AO POR DO SOL
Ao pôr do sol, caiu profundo sono sobre
Abrão, e grande pavor e cerradas trevas o acometeram; então, lhe foi dito:
Sabe, com certeza, que a tua posteridade será peregrina em terra alheia, e será
reduzida à escravidão, e será afligida por quatrocentos anos. Mas também eu
julgarei a gente a que têm de sujeitar-se; e depois sairão com grandes
riquezas. E tu irás para os teus pais em paz; serás sepultado em ditosa
velhice. Na quarta geração, tornarão para aqui; porque não se encheu ainda
a medida da iniquidade dos amorreus.
E sucedeu que, posto o sol, houve densas
trevas; e eis um fogareiro fumegante e uma tocha de fogo que passou entre
aqueles pedaços. Naquele mesmo dia, fez o Senhor aliança com Abrão, dizendo: À
tua descendência dei esta terra, desde o rio do Egito até ao grande rio
Eufrates: o queneu, o quenezeu, o cadmoneu, o heteu, o ferezeu, os refains, o amorreu, o cananeu, o girgaseu e o jebuseu
(Gn 15.12-21).
“ Ao por do sol”, inicia-se o nosso texto.
Quantas poesias foram feitas ao por do sol. Quanta nostalgia, quantas
lembranças, quantas recordações foram desabrochadas ao por do sol.
De
vez em quando virá à nossa viagem espiritual o ocaso, o por do sol, os dias sem
luz, dias mais sombrios, mais difíceis, as noites mais longas. O nosso Senhor
Jesus teve uma noite muito longa e triste no Getsêmani. Jonas ficou três dias
sem ver a luz do sol, por estar no ventre de um grande peixe. Paulo também fala
dos dias sem luz enquanto vagueava em um navio Adramantino (Atos 27.2, 20).
Paulo
fala do dia mal (Ef. 6.13). Parece ser um dia em que todas as forças do inferno
se arregimentam contra nós. Neste dia corremos o risco de intensamente, de
sermos surpreendidos por uma desgraça, ou sermos levados a agir de forma
inconveniente demais ou mesmo a tomar decisões erradas. Uma decisão errada pode
comprometer todo o nosso ministério.
Todos
nós teremos o nosso por do sol, o nosso sono profundo e as cerradas trevas que
um dia acometeram a Abraão. O que significa esta escuridão em nossa viagem
espiritual? Que lições podemos tirar quando falta clareza, falta luz, falta
direção? Vejamos:
1 A COMPREENSÃO DE QUE DEUS ENVIA AS TREVAS.
Nada
ali foi surpresa para Deus. Não temos a menor dúvida de que Deus propiciou
aquele tempo. Até as trevas, a escuridão, a falta de direção, o medo, pode vir
das mãos de Deus.
Há
indicativos de que Deus faz as trevas, faz as noites, faz o mar ficar bravio,
faz a escuridão. Nada foge de sua soberania (Isaías 45.7).
Tal
compreensão desafia o reino das trevas, que reivindica para Deus um domínio
sobre os homens. O Céu governa a terra. Lembrando, no entanto que o inimigo
também age neste tempo. No verso 11 se fala de aves de rapina sobrevoando
aquele lugar. É interessante que Jesus faz menção das aves que comem a semente
que caem à beira do caminho, que simboliza o inimigo arrebatando a mensagem
celeste. (Mt. 13.4,19)
Deus
pode propiciar tempos difíceis para nós. Ele pode enviar um espírito de loucura
sobre os seus servos. Ele incitou Davi a fazer algo errado, que traria
consequências enormes sobre ele e sobre todo o seu povo (1 Rs 24.1-9).
Assim,
não atribuamos a Satanás toda a culpa pelas trevas que nos cercam, e nem
atribuamos a Deus culpa alguma. Às vezes, Deus está agindo na escuridão, no
lusco fusco, nas trevas, na penumbra, na noite escura, nas tormentas desta
vida, nos dias maus.
2 A CERTEZA DE QUE DEUS TRAS REVELAÇÕES NAS
TREVAS.
Ali,
no dia mais negro da vida deste patriarca, quando ele teve grande pavor, Deus
faz revelações maravilhosas a ele. Foi ali que Deus conta segredos a Abraão. E
o que Deus lhe fala?
