se com a conversão e segue crescendo em santificação até finalmente alcançar a glorificação. No processo está a habilitação para toda a boa obra. Assim a exposição das Escrituras é primeiramente salvadora e depois edificadora e transformadora. A verdadeira pregação gera salvação em primeiro lugar.

Insisto no fato de que toda pregação gera conversão. Estou convencido também de que uma pequena abordagem evangelística em cada mensagem é extremamente relevante, mas estou convencido mais ainda de que precisamos resgatar as mensagens genuinamente e completamente evangelísticas, isto eventualmente, de tempos em tempos, nos púlpitos de nossas igrejas; mensagens evangelísticas, do começo ao fim.

Entendendo esta crise evangelística do púlpito Eugene Peterson se comove ao ligar o ministério pastoral ao adjetivo apocalíptico com o seguinte clamor:

O adjetivo apocalíptico não é comumente encontrado em companhia do substantivo pastor. Eu não me lembro de alguma vez tê-los ouvido na mesma frase. Eles cresceram em lados diferentes do caminho. Eu gostaria muito de bancar o Cupido entre as duas palavras e ver se consigo instigar um namoro.
Que urgência temos então deste ofício evangelizador a partir do ministério pastoral.
Por que devemos então resgatar a pregação evangelística? Discorro sobre algumas razões que considero fundamentais:

1-    A PREGAÇÃO EVANGELÍSTICA É UMA ÓRDEM MUITO CLARA NA BÍBLIA

Paulo orienta ao jovem Timóteo, que faça o trabalho de evangelista (2 Tm 4.3). Tanto ele quanto nós devemos cumprir cabalmente o ministério a nós confiado, e este só pode ser completo se fazermos o trabalho de evangelismo. Sobre esta ordem a Timóteo, Stott contribui muito:

Timóteo deve fazer o trabalho de evangelista, porque o povo é desgraçadamente ignorante a respeito do verdadeiro evangelho. Não está claro se a referência é feita a um ministério especial, como se pretende nas duas únicas outras passagens do Novo Testamento onde a palavra ocorre (At 21; Ef 4.11). A alternativa é interpretá-la como alguém que prega o evangelho e testemunha de Cristo. De qualquer forma é como se Paulo estivesse ordenando a Timóteo: Faça da pregação do evangelho a obra da tua vida. As boas novas não devem somente ser preservadas da distorção; elas devem ser propagadas

 O ministério seria incompleto para ele e para cada um de nós se não cumprimos o nosso papel de evangelização. Ouçamos novamente Mbewe:

Em meio ao árduo labor de ensinar aos crentes os fundamentos da fé e como eles devem viver, também precisamos ocupar-nos com labores evangelísticos. Em meio ao trabalho de guiar o povo de Deus à vida eclesiástica apropriada, também precisamos levar pecadores a Cristo. Não devemos realizar somente um aspecto ou outro do ministério. Temos de realizar ambos.

Neste ponto podemos apontar outro exemplo, o do Apóstolo Pedro, que em meio à sua preocupação com a igreja de Deus e o seu pastoreio tão bem identificado em sua carta (1 Pe 5.1-4), cumpriu também o seu papel de evangelista. Ele fez várias viagens com o propósito de tornar Jesus conhecido em outras regiões e também de fundar igrejas. O seu esforço evangelístico é claramente ilustrado nas páginas de Atos dos Apóstolos e nas Epístolas. Além de ser ele mesmo um modelo de evangelista.

É interessante perceber que Pedro fez uma longa viagem, de Jope a Ceraréia Marítima, percorrendo o litoral do Mar Mediterrâneo, a fim de apresentar Jesus ao Centurião Cornélio. Ao fazê-lo ele caminhou sabiamente pelas páginas do Antigo Testamento, discorrendo minunciosamente sobre textos selecionados até apontar para a pessoa e obra do Senhor Jesus, e especialmente para a sua morte e ressurreição. Ao apresentar Jesus a Cornélio, em Atos 10, o faz por inteiro. Observemos os pontos abordados em seu sermão: Jesus viveu entre nós, andou entre nós, fez parte de nossa história (v.37); Ele era o Ungido de Deus entre nós (v.38); Ele foi pregado na cruz (39); Ele ressuscitou (v.40); Ele julgará os vivos e os mortos (v.41); O que nele crê será salvo (v.42).

