“Mantém o padrão das sãs palavras”. (2 Tm 2.13).
INTRODUÇÃO - Perguntaram na sala de aula o que faziam os pais de alunos.
A filha pequena de um pastor amigo meu disse: Papai fala. De fato o ministério
pastoral é mais do que falar, no entanto o instrumento principal do líder
cristão é a fala. Usamos a linguagem para cumprimentar pessoas, orar, pregar,
aconselhar, exortar, etc. Talvez seja por isso que no texto acima o Apóstolo
Paulo adverte ao seu jovem discípulo que não abra mão das sãs palavras. Com
certeza as sãs palavras aqui fazem referência à sã doutrina que Paulo ensinara
a Timóteo, no entanto, como afirmava Calvino, devemos guardar firme a doutrina,
mas não só a substância, mas também a própria forma de sua expressão (As
pastorais de João Calvino). O servo de Deus, mas especialmente os líderes,
devem se preocupar com o que falam, mas também em como falam. Timóteo deveria
manter o mesmo padrão (no grego o mesmo que rascunho) que vira em Paulo. Assim,
também nós, devemos manter o padrão que dignifique a mensagem que guardamos e
pregamos. E o que podemos entender como as sãs palavras?
1-PALAVRAS NÃO PROFANAS – Em 1 Timóteo 1.9 Paulo fala de pessoas
profanas, que se opõem à sã doutrina. O
que é uma pessoa profana?
Segundo o dicionário profanar é
violar ou tratar com irreverência as coisas sagradas (Dicionário Luft). O líder
cristão não deve se referir às coisas de Deus de maneira leviana, impura,
desdenhosa, sem respeito. Será que neste sentido seria um ato profano desonrar
com nossas palavras um servo de Deus que é santuário do Espírito Santo? O líder
espiritual deve tratar com respeito e suntuosidade tudo o que é de Deus, como
por exemplo, as Escrituras, a Igreja, os filhos de Deus, a Ceia, o Batismo, o
louvor congregacional, os dons espirituais e tudo o que tem a ver com Deus e sua
obra. Há algumas advertências na Bíblia contra o profano e o ato de profanar (Êx.
31.14; Lv. 19.8; Nm 18.32; Hb. 10.29), mas nenhum chama tanta a atenção como a
que se refere a Esaú que profanou o seu direito de primogenitura (Hb 12.16).
Que nenhum de nós, seguindo pelo mesmo caminho, troquemos as bênçãos que nos
estão reservadas em Cristo, por pratos de lentilhas, quando tratamos com leviandade
as coisas de Deus.
2-PALAVRAS NÃO MALDIZENTES OU
CALUNIADORAS – Paulo chama a atenção especialmente para as mulheres, quanto a
esta questão (1 Tm 3.11. Tt 2.3). No entanto, todos, homens e mulheres,
precisam se cuidar para não ser maldizentes e caluniadores. A história tem
demonstrado o quanto uma calúnia pode destruir ministérios e até igrejas. Às vezes os líderes passam por situações tão
adversas e dolorosas que tendem a maldizer os seus superiores ou os demais
líderes. No entanto que bem tal atitude pode trazer? Aliás, há repetidas
advertências para os que a praticam (Jr. 6.28; 1 Co 6.10). O servo de Deus,
olhando para o exemplo do Senhor Jesus, suporta as aflições e em vez de
maldizer, bendiz (Lc 6.28;) e abençoa (Rm 12.14). Manter as sãs palavras é
também deixar de proferir as que maldizem, caluniam ou murmuram.
3- PALAVRAS NÃO CONTENCIOSAS – Em algumas ocasiões Paulo adverte que o
líder espiritual não deve ser contencioso (1 Tm 3.3; 1 Tm 2.14,23, 24; Tt 3.9).
Evitar contenda não significa defender a fé de maneira corajosa e perspicaz. Os
apologistas têm um lugar todo especial na história da igreja. Sem eles talvez
não tivéssemos os princípios doutrinários de hoje. Evitar contendas, no
entanto, é ser uma pessoa mansa e amável, mesmo quando tem opinião diferente de
seu interlocutor. É o contrário de esbravejar e de falar com nervosismo.
