Em uma reunião de oração que eu dirigia, uma anciã começou a orar; uma
jovenzinha que nos visitava pela primeira vez se pôs a orar também, ao mesmo
tempo, em voz alta. A irmã que iniciara a oração não entendeu aquilo, não conseguia
mais orar, teve que interromper a sua oração. Depois eu disse em particular à
jovem que nos visitava: Aqui na igreja oramos um após o outro. Um ora e o
outros acompanham a oração com o amém. A jovem se levantou e foi embora da
reunião.
Sempre que me lembro deste triste episódio me ponho a analisar o que a
Bíblia fala sobre isso. Que tipo de oração devemos fazer? Quais os parâmetros
bíblicos para ela? Não busco saber a forma como eu gosto de orar, pois isto não
está acima do que a Bíblia nos ensina, mas o de fato a Bíblia nos ensina. Deus
mesmo formatou a forma do culto que lhe agrada e Ele tem orientações seguira em
sua Palavra sobre isso.
Que tipo de oração responde ao que Deus ensina em sua Palavra? Vejamos:
A oração bíblica não deve ser dirigida ao Filho ou ao Espírito Santo, ou
mesmo à Trindade. Todas as orações na Bíblia são dirigidas a Deus Pai.
O próprio Jesus nos ensinou isto ao dizer: ...Vós orareis assim: Pai nosso,
que estás nos céus, santificado seja o teu nome (Mt. 6.6). E ainda: Se
pedirdes alguma cosias ao Pai, ele vo-la concederá em meu nome (Jo 16.23).
Paulo tem esta compreensão ao dizer: Por esta causa, me ponho de joelhos
diante do Pai, de que toma o nome toda família tanto no céu como sobre a terra
(Ef. 3.14,15).
A única
exceção que temos na Bíblia sobre a quem devemos dirigir a nossa oração está em
Atos 7.59 quando Estêvão diz: Senhor Jesus, em tuas mãos entrego o meu
espírito. No entanto, aqui, não se trata de uma regra, mas de um momento
único onde o servo de Deus está morrendo.
Pois bem,
Jesus também deve ser citado em nossas orações. Oramos no nome dele. A razão de fazermos isto é que Jesus é o único
que leva a nossa oração ao Pai. Ele está assentado ao lado do Pai e intercede
por nós, conforme Romanos 8.34.
Jesus
instruiu aos seus discípulos a orarem ao Pai em seu nome. Em João 14.13 Ele
diz: E tudo quanto pedirdes em meu nome, isso farei, a fim de que o Pai seja
glorificado no Filho. O mesmo princípio está em João 15.16 quando Jesus
assegura que tudo o que for pedido no nome dele, será concedido.
Não
usamos o nome de Jesus como uma palavra mágica, sem sentido, mas o fazemos por
orientação do próprio Deus. Os Apóstolos, no mesmo princípio, expulsavam
demônios no nome de Jesus (At 16.18); curavam em nome de Jesus (At 3.6);
disciplinavam em nome de Jesus (At 4.4,5) e ensinavam que tudo o que o crente
fizer, em palavra e em ação, precisa ser feito em nome de Jesus (Cl 3.17).
Finalmente devemos observar o maravilhoso papel do
Espírito Santo nas orações. O seu papel é nos auxiliar na tarefa de orar
corretamente e constantemente. Paulo tem esta compreensão ao dizer que o
Espírito Santo nos ajuda a orar como convêm (Rm 8.26). Os que têm o Espírito
Santo oram melhor (Judas 20).
2 - Apenas os salvos podem orar.
É certo
que temos na Bíblia algumas orações de pessoas não salvas respondidas por Deus.
Mas todas são de arrependimento, de invocação ao nome do Senhor para serem
salvas, pois quem invocar o nome do Senhor será salvo (Rm 10.11).
Deus ouve
aqueles que se tornaram Filhos de Deus através de Jesus Cristo. A relação entre o salvo e Deus é a mesma de
Pai e filho. Ele nos ouve porque em Cristo fomos feitos seus filhos (Lc. 11.9-13;
Ef 2.18-19). Paulo nos auxilia ao dizer que sendo filhos, Deus enviou ao nosso
coração o Espírito de seu Filho, que clama: Aba, Pai (Gl 4.6).