Todo o plano da salvação fora exposto. .O terreno estava preparado para a conversão dos ouvintes, o que efetivamente aconteceu (v.44). Que pregação cristocêntrica, completa, que informa ao ouvinte toda a história da salvação. Este um modelo de pregação evangelística, do começo ao fim.

O mesmo caminho trilhou o Apóstolo Paulo.  Na sua carta aos romanos, no capítulo 10, no verso 14 ele expõe com clareza a necessidade premente de se evangelizar. Para uma pessoa ser salva, livrar-se da condenação eterna, ela precisará ouvir com clareza a Palavra de Deus, afirma. Através de perguntas instigantes o Apóstolo das nações desafia os seus leitores: Como invocarão aquele em que não creram? E como crerão naquele de quem nada ouviram? E como ouvirão se não há quem pregue?

Somente invocamos a quem conhecemos. Se uma pessoa não conhecer a Cristo, sua morte, ressurreição e senhorio, jamais o invocará. Um filho invoca o nome de seu pai ou sua mãe e não de um estranho porque os conhece. Daí a importância do Evangelho ser pregado em toda a sua amplitude e não apenas um aspecto dele. Quanto mais conhecimento tiver o ouvinte da pessoa e obra de Jesus, mais possibilidade terá de invocar o nome do Senhor e de ser salvo.

A fé não nasce num vazio. Os arautos são enviados porque a mensagem precisa ser anunciada. O crer antecede o invocar, e o ouvir precede o ato de crer. Vejamos novamente a contribuição de Stott quanto a esta necessidade, e urgência:

Cristo envia os seus arautos; os arautos pregam; as pessoas ouvem; os ouvintes creem; os que creem invocam; e aqueles que invocam são salvos. E a lógica que leva Paulo a ser tão inflexível em defender a necessidade de evangelizar parecerá ainda mais forte se essas etapas mencionadas forem colocadas de forma negativa e se cada uma for vista como essencial em relação à outra. Ou seja: A menos que nos sintamos comissionadas para a tarefa de evangelizar, não haverá pregadores do evangelho; se o evangelho não for pregado, os pecadores não ouvirão a mensagem nem a voz de Cristo; a não ser que eles a ouçam, nunca crerão nas veredas de sua morte e ressurreição; a menos que creiam nessas verdades, eles não invocarão o Senhor, e, se não invocarem o seu nome, nunca serão salvos.

 A nossa comissão então é a de tornar Jesus conhecido aos nossos ouvintes. Somente assim eles poderão crer e ser salvos.

 Em Romanos 10.15 observamos a beleza do ministério da pregação. Esta envolve a ilustração não somente das mãos que se estendem, mas também dos pés que caminham em direção ao perdido.  Estimula-nos Paulo com as seguintes palavras: Como está escrito Como são belos os pés dos que anunciam boas novas! Esta frase foi inicialmente proferida por aqueles que proclamaram as boas novas de libertação do exílio babilônico onde se diz:

Que formosos são sobre os montes os pés do que anuncia as boas-novas, que faz ouvir a paz, que anuncia coisas boas, que faz ouvir a salvação, que diz a Sião: O teu Deus reina. Eis o grito dos tuas atalaias. Eles erguem a voz, juntamente exultam; porque com seus próprios olhos distintamente veem o retorno do senhor a Sião. Rompei em júbilo, exultai à uma, ó ruínas de Jerusalém; porque o Senhor consolou o seu povo, remiu a Jerusalém. O Senhor desnudou o seu santo braço à vista de todas as nações; e todos os confins da terra verão a salvação do nosso Deus.

  Se o que fez o anúncio do retorno do povo de Deus à terra de Israel foi assim tão bendito, quanto mais benditos deveriam ser os arautos do evangelho de Cristo! São belos os pés dos que anunciam o evangelho da salvação. Que privilégio o de anunciarmos a mensagem salvadora a partir de nossos púlpitos. Quão formosos são os pés dos que apresentam a Cristo aos seus ouvintes nos cultos de domingo.

