Foi Cipriano de Cartago que defendeu, pela primeira
vez na história da igreja, que fora dela não há salvação (Extra Ecclesiam
nulla salus), no ano 258.
No entanto, esta verdade faz parte da revelação
bíblica, primeiramente. Jesus tem uma igreja que Ele chamou de sua. Sobre esta
pedra, edificarei a minha igreja, disse Ele (Mt 16.18). Afirmou ainda que esta
igreja tem autoridade espiritual sobre seus membros (Mt 18.15-20). A igreja é
invenção divina.
Paulo tem a
compreensão espiritual de que a igreja é o corpo de Cristo e vive em união
vital com Ele, o seu cabeça (Ef 5.22 e 23; Cl 1.18). Se alguém não está no
corpo não está ligado à cabeça.
Quando Jesus enviou os seus discípulos para evangelizar
e discipular os convertidos (Mt. 28.18-20), o que veio posteriormente foram
igrejas. O livro de Atos tem dezenas delas. Estas nasceram pelo esforço
evangelístico dos apóstolos, mas especialmente de Paulo. As igrejas tinham
endereço, se reuniam em cidades (Corinto, Éfeso, Tessalônica, Chipre etc.), em
casas, em espaços abertos e logo se reuniriam em salões. As primeiras igrejas
já contavam com pastores, presbíteros, diáconos, mestres, evangelistas. Elas
pregavam, cantavam, disciplinavam, ministravam a ceia, batizavam. O Novo
Testamento é o registro de tudo isso.
A igreja não é redentora, mas é agente missionário
de Deus para proclamar o evangelho redentor. Ela é instrumento de Deus para
reconciliar consigo o mundo, pois em Cristo ela tem o ministério da
reconciliação. Ao sermos reconciliados com Deus, recebemos, não somente a
salvação, mas a incumbência de ajudarmos na reconciliação do mundo com Ele (2
Co 5.18).
A história tem nos mostrado que pessoas podem ser
salvas fora de um ambiente de igreja local, no entanto, é sob a influência de
uma comunidade visível que a maioria dos salvos tem o seu encontro pessoal com
Cristo e especialmente tem o desenvolvimento de sua salvação. Mesmo os que se
convertem fora da igreja, a buscam em seguida para o seu crescimento
espiritual.
Deixar de frequentar uma igreja local, sendo esta
bíblica em sua doutrina já era considerado pecado nos tempos do Novo
Testamento. “Não deixemos de congregar-nos, como é costume de alguns”, nos
adverte o autor aos Hebreus no capítulo 10, verso 25.
Dizer que a igreja não é física, que não precisa de
templo, que está onde eu estou, não responde positivamente aos mandamentos do
Novo Testamento. Quem não se reúne não é um congregante, não recebe a
orientação, nem a disciplina bíblia; não usa os seus dons para a edificação do
corpo de Cristo. Quem não se reúne está fora das bênçãos que são derramadas
unicamente em um ambiente de culto. Há bênçãos individuais, mas há bênçãos para
o corpo de Cristo que se reúne. A salvação é individual, mas o exercício da fé
é coletivo.
Os que abandonam a igreja, podem estar dando sinais
de que nunca foram ligados ao corpo de Cristo. João nos adverte da seguinte
forma: Eles saíram de nosso meio; entretanto, não eram dos nossos; porque, se
tivessem dos nossos, teriam permanecido conosco; todavia, eles se foram para
que ficasse manifesto que nenhum deles é dos nossos (1 Jo 2.19).
Quem não frequenta uma igreja verdadeiramente
cristã, pode não ser verdadeiramente cristão. O argumento de que a igreja é
imperfeita não dá a ninguém um salvo conduto para se afastar dela. Quem se afasta
não é melhor do que os que ficam.
A igreja é
militante, ainda em caminhada, imperfeita e limitada, mas ainda assim é o corpo
de Cristo. Particularmente, nestes quase trinta e cinco anos de ministério
pastoral nunca conheci um crente que permanecesse sadio espiritualmente fora do
ambiente de uma igreja local. A maioria se torna crítica da igreja, se enche de
argumentos que lhes são razoáveis, mas também se torna mundana e alguns em extremo.
É preciso
frequentar a igreja, é experimentar suas alegrias e tristezas, suas virtudes e
defeitos, suas crises e vitórias. O dia triunfante da igreja ainda não chegou,
este se dará quando Cristo a chamar ao Céu, mas enquanto isso devemos viver como
igreja.
Às vezes a igreja que frequentamos se afastou
demais das Escrituras. Uma igreja pode se perder oscilando entre o liberalismo
(pode-se tudo) e a rigidez (não se pode nada). Uma igreja pode abandonar a
pregação bíblica, pode renunciar à verdadeira doutrina, pode se perder em um
evangelho tão somente humano e social. Neste caso, tendo o salvo dado a sua
contribuição para reverter este quadro e não alcançando êxito, ele deve
procurar uma nova igreja, não necessariamente mais perto de sua casa, nos ensinou
alguém, mas mais perto de sua Bíblia.
Frequente a igreja, seja ela, lute por ela, faça
parte de sua história, contribua para a sua edificação. Uma igreja, por menor e
por mais simples que seja, é o corpo de Cristo, é a noiva do Cordeiro, e como
tal, deve ser cuidada.