Somente os filhos demonstram confiança no Pai, por
isso oram com fé, na convicção de que Deus lhes atenderá. O nosso Salvador nos
assegurou que devemos crer na resposta de Deus quando oramos (Mc 11.24). Vale
ressaltar neste ponto que o nosso pecado quebra a nossa comunhão com Deus e faz
com que nossas orações sejam rejeitadas (Is 59.2). Ao pecar não perdemos a
salvação, pois uma vez salvo, salvo para sempre; mas perdemos a comunhão
deliciosa com o nosso Pai. A promessa de atender a oração é feita aos que
permanecem em Cristo (Jo.15.7; 1 Jo. 3.22). Mas Deus nos deu a direção em
tempos assim onde nos encontramos em pecado. Devemos nos aproximar dele, em
arrependimento, confessando com sinceridade os nossos pecados e tomando a
decisão de abandonar o pecado imediatamente. Que bom que temos na Bíblia esta
promessa, a de termos os nossos pecados perdoados mediante a confissão (1 Jo.
1.9; Sl 51.10).
3 - Podemos orar a qualquer hora e em qualquer lugar e em uma posição respeitosa.
O salvo pode horar a qualquer momento. Temos
exemplos na Bíblia de pessoas orando de madrugada, ao meio-dia, à tarde, e à
noite (Sl 5.3;55.17; 88.1; At 3.1). Cada
servo de Deus deve dedicar um tempo especial para a oração. O importante não é
o horário da oração, mas o hábito de orar diariamente.
Temos também
o exemplo e a ordem bíblia para orarmos em Espírito o tempo todo. Isto é, nos
intervalos entre as nossas orações com hora marcada, podemos nutrir a nossa
comunhão com Deus orando o tempo todo em Espírito. Paulo conhecia bem esta
prática ao dizer: Com toda oração e súplica, orando em todo tempo no
Espírito e para isto vigiando com toda a perseverança e súplica por todos os
santos (Ef.6.18). Judas também tem esta compreensão ao afirmar que devemos
ser edificados na fé santíssima e orar no Espírito Santo constantemente (Jd
20).
Também temos segurança bíblica ao dizer que podemos
orar qualquer lugar. Temos exemplos na Bíblia de oração na igreja, nos lares,
no quarto, na praça e até na praia (Mt. 6.6; Lc. 18:10; At 4.24; 20:36-38).
Quanto à posição para oração não temos na Bíblia
nem uma ordem e nem uma proibição quanto a ela. O que temos são modelos. Há
orações de gente em pé, gente de joelhos e até gente deitada em tempos de
enfermidade (Is 38.2). No entanto, devemos sempre nos lembrar que a oração é um
momento especial, solene, diferente, e que devemos, seja em que posição for,
garantir que ela seja digna de um encontro com Deus, respeitosa, que reflita a
nossa humildade diante dele.
4 - Devemos descansar na resposta de Deus às nossas orações.
Quando oramos apresentamos a Deus a nossa petição e
descansamos em sua resposta. Ele pode responder as nossas orações de forma
imediata, como fez com Ezequias quando pediu para não morrer naqueles dias,
visto que estava enfermo (Is 38.1-8); ou como Paulo que teve tantas orações
respondidas na mesma hora em que orou (At 28.8). A história da igreja tem
inúmeros exemplos de Deus respondendo positivamente e imediatamente às orações
de seus filhos.
Também Deus pode impor-nos um tempo de espera antes
de responder. No Salmo 5, no verso 3, Davi diz: De manhã, Senhor, ouves a
minha voz; de manhã te apresento a minha oração e fico esperando. Esperar
no Senhor é uma forma de crescer espiritualmente. Pessoas maduras na fé não
tentam apressar a Deus em suas decisões. Isaque, por exemplo orou e esperou
durante 40 anos por um filho. Penso que este é o significado do Salmo 137.5,
que diz: Entrega o teu caminho ao Senhor, confia nela, e o mais ele fará.
Deus também, em sua soberania e vontade, pode dizer
não às nossas orações. Paulo teve esta compreensão quando pediu que Deus
tirasse dele o “espinho na carne”. Deus respondeu claramente que não faria
isso, conquanto derramasse uma graça especial para ela o suportar (2. Co
12.7-10. Jesus fala da oração do fariseu que não pode ser respondida por não
agradar a Deus em seus propósitos (Lc. 18.14).
A verdade é que Deus sabe o que é melhor para nós, por isso, conquanto ouça todas as nossas orações, responde da forma como lhe apraz, buscando sempre o nosso crescimento espiritual. A melhor oração que podemos fazer é a que Jesus nos ensinou: Venha o teu reino; faça-se a tua vontade assim na terra como no céu (Mt 6.10). Em qualquer circunstância, no entanto, devemos esperar que enquanto oramos somos transformados, experimentamos uma deliciosa comunhão com Deus e nos entregamos com mais facilidade aos seus propósitos.
5 -Devemos buscar agradar a Deus por meio de nossas orações.