 A ordem bíblica não é que façamos espetáculos para atrair a atenção dos pecadores, mas que preguemos a Palavra do Senhor a eles. Nem mesmo a nossa oração sincera pela salvação de uma pessoa terá um resultado completo. Não se deve apenas orar pela salvação do perdido, é preciso pregar a ele. Parece não haver na Bíblia nenhuma ordem para orarmos para que uma pessoa seja salva. A nossa oração não é redentora, isto é, nenhuma pessoa será salva porque nós oramos para que ela o seja. A oração estimulada pelas Escrituras não é pelos ouvintes mas pelos mensageiros. Com esta convicção Paulo pede que se ore por ele e pelo desafio que tem ao pregar: Com toda oração, e súplica, orando em todo tempo no espírito e para isto vigiando com toda perseverança e súplica por todos os santos e também por mim; para que me seja dada, no abrir da minha boca, a palavra, para, com intrepidez, fazer conhecido o mistério do evangelho, pelo qual sou embaixador em cadeias, para que, em Cristo, eu seja ousado para falar, como me cumpre fazê-lo. (Ef 6:18-20). É o mesmo sentido das palavras de Paulo em Colossenses 4:3: Suplicai, ao mesmo tempo, também por nós, para que Deus nos abra porta à palavra, a fim de falarmos do mistério de Cristo, pelo qual também estou algemado.

Falando aos coríntios, Paulo destaca a figura do mensageiro; eles são os representantes de Deus: De sorte que somos embaixadores em nome de Cristo, como se Deus exortasse por nosso intermédio. Em nome de Cristo, pois, rogamos que vos reconcilieis com Deus (2 Co 5:20). A imagem que este texto traz às nossas mentes é de Deus o Pai segurando na mão do Filho, que por sua vez segura uma de nossas mãos. A nossa outra mão está estendida para o pecador, para que ele se reconcilie com Deus.

Assim, tendo tanta ênfase bíblica para que preguemos aos pecadores, não devemos nos perder em nenhuma outra tarefa, se esta nos tirar a determinação de pregar o Evangelho. Que façamos nossas as palavras de Paulo ao dizer: Porque decidi nada saber entre vós, senão a Jesus Cristo e este crucificado (2 Co 2:2).

Evangelizar é uma ordem clara nas Escrituras, devemos então fazê-lo também do púlpito de nossas igrejas.

  
2-     A PREGAÇÃO EVANGELÍSTICA É UMA DEMONOSTRAÇÃO DE SINTONIA COMO O AMOR DE DEUS.

Deus é amor (1 Jo 4. 8); e foi amando o mundo que Ele enviou seu filho (Jo 3.16). No ato e esforço de evangelizar nos unimos a este Deus amoroso para a salvação do pecador. Como vimos tornamo-nos as mãos de Jesus ao convidarmos os pecadores para se unirem ao Pai. Unimo-nos ao Filho, que por sua vez é um com o Pai para reconciliar o mundo com Ele. Evangelizar neste sentido é nos unirmos ao Deus amoroso na maravilhosa tarefa de reconciliar consigo o mundo perdido.

Conforme bem descreveu Spurgeon uma inquietação toma os corações dos salvos que os leva a buscar os perdidos: Dizia ele:

Se você quer ganhar almas para Cristo, sinta uma solene inquietação quanto a elas. Não será possível fazê-las sentir esta inquietação, se você mesmo não a sente. Creia no perigo em que as pessoas se encontram, creia na incapacidade delas, creia que somente Cristo pode salvá-las e fale com elas como se você quisesse realmente tratar sobre isso. O Espírito Santo comoverá essas pessoas, comovendo primeiramente a você. Se você pode ficar tranquilo diante do fato de que elas não estão salvas, elas também ficarão tranquilas. Mas, se você estiver cheio de agonia por essas almas e não puder tolerar que elas se percam, logo você descobrirá que elas também ficam inquietas. Espero que você chegue a tal condição, que sonhe com seu filho ou com seu ouvinte perecendo, porque não têm a Cristo, e comece imediatamente a clamar: ‘Ó Deus, dá-me convertidos, se não eu morro’. Então, você terá convertidos.


