Porque Deus não nos tem dado espírito de covardia, mas de poder, de
amor e de moderação (2 Tm 1.7).
Neste
tempo em que nossos olhos se voltam para os ideais dos reformadores,
permitam-me exaltar uma de suas características principais: a coragem. Eles foram muito corajosos. Em alguns casos
abriram mão de qualquer segurança pessoal em função da verdade do evangelho.
Como é triste no líder cristão a covardia em
não se fazer o que é certo. Líderes covardes se escondem atrás de falácias,
dizem que o importante é a unidade, ou o bem comum, ou coisas assim. Desta
forma, querem sempre ficar “bem na fita”; não se expõem, não tomam posições
mais graves, nunca se arriscam, para estes sempre tem um “jeitinho de contornar
as situações complicadas”. Lutero poderia ter agido assim. Talvez, se o
fizesse, não teríamos a divisão da igreja de então. Mas ele não fez desta
maneira.
Líderes
estes, por covardes que são, trabalham e esperam que outros façam o trabalho
duro e impopular. Trabalham de tal forma que outros se atiram, enquanto eles
assumem um papel de juízes e conciliadores tão somente. Um líder assim não
poderia assumir o lugar de Moisés no deserto, nem mesmo de Josué diante dos
inimigos na nova terra, nem de Paulo diante dos inimigos do evangelho, nem de
Martinho Lutero diante da fúria da igreja católica, nem mesmo o lugar de Calvino
diante dos opositores em Genebra.
No
texto que citamos Paulo instiga a Timóteo a não ser covarde. A covardia não vem
de Deus, pelo contrário é uma das marcas de quem vai ao inferno ( Ap 21.8 ).
Paulo não entende que a coragem seja o único quesito para um líder. O texto
também fala de amor e moderação. No entanto, o amor e a moderação são mais
fáceis e têm a preferência de muitos.
Talvez,
por este excesso de covardia é que uma igreja tolera pecados que antes não
admitia; que denominações hoje aceitam em seus quadros obreiros que não têm
condições morais de ministrar à congregação. Vejamos o exemplo de igrejas que
hoje recebem sacerdotes homossexuais em suas fileiras. A igreja católica, por
exemplo, durante muitos anos, diante dos pecados morais de seus sacerdotes,
simplesmente os mudavam de paróquia, como se isso fosse uma solução digna.
Penso que um homem adúltero não deveria cuidar de uma paróquia em nenhum lugar
do mundo, especialmente se tratando de líderes evangélicos.
Conheço
pastores que temem os homens mais do que a Deus, que preocupados com suas
posições, não se posicionaram mesmo diante de graves pecados. Uma liderança
assim não atrai a simpatia do Espírito Santo sobre ela.
Tenho
aprendido que há duas maneiras de liderar: uma é não ver nada, não fazer nada,
não recriminar nada, e abrir mão dos princípios de disciplina tão claros nas
Escrituras. Parece que este é o espírito deste século. A outra é exercer uma
das mais importantes características da liderança, que é fazer o que é certo e
o que se espera de um líder espiritual. Um líder cristão está sujeito a errar
pelo excesso de zelo, mas errar por não se expor e não decidir é um erro muito
maior.
O
historiador escocês Thomas Carlyle procurou sintetizar a vida de Knox da
seguinte forma:
Ele teve as duras lutas de uma existência que combatia Papas e
Principados; na derrota, contenda, guerra de uma vida inteira, remando como
escravo nas galés, vagando em exílio. Duras lutas, mas ele venceu.
Perguntarem-lhe em seus últimos instantes: Tens esperança? Quando ele não podia
mais falar, ele levantou o dedo apontando para cima, e assim morreu. A ele a
honra! Suas obras morreram. A letra de sua obra morre, como a de todo homem.
Mas o espírito da mesma, jamais.
Que
Deus nos ajude a vivermos assim de maneira tão corajosa também.
Luiz César Nunes de Araújo.