O nosso Deus, além de ouvir nossas orações nos
revela em sua Palavra que tipo de oração lhe agrada. É possível orar de maneira
inconveniente e não obter resposta do Senhor, conforme nos adverte Tiago:
Pedis e não recebeis, porque pedis mal, para esbanjardes em vossos prazeres
(4.3).
O próprio Senhor Jesus nos deu o maravilhoso
exemplo da oração que agrada a Deus. No Getsêmani Ele fala a assim ao Pai: Meu
Pai, se possível, passe de mim este cálice! Todavia, não seja como eu quero, e
sim como tu queres (Mt. 26.39). Para Jesus orar é buscar a vontade de Deus:
Seja feita a tua vontade, assim na terra como no Céu (Mt. 6.10).
Deus também tem um apreço pelas orações feitas com
confiança. A fé viva, demonstrada em oração, muito lhe agrada. Tiago contribui
mais uma vez com a nossa compreensão ao dizer:
Peça-a, porém, com fé, em nada duvidando; pois o que duvida é semelhante
à onda do mar, impelida e agitada pelo vento. Não suponha esse homem que
alcançará do Senhor alguma coisa (Tiago 1.6,7). De fato, é na oração que
demonstramos fé no Senhor e sem esta fé é impossível agradá-lo (Hb 11.6).
Ainda podemos dizer que Deus aprecia a oração
persistente, que não desanima com facilidade (Lc. 11.1-13); bem como a oração
humilde e contrita. Orações soberbas não são aceitas por Ele, nem tão pouco
orações de pedido de perdão feitas por quem não perdoa a seu próximo (2 Cr
7.14; Sl 51.17; Mt. 6.12 e Mc 11.25).
Conheci muitas pessoas que se vangloriam em passar
um bom tempo em oração individual, o que é maravilhoso, mas que não conseguem
orar com outros irmãos, o que demonstra imaturidade espiritual. Mais uma vez
nos recorremos ao que a Bíblia nos ensina. Jesus falou da oração secreta, no
recôndito do lar (Mt. 6.6); Ele mesmo, desenvolveu uma rica vida de oração
solitária (Mt. 14.23); mas não renunciou à oração comunitária ao reclamar que
seus discípulos não oraram com Ele no dia mais triste de sua vida (Mt 26.40).
Paulo, conquanto tenha tido períodos enormes de
isolamento, incluindo prisões, onde orou sozinho; orienta a igreja à prática da
oração coletiva em vários momentos. Em Romanos 12.12 ele fala à toda igreja: na
oração sede perseverantes. Aos Filipenses ele volta a mencionar a oração
comunitária: Não andeis ansiosos de coisa alguma; em tudo, porém, sejam
conhecidas diante de Deus as vossas orações (Fl 4.6). Devemos orar de
maneira solitária, mas também devemos orar como família, como irmãos e como
igreja. Uma forma de orar completa a outra.
Agora voltemos à introdução deste artigo que, que
ensejou todo o restante do texto, e analisemos a forma da oração coletiva. Qual
a orientação bíblica sobre a questão? É bom que se diga mais uma vez que aqui
não buscamos a forma que mais nos agrada, mas a que a Bíblia nos ensina.
Iniciemos pelo Antigo Testamento. Temos muitas
orações nas páginas vetero-testamentárias, e nenhuma delas, acreditem, é de
forma conjunta. Não existe no Antigo Testamento duas pessoas orando ao mesmo
tempo. Houve muita oração coletiva, mas em todas elas uma pessoa orava e os
demais concordavam com o amém. Foi assim quando Salomão orou consagrando o templo
ao Senhor. Ele orou em voz alta; a congregação orou com ele, silenciosamente (2
Cr 7).
O que pode ensejar alguns a pensarem que havia
orações onde todos falavam ao mesmo tempo no Antigo Testamento tem a ver com o
que a Bíblia chama de “clamor”. Há muito clamor na história de Israel, mas não
quer dizer que este “clamor” era o mesmo que chamamos hoje de oração. Em alguns
casos eram gritos de alegria ou de pedido de ajuda ao Senhor.
No Novo Testamento, mais acentuadamente do que no
Antigo, não existe uma única oração em que todos oravam ao mesmo tempo, cada um
falando separadamente a Deus. A oração coletiva não nos remete à oração de
todos ao mesmo tempo. Ela é coletiva porque pessoas se reúnem em oração, e
juntas oram por pedidos comuns. O amém, dito no final de casa oração, é a forma
dos demais concordarem com o que ora.