Neste mesmo espírito acrescenta Mbewe

Você, que tem sentido as dores de uma consciência culpada e que tem encontrado paz com Deus; você, que sentiu as inflexíveis algemas do pecado e já encontrou liberdade em Cristo, ofereça esta liberdade aos perdidos, que perecem! Pare de desperdiçar seu tempo tentando comparar as religiões. Por que procurar vida entre os mortos? Proclame o único evangelho até seu último dia de vida. Permita que as pessoas do mundo saibam que podem implorar que Cristo as salve e que podem experimentar o poder salvador dEle. Amém!

Paulo demonstra este amor ardente pelos judeus ao declarar que preferiria ele mesmo ser condenado, ser considerado um anátema, um maldito, a ver seu povo ir para o inferno eterno: Digo a verdade em Cristo, não minto, testemunhando comigo, no Espírito Santo, a minha própria consciência: tenho grande tristeza e incessante dor no coração; porque eu mesmo desejaria ser anátema, separado de Cristo, por amor de meus irmãos, meus compatriotas, segundo a carne. São israelitas. Pertence-lhes a adoção e também a glória, as alianças, a legislação, o culto e as promessas; deles são os patriarcas, e também deles descende o Cristo, segundo a carne, o qual é sobre todos, Deus bendito para todo o sempre. Amém! (Rm 9.1– 5).

Pastores e pregadores amorosos não se sentirão realizados e completos se pregarem apenas sermões que edifiquem a sua igreja, mas sentirão o peso de pregarem mensagens evangelísticas de tempos em tempos, mensagens evangelísticas do começo ao fim.


3-    A PREGAÇÃO EVANGELÍSTICA É A ESPERANÇA PARA UMA PESSOA QUE NÃO OUVIU O EVANGELHO DE MANEIRA CLARA.

Somos informados pelas Escrituras que nem todos serão salvos. A salvação de um pecador é uma decisão soberana de Deus. A ele pertence a salvação (Jn 2.9). Até mesmo a rejeição ao Evangelho está dentro de seu controle e determinação. Ele tem misericórdia de quem Ele quer, e também endurece o coração de uma pessoa, como lhe apraz (Rm 9.18). Deus tanto pode amolecer quanto endurecer um coração (Rm 11.7). O mesmo evangelho que liberta, também condena. A pregação tem este propósito duplo: ela salva a quem Deus quer salvar e condena a quem Deus quer condenar. Nós somos o bom perfume de Cristo, tanto para os que são salvos quanto para os que se perdem, nos orienta Paulo (2 Co 2.15,16). Para alguns a pregação tem cheiro de vida, para outros, cheiro de morte. Este sentido duplo não deve desanimar o pregador, visto que alguns rejeitam o Evangelho e se perdem. A alegria está na obediência e na convicção de que Deus salva os homens pela pregação clara de sua Palavra. Não podemos escolher as pessoas que serão salvas, mas devemos pregar a todas elas e descansar na soberania de Deus em salvá-las, ou não.

Em Romanos 10.17 se diz que uma pessoa não pode ser salva se não ouvir a pregação do evangelho, pois a fé vem pela pregação, e a pregação, pela palavra de Cristo. O plano de salvação está submisso à Palavra evangelizadora. A fé salvadora vem pela pregação e pela audição do que Deus está falando. Não há outro caminho. Uma pessoa para ser salva, para se livrar da condenação eterna, precisará ouvir a Palavra. Qualquer pessoa que ouvir o evangelho estará sujeita a ser salva. O evangelho tem que ser verbalizado como toda clareza para atingir o homem na sua inteireza para gerar a fé salvadora. A Palavra de Deus é absorvida pela audição e o Espírito faz a Palavra germinar como uma semente. Assim ela brota e gera a fé salvadora. É este o sentido de Hebreus 4: 12: Porque a palavra de Deus é viva, e eficaz, e mais cortante do que qualquer espada de dois gumes, e penetra até ao ponto de dividir alma e espírito, juntas e medulas, e é apta para discernir os pensamentos e propósitos do coração.

