E perguntaram: Onde está o recém-nascido Rei dos Judeus? Porque vimos a
sua estrela no Oriente e viemos para adorá-lo (Mt. 2:2).
O
menino Jesus nasceu em Belém. Bem distante dali, no oriente, possivelmente na
Pérsia,
um fenômeno no céu chama a atenção de alguns estudiosos; uma
estrela está se movendo, rasgando o céu. Por orientação de Deus eles conseguem
fazer a correlação da estrela com o menino que nascera em Belém. Concluíram que
ali em Israel nascera um rei, o rei dos judeus, e tomam a melhor decisão de
suas vidas - ir até o infante
Haverá
sempre uma estrela, ou pregadores da verdade, ou testemunhos ardentes de gente
de Deus, que apontarão para Jesus. Haverá sempre uma luz, no céu, na terra, ou
na maior escuridão onde alguém possa estar, que anunciará, que a verdadeira luz
que ilumina a todo homem nasceu em Belém.
Os magos, que segundo a tradição que
remonta do século XII supostamente tinham
os nomes de Baltazar, Gaspar e Melquior,
resolveram andar após a estrela. Caminharam vários dias na expectativa de um
dia encontrarem um menino que deveria ser cheio de graça, visto que no céu de
Deus uma estrela muda a sua órbita para saudá-lo e anunciá-lo. “Nós vimos a sua estrela no céu”; eis uma
frase que nunca mais será dita a respeito de qualquer outra pessoa.
Chegando a Jerusalém, o lugar mais
óbvio para o nascimento de um Rei, visto que ali está a realeza; se
decepcionaram. Ninguém sabia de nada. Como pode uma estrela agitar o céu de
todo o Oriente e em Jerusalém reinar a indiferença e o silêncio? Como é possível que magos num estudo de astronomia
descobrissem o nascimento de Jesus, enquanto escribas das escrituras sagradas,
detentores de toda a tradição profética ficavam desapercebidos?
E o que é mais estarrecedor é que depois de
uma averiguação do lugar e da data do nascimento de Jesus, ninguém de Jerusalém
foi até o lugar onde Ele supostamente
havia nascido. O menino Jesus, tão perto dos olhos, mas tão longe do coração.
Jerusalém não se importou. Nenhuma
festa, nenhum sino se dobrou, nenhum sinal. O único sentimento era de medo. “Ele não está aqui”, que declaração
terrível. Não encontrar Jesus no centro de todas as coisas, não senti-lo no
trono do nosso coração, não percebê-lo nos nossos eventos. O pavor que encheu o
coração de Herodes ainda vive no peito de quem ainda não seguiu a estrela até
Belém. Quanta gente hoje em dia, fazendo uma leitura de seu próprio coração se
vê forçado a dizer: Ele não está aqui.
Mas quem estava longe chegou e
encontrou o menino. Ali estava a parada final da estrela e o início de um novo
tempo. Os Magos viajantes contemplam na figura de um pequenino bebê, a razão da
estrela não só passear no céu, mas de ter sido criada, porque nele e para Ele
foram criadas todas as coisas.
Que revelação maravilhosa tiveram
estes persas; que encontro triunfal. A longa viagem valera a pena. E nem por um
só momento eles poderiam imaginar que todas as gerações futuras fariam menção a
eles, e que nas canções que se fizessem para celebrar o natal não faltariam
estrofes que fizessem lembrar a grandeza de seus gestos e o brilho de sua caminhada;
que nos cartões natalinos eles seriam retratados, e mesmo nos presépios, ainda
que mais longe que os pastores, suas imagens estariam presentes perto do menino
Jesus. Eles também eram estrelas.
No entanto, pecaríamos contra Deus e
não faríamos bem nenhum aos magos se não voltássemos os nossos olhos para o
menino que está na manjedoura e não fizéssemos o mesmo que eles fizeram: Eles prostraram-se, adoraram e deram presente:”
Ouro, Incenso e Mirra. Presentes
reais que faziam contraste com a singeleza da estrebaria. De um palácio na
Pérsia a uma manjedoura cheia de feno numa cidadezinha em Israel chamada Belém.
