Introdução
Com a morte do ator
Christopher Reeve, que interpretou o protagonista no filme o Super-homem, e com
a aprovação do projeto de Biossegurança pelo Presidente da República, no dia 24
de março de 2005 (Lei 11.105/05), despertou-se em todo o país a atenção para a
questão do uso de células-tronco embrionárias e da clonagem terapêutica pela
ciência. A nível mundial o interesse é maior ainda. No início de 2016 o mundo
foi surpreendido com a notícia que a Agência Reguladora de Fertilização e
Embriologia britânica autorizou pesquisadores do instituto londrino Francis
Crick a manipularem em laboratório embriões humano. É a primeira vez que
organizações oficiais de um país autorizam o procedimento. O objetivo da pesquisa é tentar entender mais
sobre os primeiros sete dias após a fecundação do óvulo. Dessa forma, os
resultados talvez ajudem a prevenir e combater problemas de infertilidade,
doenças, ou abortos espontâneos. De acordo com pesquisas da Tommy's (instituição
que investiga problemas de gravidez) estima-se que, na Inglaterra, entre 15 e
20% das gestações termine por conta de um aborto involuntário, sendo que 85%
deles acontecem nas primeiras 12 semanas de gravidez.
Qual deverá ser o
posicionamento cristão diante do uso de células-tronco embrionárias, ou também
chamadas de células mães, ou ainda células estaminais e da clonagem
terapêutica? Devemos ficar eufóricos ou
tristes; comemorar ou chorar; devemos apoiar a pesquisa ou repugná-la? Para os
cientistas e para os que sofrem de doenças degenerativas ou doenças neuromus-celulalares,
trata-se de uma oportunidade maravilhosa para a cura. Para alguns pode ser uma
chave para se ter filhos geneticamente perfetos.
Precisamos, no entanto, analisar os
referenciais que temos antes de responder. Será que a Bíblia tem algo a dizer
sobre este tema? Para tratarmos destas
questões os nossos tópicos serão em forma de perguntas. Através delas queremos
olhar para este assunto não com os olhos da ciência, mas com os olhos de Deus,
perguntando a Ele em sua
Palavra o que ele pensa de tal assunto. Caminhemos então:
I- O
QUE SÃO CÉLULAS-TRONCO?
Células-tronco ou células
hemopoiéticas são células primitivas, que dão origem a outras células. Elas são
encontradas em embriões, cordões umbilicais e em outros tecidos adultos, como
no sangue, na medula óssea, no trato intestinal, etc. As células-tronco têm
grande capacidade de autorreplicação, isto é de gerar cópias idênticas. Elas
são muito usadas cientificamente para substituir células que o organismo deixa
de produzir por alguma deficiência, ou tecidos doentes ou lesionados. Sendo
assim, as células-tronco já são usadas em pesquisa para possível ajuda da cura
de diabetes, esclerose, distrofia muscular, infarto, Parkinson e Alzheimer.
II- O QUE SÃO CÉLULAS-TRONCO
EMBRIONÁRIAS?
As células-tronco
totipotentes ou embrionárias são células que podem dar origem a qualquer dos 216
tecidos que formam o corpo humano. No momento da fecundação, quando o
espermatozóide fecunda o óvulo, começam as primeiras divisões celulares e
surgem as células totipotentes. As células totipotentes existem até quando o
embrião atinge 32 a
64 células. A partir daí, forma-se o blastocisto cuja capa externa vai formar
as membranas embrionárias, a placenta. Já as células internas do blastocisto,
que são chamadas de totipotentes, vão diferenciar-se em todos os tecidos humanos.
Até 14 dias depois da fecundação, as células embrionárias seriam capazes de
diferenciar-se em quase todos os tecidos humanos. Depois disso, começam a dar
origem a determinados tecidos.
As células-tronco
embrionárias são as únicas que têm a capacidade de se diferenciar em todos os
216 tecidos que constituem o corpo humano. Todas as demais têm capacidade
restrita. A medula óssea, por exemplo, forma apenas as células que formam o
sangue, como os glóbulos vermelhos e os linfócitos. A célula-tronco
embrionária, por sua, pode se transformar em qualquer célula, daí o grande
interesse em sua pesquisa e aplicação.
Uma célula-tronco
embrionária é uma célula onde houve a junção do espermatozóide com o óvulo. Já
se iniciou nela o processo de desenvolvimento humano. Ao se explorar esta
célula é necessário retirar o chamado “botão embrionário”, provocando a
destruição do embrião. Este é o grande problema ético deste procedimento.