A fé não nasce num vazio. Os pecadores não crerão enquanto não tiverem ouvido uma exposição clara das Escrituras. Se não houver pregação, não haverá salvação. Preguemos então, de maneira simples e clara a mensagem evangelizadora. Façamos o nosso trabalho e Deus fará o dele. Como bem bradou Antônio Vieira: Veja o Céu que ainda tem na terra quem se põe da sua parte. Saiba o Inferno que ainda há na terra quem lhe faça guerra com a Palavra de Deus, e saiba a mesma terra que ainda está em estado de reverdecer e dar muito fruto.


4-     A PREGAÇÃO EVANGELÍSTICA DESPERTA OS CRENTES PARA O EVANGELISMO PESSOAL.

Se de vez em quando pregarmos sermões evangelísticos os membros que frequentam nossas igrejas não se sentirão desconfortáveis, pelo contrário, eles se alegrarão, pois na recapitulação da história da salvação eles relembrarão o que Cristo fez por eles.

 Culto é recapitulação da história da salvação, escreveu J. Almem; assim, as pessoas ao ouvirem novamente sermões evangelísticos com certeza terão o seu primeiro amor renovado. A experiência da igreja tem demonstrado que há muita alegria nos corações dos salvos ao verem pessoas sendo salvas e em recapitularem a história de sua própria salvação.

E ainda, se os crentes ouvirem do púlpito mensagens evangelísticas eles sentirão impulsionados a evangelizar também. O que é plantado no púlpito germina na congregação. Assim, mesmo que o lugar mais adequado para a evangelização seja lá fora onde os pecadores estão, devemos fazê-lo também do lado de dentro, tanto para salvar os que ainda não são salvos, como para inflamar os corações do salvos para evangelizarem lá fora. Mbewe volta a nos auxiliar com o seguinte comentário:

Infelizmente, o ofício perdido da pregação evangelística resultou no ofício perdido do evangelismo pessoal. Visto que os membros das igrejas não veem no púlpito uma paixão pelas almas, estão perdendo esta paixão em seu viver. A igreja reflete aquilo que vê no púlpito. Além disso, a vantagem de ter pregação evangelística, no púlpito, é que os crentes têm regularmente, diante de si, um modelo a respeito de como apresentar, com eficiência, o evangelho aos não crentes. Uma igreja nunca atingirá um nível mais elevado do que o de seu púlpito. Se o púlpito está indo mal em alcançar os pecadores, o restante da igreja irá de maneira semelhante. Isto explica o desaparecimento da prática de testemunhar com a finalidade de ganhar almas em nossos dias. Nós, pregadores, somos culpados!



5-     A PREGAÇÃO EVANGELÍSTICA DESAFIA O PREGADOR A PENSAR COM A MENTE DE UM NÃO CONVERTIDO.

Quanto mais tempo de ministério um homem ou uma mulher tem, tanto mais distante estarão do pensamento de um não convertido e assim não conseguirão falar a linguagem que eles entendem. Na pesquisa feita por Christian A. Schwarz verifica-se que depois de alguns anos de ministério os obreiros perdem completamente o contato com pessoas não convertidas e dificilmente conseguem alcança-las para Cristo.

Na pirâmide de contatos, citada por ele constata-se que quanto mais o tempo passa mais os contatos dos crentes com amigos não crentes diminuem. Na base da pirâmide o não cristão tem um vínculo abrangente com amigos e parentes. À medida que o tempo passa o leque diminui, tendo no todo da pirâmide o pastor, que tem, na maioria das vezes, relacionamento apenas com pessoas já convertidas.

Quando os salvos ouvirem mensagens evangelísticas, apaixonadas, do começo ao fim, poderão refletir sobre como pensavam seus amigos e assim evangeliza-los melhor.

Os pregadores, por sua vez, ao se esforçarem para pregar sermões evangelísticos terão que necessariamente pensar como um não convertido e traçar um caminho para alcançá-lo. Este é um exercício desafiador e de extrema importância. Este foi o exercício de Paulo quando chegou ao areópago em Atenas. Ele mergulhou na cultura e na mente do homem grego para finalmente apresentar a ele o evangelho salvador. Que maestria teve Paulo em vasculhar os recônditos da espiritualidade de seus ouvintes antes de anunciar a Jesus (At 17.16-31). Temos o mesmo desafio ainda hoje.