Paulo caminha nesta direção quando apela para que as orações sejam ouvidas e compreendidas, ainda que no contexto esteja falando sobre a prática das orações em línguas estranhas no culto. O princípio é o mesmo. A comparação paulina das orações com uma orquestra, é fabulosa. Os sons precisam ser bens distintos para que sejam compreendidos (1 Co 14.7-10). É preciso ouvir cada irmão na oração coletiva, de forma atenciosa, como se ouve os sons de uma orquestra. A oração de um completa a do outro. É notável a preocupação de Paulo com esta questão da reunião e da compreensão do que cada um fala. Ele diz: E, se tu bendizeres apenas em espírito, como dirá o indouto o amém depois de tuas ações de graças? Visto que não entende o que dizes (1 Co 14.16). Repito, o contexto não está falando de orações onde todos oram juntos, mas sim do uso de línguas estranhas durante o culto, mas há um princípio aqui que não deve passar despercebido: É preciso falar “amém” após as ações de graças. Isto é de uma clareza solar neste texto.
Devemos orar um após o outro para que os que nos acompanham nesta oração possa falar o amém, no final. O amém dado no final demonstra interesse do irmão na oração que faço; demonstra carinho para com o irmão que ora; demonstra comprometimento espiritual com o que se une aos demais em oração. Fico pensando no prejuízo que a jovenzinha citada na introdução teve em não ouvir e participar da oração da irmã anciã. Quanto ela poderia aprender; de quanta graça ela poderia participar. Em vez disse resolveu fazer a sua própria oração. Sinceramente, penso que além da falta de respeito, é uma falta de amor e de sensibilidade espiritual, orar ao mesmo tempo que os irmãos. Quando o meu irmão ora eu aprendo com ele; eu me uno a ele, eu o amo em sua oração, eu fico mais inteirado de suas dores, preocupações e chateações. Eu não tenho nenhuma razão e nenhuma sustentação bíblica para orar ao mesmo tempo.
Ainda que me delongue preciso fazer aqui mais duas
observações. Uma com uma visão interpretativa de um texto; a segunda trata-se
de uma avaliação sociológica, respectivamente.
A primeira
diz respeito a Atos 4.24 onde se diz: Ouvindo isto, unânimes, levantaram a voz
a Deus e disseram: Tu soberano Senhor, que fizeste o céu, a terra, o mar e tudo
que neles há.
Este texto é usado para os que entendem que devemos
orar todos juntos visto que aparece aqui a expressão: unânimes levantaram a
voz. Mas basta continuar a leitura para ver que se tratava de uma única
oração. Esta está descrita na continuidade do texto. Vejam que unânimes
levantaram a voz, mas disserem uma única frase que se inicial: Tu soberano
Senhor, que fizeste o céu, a terra, o mar e tudo o que neles há... Não são
várias orações, não são várias frases, não são pessoas orando cada qual do seu
jeito. A oração foi unânime, mas não resta dúvida de que alguém pronunciou as
palavras da oração e a congregação acompanhou, unanimemente com o amém. Se
todos tivessem orado de forma diferente não teríamos esta oração descrita aqui
no texto.
A segunda tem a ver com o que pode ser chamada de
“oração pentecostal”. Há uma compreensão de que a oração onde todos oram ao
mesmo tempo é uma marca pentecostal e a oração “um após o outro” é de igreja
tradicional. Isto não pode ser tão simples assim. O movimento pentecostal nada
tem a ver com a oração “todos ao mesmo tempo”. Pentecostal é a crença de que
uma pessoa já convertida tem o Espírito Santo (a primeira bênção), mas precisa
ainda ser batizada por este mesmo Espírito (a segunda bênção). A palavra
pentecostal é por interpretar que o dia de pentecoste, em Atos 2, tem a ver com
este fenômeno. Segundo entendem, os discípulos já eram crentes, já tinham o
Espírito Santo neles, mas passaram por uma segunda experiência ao receberem o
batismo do Espírito Santo. Tenho uma visão diferente dessa, conquanto respeito
os meus irmãos pentecostais. Ofereço outro texto que escrevi que tem o seguinte
tema: Quando e como acontece o Batismo com o Espírito Santo.
O que pertence ao assunto aqui é que, mesmo
acreditando que o batismo com o Espírito Santo seja uma segunda bênção, não há
uma relação entre esta crença e a oração onde todos oram ao mesmo tempo. O
pentecostalismo não tem a permissão para
orar fora dos marcos regulatórios da Palavra de Deus.
Que Deus nos abençoe neste exercício que é ordenado
pelo Senhor. Todos nós sabemos do valor da oração, então orar de maneira
correta e bíblica muito nos abençoará. Não devemos orar da forma como gostamos,
mas da forma como a Bíblia nos ensina.
Que Deus
nos abençoe ricamente.