III - O QUE É CLONAGEM TERAPÊUTICA?
A idéia é extrair uma
célula da pele do paciente e com ela fertilizar um óvulo esvaziado. Feitas sob
medida para o paciente, as células não seriam rejeitadas. A técnica, a mesma da
clonagem da ovelha Dolly, ainda não está disponível para humanos e é proibida
no Brasil. O resultado é uma célula híbrida com material genético completo e mostra
que a fusão celular pode acarretar uma reprogramação, em estado embrionário, de
milhares de genes da célula da pele. Constatou-se que as células híbridas
conservam propriedades das células troncas embrionárias, entre elas a
capacidade de se diferenciar em múltiplos tipos de células adultas.
A clonagem terapêutica pode ser usada,
por exemplo, para fabricar tecidos. A idéia é pegar uma célula, tirar-lhe o
núcleo, colocá-lo em um óvulo sem núcleo e ela começará a se dividir. Formando
células-tronco com a capacidade de diferenciar-se em todos os tecidos humanos.
IV - O QUE É UM EMBRIÃO?
Para a maioria dos
cientistas um embrião é apenas uma “massa celular”, enquanto outros defendem a
idéia de que a partir do momento em que as células-tronco de um embrião se
desenvolvem a ponto de começarem a formar os tecidos, se pode falar de um ser
vivo. Segundo o biólogo molecular Luiz Fernando Reis (CTNbio) é nesse ponto que
se retira a célula-tronco, ou seja, o núcleo da célula. A própria ciência tem
demonstrado, no entanto, que um embrião possui todo o genoma humano, isto é,
nele estão todas as características que o individuo terá quando adulto.
Mas o que é um embrião do
ponto de vista bíblico? Parece que a
Bíblia não faz distinção entre a vida real e a vida potencial. Algumas pessoas
são tratadas como reais mesmo antes de nascerem. Em Lucas 1:15 se fala de João
Batista, que ainda estava no ventre materno, como uma pessoa real. Na
concepção, isto é, na junção do espermatozóide com o óvulo, a pessoa já é
considerada por Deus como gente. A interrupção da gravidez, por exemplo, é
considerada no livro de Êxodo como um assassinato (21:22, 23). O Profeta Isaías
fala do Senhor que o criou e o formou desde o ventre materno (44:2, 24). Desde
o ventre o profeta se entendeu como que chamado por Deus para o ministério
profético (49:5). Outro profeta, Jeremias, fala que foi conhecido e consagrado
por Deus antes de ser formado no ventre materno (1:5). O salmista Davi fala de
Deus o tecendo e o formando no ventre de sua mãe. Fala ainda de seu crescimento
como de uma semente plantada na terra (Sl139: 13-15). O salmista sente o
cuidado de Deus para com ele já no período embrionário. Deus se importa com o
ser humano mesmo que este seja apenas e ainda um embrião. Todos estes textos
demonstram o valor da vida embrionária aos olhos de Deus. O maior valor, no
entanto se deu pelo fato de Jesus ter vindo ao mundo passando pela forma
embrionária, ainda que miraculosamente sem
que tenha havido a coabitação de José com Maria. Quando Jesus veio a ser
reconhecido como homem? Parece que já no momento da concepção já foi assim
conhecido. (Lc. 1:31-32). A conclusão a
que devemos chegar é que um embrião não é nada menos que um ser humano. Um
embrião é um organismo vivo, pertence à espécie humana, é irrepetível e único
sobre a terra. Ele ainda não se desenvolveu plenamente, mas já começou a sua
trajetória rumo à maturidade e ninguém, senão Deus pode interromper o seu
caminho.
O Quinto artigo da
Constituição Federal garante a todos o direito à vida. O embrião humano é vida
humana, que é garantida pelo Estado Democrático Brasileiro.
V - O QUE
DIZ A BÍBLIA?
Apelemos para a Bioética.
Todos os homens aprenderam a distinguir a dignidade e o valor do ser humano e a
dignidade e o valor das plantas e animais. As plantas e os animais foram
colocados para glória de Deus e para benefício dos homens (Gn 1:30). É lícito
se beneficiar de animais e plantas para o nosso bem estar. Quanto à dignidade
do homem é diferente. O homem não pode ser vítima de canibalismo, isto é, não
pode servir de alimento ao próprio homem. Tomar embriões humanos e
transforma-los em remédios é uma espécie de canibalismo. Fere a dignidade desse
que foi colocado como o ápice da criação. Tal prática se parece muito com o que
o Nazismo fazia com as pessoas, usando-as em experimentos científicos e por fim
transformando milhões em sabonetes para uso humano.