 Atingir o coração dos crentes é uma tarefa mais fácil do que sensibilizar o coração do pecador, no entanto, o mesmo Espírito que opera no salvo age misteriosamente no não salvo também, despertando sua alma e sua mente para Deus. Parece haver uma sintonia entre o pregador e o Espírito Santo quando um este luta em oração e em preparo para pregar um sermão que fale ao coração do perdido. 

Tal sensibilidade nos remete ao conhecido poema de Carlos Drummond de Andrade, que nos ensina a versatilidade em trabalhar arduamente para se fazer entender pelos que nos ouvem:

Canção (Amiga Novos Poemas), José Olympio, 1948   
Eu preparo uma canção     
em que minha mãe se reconheça,            
todas as mães se reconheçam,    
e que fale como dois olhos.
Caminho por uma rua         
que passa em muitos países.        
Se não me veem, eu vejo  
e saúdo velhos amigos.
Eu distribuo um segredo    
como quem ama ou sorri.  
No jeito mais natural           
dois caminhos se procuram.         
Minha vida, nossas vidas  
formam um só diamante.    
Aprendi novas palavras     
e tornei outras mais belas.
Eu preparo uma canção     
que faça acordar os homens         
e adormecer as crianças.

Que arte infinitamente mais gloriosa temos nós, os pregadores, ao preparar e pregar sermões que penetrem nas almas e mentes dos que ainda não conhecem a Cristo. Não há nada mais importante para ser feito sobre a face da terra.

O evangelista Lucas nos dá o exemplo de como devemos ajudar as pessoas a terem uma boa compreensão da Palavra de Deus. Quando Lucas, o decidiu evangelizar seu amigo Teófilo, ele trabalhou muito, fazendo uma acurada investigação e colocando os fatos sobre a vida de Jesus em uma ordem que facilitasse a compreensão de seu leitor (Lc 1.3). Lucas era um médico, um acadêmico, um estudioso; sua mente era lógica, mas ele entendia que o seu leitor, conquanto excelentíssimo, precisava de uma exposição sistemática, linear, compreensível, e ele providenciou isto. O Evangelho de Lucas é o mais completo de todos para dar uma visão mais ampla da vida e obra de Jesus. Somente ele fala da experiência de Zacarias, do cântico de Maria, da visita dos pastores ao menino Jesus, da pecadora que ungiu os pés de Jesus, do bom samaritano, do rico e Lázaro, etc. Não satisfeito este médico amado escreve um segundo livro ao mesmo Teófilo (Atos 1.1), na tentativa de que ele de fato conhecesse tudo o que era importante a respeito da vida e obra do Salvador Jesus. Que zelo e amor observamos neste homem!

Que zelo deve ter um pregador ao preparar e pregar um sermão. O zelo deve ser dobrado quando este sermão for evangelístico. O pregador precisará de muito trabalho, em oração primeiramente e em preparo, para atrair a mente de um homem pecador, morto em seu pecado, para Cristo.

6-     A PREGAÇÃO EVANGELÍSTICA LEVA O PREGADOR A VER JESUS EM TODA A BÍBLIA.

Muitos pregadores reclamam que há poucos sermões evangelísticos na Bíblia, por isso pregam tão pouco evangelisticamente. Se procurarmos bem, no entanto, encontraremos Deus salvando o tempo todo, de Gênesis a Apocalipse. A Palavra revelada é uma fonte inesgotável do caminho missionário de Deus. A mensagem salvadora já está no Jardim do Édem (Gn 3.15), no chamado de Abraão, na libertação de Israel do Egito (Gn 12), no cerimonial, no cordeiro pascal (Êx 12), na voz apaixonada dos profetas. Os evangelhos nos mostram três anos de ministério do Senhor Jesus, salvando o tempo todo, pois o Filho do Homem veio buscar e salvar o perdido (Lc 19.10). No livro de Atos observamos com entusiasmo as pegadas salvadoras de Jesus na vida de seus enviados. As Epístolas não falam de outro assunto a não ser do amor de Cristo estampado na Cruz. O livro de Apocalipse, por sua vez, talvez seja o livro mais evangelístico de toda a Bíblia, pois ali Jesus já reina e há convites maravilhosos para o pecador.

