Quem não se
sente atraído em promover em sua igreja campanhas que têm se mostrado tão
eficazes em muitas outras.
Tem sido comum algumas igrejas fazerem “campanhas” de consagração,
de milagres, de vitória, de propósito. Muitas vezes esta tem dias definidos,
como, 12, 21, 40, etc. O que dizer sobre isso? Elas parecem tão relevantes, tão eficazes.
Seria uma campanha um método legítimo para o crescimento da igreja?
Ainda que não haja nenhuma
proibição na Bíblia para campanhas com datas definidas devemos ter em mente o
seguinte:
1- Não existe ordem nas Escrituras para a igreja se
fazer campanhas em determinados dias do ano. A vida cristã tem que ser vivida
intensamente nos 365 dias do ano e não apenas em dias estabelecidos. Reservar
datas especiais se assemelha muito às novenas católicas e ao ramadam do islamismo.
Alguém imagina que Deus será mais gracioso com um filho seu porque ele faz
alguma campanha? Paulo orienta que ninguém deve ser julgado por causa de
comida, bebida, dia de festa, ou lua nova, ou sábados (Cl 2.18). Todos os dias
são especiais e não somente alguns. Os crentes
podem se tornar reféns destas campanhas e viverem dois cristianismos, um dentro
da campanha e outro fora ela. Um tempo de maior consagração e outro,
inconscientemente, é claro, de menor.
2- Não existe na Bíblia nenhuma ordem para se
observar números de dias como se tivesse algum significado neles. Conforme Luiz
Saião, para alguns parece que a numerologia bíblica é semelhante à astrologia e
a outras ciências ocultas. Para ele, os números na Bíblia são simbólicos e o
seu significado deve ser procurado no próprio texto, a partir da conjuntura
histórica e da análise gramatical do mesmo. A preferência que algumas igrejas têm
pelos números 12, 21 e 40, por exemplo, não corresponde ao princípio
hermenêutico de interpretação bíblica sobre eles.
3-
Pode parecer que uma igreja que se
envolve com campanhas não tenha um programa sistemático de desenvolvimento. As
campanhas, em alguns casos, substituem a eclesiologia da igreja, a sua agenda
anual, o seu calendário litúrgico. Tem
muito pastor sério, competente, que poderia desenvolver um ministério muito
mais relevante, que está, no entanto, a reboque de campanhas diversas. As
igrejas neopentecostais, por exemplo, sobrevivem em função de campanhas e nada
mais. Ao terminar uma campanha elas dão início à outra para que os seus membros
se tornem reféns destas programações.
4- Se a igreja perde muito em viver só de
campanhas, os membros ainda mais. Alguns ficam aguardando os dias “especiais”
para começarem a se consagrar. Antes e depois das campanhas há uma espécie de
“licença” para pecar. Jamais ouvimos de Jesus, de Paulo, ou de qualquer outro
escritor bíblico uma vida cristã assim, departamentalizada, com temos de mais
consagração do que outros.
O ideal na vida cristã é a perenidade espiritual, o equilíbrio, a
constância nos exercícios espirituais. Uma campanha pode até trazer resultados
imediatos, mas no futuro levará a um vazio espiritual. Quando as campanhas
acabarem, ou quando a igreja vizinha tiver uma campanha mais atrativa, então a
tristeza espiritual se instalará. Façamos como o salmista que entendia que todo
dia era dia de Deus. Ensina-nos ele: Este
é o dia que o Senhor fez; regozijemo-nos e alegremo-nos nele (Sl 118.24). A
ordem bíblica é que o justo viva de fé em fé (Rm 1.17) e não de campanha em
campanha.
Pr. Luiz César Nunes de Araújo.