Um argumento em favor do
uso de células-tronco embrionárias muito comum é o de que se usarão
prioritariamente os embriões congelados, descartados para o uso de inseminação
artificial, embriões estes que serão jogados no lixo. É a teoria do mal menor.
Milhares de vidas poderiam ser beneficiadas com o que será em breve descartado.
No entanto nem mesmo a fertilização artificial e o congelamento de embriões
para fertilização in vitro têm qualquer apoio das Escrituras.
Ouçamos o Arcebispo Elio Sgreccia (Professor
de Bioética no Hospital Agostiniano Gemelli, de Roma): A grave conseqüência
da fecundação artificial é a destruição dos seres humanos, que são como os
demais seres vivos. Em segundo lugar é preciso pensar que filho precisa de um
pai e de uma mãe. Deve saber que é daquele pai e daquela mãe que ele recebeu
vida. Isto só pode acontecer quando o esposo se torna pai juntamente com a
esposa e a esposa se torna mãe com a união conjugal com o marido. Neste
encontro maravilhoso se encontram a vida e o amor. Na fecundação artificial
quem faz desabrochar a vida é um técnico que toma as células do pai e da mãe, e
os põe juntos, com se fossem sementes de ervas do campo. Sabe-se que destas
manipulações, alem da perda dos embriões, crescem as más formações dos filhos
que nascem. O filho que nasce da proveta, ao qual devemos de qualquer forma
muito respeito porque sempre se trata de uma criatura de Deus, jamais saberá
quem é seu pai porque seu pai é um técnico. A fecundação artificial semeia o
mal porque separa a vida do amor do pai e da mãe, porque leva a morte a muitos
embriões, porque priva os filhos da verdadeira maternidade e paternidade que
dão dignidade aos filhos.
Segundo
a Farmacêutica e bioquímica Alexandra Vieira (Fundação Zerbini), 90% dos
embriões gerados por clínicas de fertilização e que são inseridos no útero, nas
melhores condições, não geram vida.
Então
não é ético usar embriões congelados e descartados para outro uso porque também
não é ético até mesmo este tipo de congelamento e descarte de embriões. Assim
como não é ético o comércio de embriões humanos que se criará em nome da
“ciência” e da "pesquisa”. Sem falar das pesquisas para se criar corpos
acéfalos (sem cérebro) para transplantes, para que se diminua o risco de
rejeição, como se propõe, por exemplo, com a clonagem terapêutica.
Para
a bióloga Claudia Maria de Castro Batista, pesquisadora da Universidade Federal
de Rio de Janeiro e PhD e, Biologia das células-tronco pela Universidade de
Toronto, a aplicação de células tronco para pacientes com doenças incuráveis
tem pelo menos dois grandes riscos a clonagem terapêutica, visto que o embrião
é programado por meio de uma célula dada a proliferar e diferenciar-se em mais
de 200 tipos celulares. O primeiro é que, se você colocar tais células em
organismo humano, vai gerar um tumor. Outro problema é a possibilidade de
rejeição. Ela defende a exploração do potencial das células tronco adultas e
sublinha que nesse caso, inexiste o risco de câncer e de rejeição. (Correio
Brasiliense – 21 de maio de 2005.).
CONCLUSÃO
Todos nós queremos que pessoas
com doenças degenerativas, muitas das quais são de nossa própria família, no
entanto não podemos concordar que os fins justificam o meio. Deve-se defender o
indivíduo (vidas embrionárias) antes da sociedade.
Claude Bernard, afirmou que “O
principio da moralidade médica e cirúrgica é nunca realizar um experimento no
ser humano que possa causar-lhe dano, de qualquer magnitude, ainda que o
resultado seja altamente vantajoso para a sociedade.”. (Bernard c. An
Introducion to the study of experimental medicine. New York: Dover, 1957:101.)
Não podemos concordar que milhares de embriões
humanos, reconhecidos por Deus como gente, sejam usados como remédios para
qualquer tipo de doença e nem mesmo modifica-los para criar uma espécie de
super-homem. O homem é a glória da criação de Deus desde a sua concepção e não
deve ter a sua dignidade destruída mesmo que os fins sejam os mais nobres. Que
a ciência seja capaz de alcançar os resultados para os que têm doenças
degenerativas, que se desenvolva tanto ao ponto de trazer benefícios
incalculáveis aos homens, mas não à custa de outras vidas, ainda que seja
apenas um pequeno embrião, mas que em sua essência e aos olhos de Deus, é
homem.
Pr. Luiz César