E mesmo diante da pobreza que rodeava a criança, não se importaram. Ajoelharam
e adoraram. Ali eles davam sinais de que um dia todo joelho se dobrará diante
do Rei dos Judeus.
Naquele presépio vivo temos num sentido bem
prático o desenrolar de atos de profundo sentido e generosidade. Ali duas
classes sociais se envolveram com Jesus na manjedoura, a primeira rica e culta
(Os magos), a segunda pobre e leiga (Os pastores). O chamamento para a
assistência ao menino Jesus e feita a estas duas classes. Ricos e pobres
chamados a seu tempo.
Os
ricos estavam mais longe e tiveram que andar mais; quase sempre os que mais
podem ajudar estão mais distantes. A jornada paradoxal, vai do luxo à miséria
(a estrebaria). Da mansão ao cheiro de esterco e feno do estábulo em Nazaré.
Quem está mais longe porque tem mais, tem também que andar mais, para chegar
perto de quem não foi privilegiado com a riqueza. Talvez a maior barreira nem
seja a geográfica, mas a social e emocional.
Enfim,
encontraram o menino pobre, conquanto rei. Presentearam-no e o adoraram.
Representantes de uma outra classe e cultura se dobravam à luz de um candeeiro
diante de Jesus.
No
ato dos magos estava registrado não uma doutrina, mas um princípio, o de que
quem tem ouro, incenso e mirra, quem tem pão, roupa ou qualquer outra provisão,
tem que sair de onde está, seguir a orientação divina (ainda que não seja uma
estrela andando no Céu), e ir até onde estão aqueles de quem Jesus disse: Quem fizer a um destes pequeninos está
fazendo a mim. Esteja este pequenino em um orfanato, em um beco, debaixo de uma
ponte, nos lixões, nas favelas ou nas calçadas de nossas ruas, ou mesmo nos
bancos de nossas igrejas.
Os
magos que se sentiram confortáveis naquele lugar se sentirão ainda melhor
quando, guiados pelas mãos de Jesus, entrarem pelas portas de pérolas da Nova
Jerusalém e testemunharem da glória que estava reservada para o menino que
nasceu numa estrebaria. Dos palácios da Pérsia até a manjedoura, dali até as
moradas eternas. Eis uma caminhada que desafia a cada um de nós a ir sempre até
Jesus e dizer: “Viemos para adora-Lo.”
Pr.
Luiz César Nunes de Araújo
[1] Segundo
Russell N. Champlin, a tradição de que os Magos eram da Pérsia (hoje o Irã) se
deve ao fato de que a primeira igreja da natividade, edificada em Belém, por Constantino,
em honra de sua mãe, Helena, exibia um enorme mural com os três magos por
detrás do altar. Mais de dois séculos mais tarde, quando os persas invadiram a
Palestina, decididos a destruir todos os lugares de adoração cristã, alguns de
seus oficiais, montados a cavalo, abriram os grandes portões de bronze da
igreja, somente para darem de frente com esse mural, que retratava homens como
eles, vestidos em seus costumes nacionais. Ante isso, desmontaram e se
prostraram perante as pinturas, fugindo prontamente em seguida, deixando os
portões de bronze firmemente cerrados por detrás deles. Desse modo, aquele
templo foi deixado intacto
[2] Magos
eram eruditos que se distinguiam no campo da matemática, da astronomia, da
astrologia, da alquimia e da religião. Geralmente eles eram conselheiros das
cortes reais.
[3] Em
Milão, no século XII o imperador romano, Barbarroxa trouxe de Constantinopla o
que se dizia ser os corpos dos Magos, que estavam ali pela ação de Helena, a
mãe de Constantino. Ali, em Milão,
Barbarroxa os batiza de Gaspar, Melchior
e Baltazar.