 Ouçamos novamente Mbewe, que com paixão nos aponta na mesma direção, a de buscarmos em toda Bíblia a fonte para sermões evangelísticos:

O erro que muitos de nós cometemos é procurar apenas os textos bíblicos que contêm temas claros de redenção, ou seja, a Páscoa, o cordão vermelho de Raabe, a serpente de bronze feita por Moisés, etc. Depois de havermos pregado sobre estes textos ou outros textos evangelísticos claros (por exemplo, Isaías 55), nos sentimos emperrados e abandonamos a pregação evangelística. Esta é uma situação bastante infeliz”.A verdade é que a Bíblia tem bastante material evangelístico para o pastor gastar duas vidas com esse tipo de pregação! Se o espaço deste artigo permitisse, demonstraria isso. Mas quero indicar-lhes um mestre nesta área. Leiam duas das obras do Dr. Martyn Lloyd-Jones: Sermões Evangelísticos e Sermões Evangelísticos no Antigo Testamento. Estes livros são excelentes exemplos a respeito de como vocês podem usar textos do Antigo e do Novo Testamento para mensagens evangelísticas .

Cristo é o centro de toda a Bíblia, de toda a história da redenção. O pregador fiel o encontrará de Gênesis a Apocalipse.

Toda a história da salvação, sua pessoa, sua morte vicária, sua ressurreição, sua presença entre nós pelo seu Espírito, são marcas que devem permear toda pregação evangelística.

..  Como bem descreveu Anglada:
A reforma trouxe a obra vicária de Cristo para o primeiro plano da pregação. No coração da pregação dos reformadores está a clara e consistente proclamação da obra da graça de Deus em Cristo. Para os reformadores qualquer contrates agudo ente pregação teocêntrica e cristocêntrica era inconcebível. Na tradição reformada, o Antigo Testamento bem como o Novo são apresentados, lembrando que ambos os testamentos têm seu ponto focal em Cristo, de modo que a pregação bíblica não apenas prova ser teocêntrica como também cristocêntrica.

A pregação cristocêntrica e evangelística então, segundo o exposto é o plano lógico e linear de todo pregador que quer manter-se fiel às Escrituras.  Desviar-se deste caminho é tomar uma rota perigosa que pode conduzir os ouvintes para águas não cristalinas.

CONCLUSÃO

Parece não haver um caminho mais excelente do que este, o de compartilhar a Escritura com um propósito evangelístico. Assim, que cumpramos também este trabalho de evangelista em nossos sermões. As mensagens evangelísticas, pregadas de tempos em tempos, pelo resto da vida, podem ter reflexos na eternidade como nenhum outro ministério e ofício. O resultado só poderá ser um: a salvação de vidas.

  A maioria de nós não será como Billy Graham ou Bill Bright, que, cada um a seu modo conduziram milhares de pessoas a Cristo. Deus requer que tão somente cada ministro e pregador seja um servo obediente e faça, dentro da sua limitação, o trabalho de evangelista. O ofício de pregar as Escrituras é de uma relevância muito grande; no entanto, pregar a Escritura evangelisticamente, com sermões bem preparados e expostos debaixo de oração, é de uma urgência enorme. Comecemos já.

                                                                                            Pr. Luiz César Nunes de Araújo

  
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


BÍBLIA SAGRADA. Bíblia de Estudo Almeida. Versão Almeida Revista e Atualizada. (ARA) - Tradução do texto bíblico da 2ª Edição. Sociedade Bíblica do Brasil. Barueri, 1999.

MBEWE, Conrad. Pregação Evangelística um ofício perdido. Disponível em http://bit.ly/13nfumB.
MOLHER, Albert. Apascenta o meu rebanho. Editora Cultura Cristã. 2009.
SCHWARS, Christina. Evangelização básica. Editora Esperança. Curitiba. 2003.
STOTT, J. Romanos. São Paulo. ABU. 1994.
STOTT, J. Tu porém. São Paulo. ABU. 1982.
TIDBALL, Derek. Ministério segundo o Novo Testamento. São Paulo. Cultura Crista, 2009.




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Pr. Luiz César : EVANGELIZE A PARTIR DO PÚLPITO
EVANGELIZE A PARTIR DO PÚLPITO
Pr. Luiz César
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