Segundo Calvino o não contencioso suporta as injúrias pacificamente e com
moderação, perdoa muito, e se necessário, engole insultos e não cobra tudo o
que lhe é devido. Ela foge das demandas e rixas (Pastorais de João Calvino). Um
líder contencioso não constrói relacionamentos saudáveis. Os seus liderados
sentirão medo dele e nunca simpatia e intimidade. Pessoas nervosas e briguentas
tendem a ficar sozinhas e geralmente não são lembradas para um trabalho
especial ou para uma igreja que preza pela saúde espiritual e emocional de seus
membros.
4-PALAVRAS NÃO PURAS – Aos Efésios Paulo orientara que todos os crentes deveriam
ter uma linguagem sadia. Da boca dos salvos não deve sair nenhuma palavra torpe
e sim unicamente a que for boa para edificação e para trazer graça aos ouvintes
(Ef. 4.29). Se este é o padrão para a igreja o é em especial para os ministros
de Deus. Os que pregam, os que instruem, os que aconselham não podem se
permitir uma linguagem impura. Seria uma incoerência tão grande como uma fonte
jorrar água doce e salgada, ou como alguém abençoar e amaldiçoar ao mesmo tempo
(Tg 3.10-11). Spurgeon fala a respeito de um pregador que caminhava para casa
ao lado de uma pessoa que acabara de ouvi-lo pregar. Segundo ela, tudo o que o
pregador falou perdeu o sentido enquanto ele proferia palavras sujas pelo
caminho (Lições aos meus alunos). Devemos tomar todo o cuidado para que a nossa
conversa entre um domingo e o outro, entre um púlpito e o outro, seja também
nobre e não reprovável. É compreensível que em momentos de descontração, de
laser, de conversas com amigos o ministro de Deus use uma linguagem menos
carregada, mais alegre, menos formal, no entanto ele deve saber reconhecer a
linha que separa esta de uma impura e mundana, que peca contra a sua imagem e
seu ministério.
5- PALAVRAS NÃO OPORTUNAS. Finalmente
permita-me falar aos meus alunos sobre falar a palavra certa na hora certa.
Devemos prestar atenção no que o Apóstolo das nações ensina em Colossenses 4.6,
quando diz: “A vossa palavra seja sempre
agradável, temperada com sal, para saberdes como deveis responder a cada um”. Isto
nos remete a Salomão que no mesmo sentido afirma: O homem se alegra em dar resposta adequada, e a palavra, a seu tempo,
quão boa é! (Pv 15.23). Uma palavra oportuna leva em conta os sentimentos
dos que a ouvem. Diante de uma pessoa que sofre a palavra do líder espiritual
tem que ser mais grave, mais doce, mais terna, mais consoladora. Deve-se tomar
o cuidado para em tempo de enfermidade, de dor e de luto não usarmos de
brincadeiras, de humor e de irreverência.
Dois obreiros que conheço bem, durante um velório, achando que estavam
sozinhos, brincaram um com o outro. Um parente do falecido os ouviu sorrindo,
sem restrição alguma. Aquela cena a perturbou muito e a fez perder um pouco o
respeito por aqueles obreiros. Se uma pessoa sorri para você, sorria também, se
ela chora, demonstre interesse. Este o princípio de Romanos 12.15, quando diz: Alegrai-vos com os que se alegram e chorai
com os que choram. O líder cristão
também deve tomar outros cuidados, como por exemplo, o de não denegrir com sua
linguagem as mulheres, os idosos, os doentes, etc. No mundo alguns fazem
questão de realçar a idade das pessoas como se fosse algo ruim envelhecer. O
servo de Deus precisa tomar todo o cuidado com os seus comentários para não
deixar de ser bondoso com todos. É sempre bom lembrar que o Senhor Jesus
tratava a todos com candura, bondade e docilidade. Como as igrejas apreciam o líder que sabe
usar bem as suas palavras.
CONCLUSÃO – Poderíamos ainda discutir outros aspectos desta linguagem
sã, como por exemplo, o compromisso com a doutrina cristã e a fidelidade do
líder em proclamá-la. Parece ser este o sentido principal das palavras de
Paulo, no entanto preferi neste momento abordar não o que se fala, ao como se
fala, deixando esta outra parte para momento mais oportuno. Penso sinceramente
que se o líder cuidar destes pontos tão simples colherá bons frutos.
Que Deus abençoe a todos.
Pr. Luiz César