1-Fala
da aflição de seus descendentes (v. 13) – Interessante como Deus também a
Daniel sobre o sofrimento de nossos irmãos no futuro (Dn...). Deus falou com
Demas Shakariam sobre a chegada do comunismo na Ucrânia.
2-Fala
da glória que seguiria este tempo de escravidão (v.14)-
3-Fala
da paz que inundaria o seu coração. - Paulo também nos fala de uma paz que
segue os tempos de ansiedade (Fl 4.6-7).
4-
Fala dos julgamentos dos povos (v. 16). Deus daria aquela terra a Abraão, mas
não quis ainda eliminar aqueles povos em sua época, porque faltava se completar
a medida da sua iniquidade. Em 400 anos se completaria a medida de seus
pecados, então seriam destruídos.
Deus
fala muito em tempos de escuridão. Jonas somente aprendeu a orar de fato depois
de muito tempo de escuridão (Jonas 2). O sofrimento traz consigo o crescimento
espiritual. O autor aos Hebreus fala da experiência de Jesus que aprendeu a
obediência pelas coisas que sofreu (Hb. 5.8).
Pode
faltar a luz, mas não o agir de Deus, não a mão de Deus, não a paz de Deus, não
a revelação de Deus.
Em
Deuteronômio 8.1-3, 15,16 lemos que Deus permitiu muito sofrimento ao seu povo
para no final fazer-lhe bem.
Há
lições especiais que só aprendemos em tempo de sofrimento, em tempo de trevas,
ao por do sol.
3 A CONVICÇÃO DE QUE DEUS FAZ ALIANÇA CONOSCO
EM TEMPOS DE TREVAS.
Ao
por do Sol, nas trevas, o fogo de Deus desceu e consumiu o holocausto (v. 17).
Após esse tempo Deus fez uma aliança com Abraão. Uma aliança (v. 18).
As
trevas passariam e viriam dias de vitórias, de luzes, de crescimento, de
bênçãos sem medida.
Graças
a Deus os tempos de dor tem a delimitação de Deus. Ele mesmo diz quanto tempo
as trevas durarão. Em apocalipse se fala de 10 dias (Ap. 2.10). O sofrimento só
vai até onde Deus permitir.
O
que restou para Abraão foi a renovação de sua aliança com o Senhor (v. 18).
Deus
na sua misericórdia nos alcança quando temos tanto pavor, quando tudo está
denso, quando não há direção, quando as trevas são grandes.
Quantos
Salmos lindos temos, nutridos por muito sofrimento e choro, mas que demonstram
como as misericórdias de Deus alcançaram o salmista naquele tempo, mesmo ao por
do sol. Marcos 1.32 nos mostra que ao por do sol Jesus encontrou muitos
enfermos e endemoninhados à porta da cidade de Cafarnaum. Ali ele curou muitos
doentes e expeliu demônios de muitos. Jesus reina também ao por do sol.
Letra
da música - A Graça de Cristo:
De vez em quando eu sou,
levado a me abater.
Parece
que então, eu vou.
Perecer
num mar, nada mais querer.
Simplesmente ir, mas sem saber.
Momentos maus, difíceis para valer.
A vida se esvai, até tudo se misturar.
Tudo perder valor.
Nada
mais fazer sentido para mim.
Ainda bem, que em meio as minhas trevas
vejo a luz.
Nessas horas mais difíceis sinto Cristo.
Me enxugando o rosto, motivando-me outra
vez.
A seguir em frente sem olhar para trás.
Depois do temporal melhor posso sentir,
que a graça do Senhor é tal.
Quem poderá comprar?
Quem poderá medir?
Só em Jesus eu posso achar.
Ainda
que sejamos o povo da luz, o povo que deve brilhar, o povo que anda como que ao
meio-dia, as trevas um dia nos encobrirão. E como no caso de Abraão não eram as
trevas do pecado, mas da provação, da luta espiritual. Mas nestas trevas está a
mão de Deus. Nestas trevas está a ação de Deus, e no meio das trevas está a
aliança de Deus conosco.
Precisamos
ouvir o que o Espírito Santo nos fala:
Desde a hora sexta até a hora nona,
houve trevas sobre toda a terra (Mt. 27.45).
Ao cair da tarde daquele dia, o primeiro
dia da semana, trancadas as portas da casa onde estavam os discípulos com medo
dos judeus, veio Jesus, pôs-se no meio e disse: Paz seja convosco (João 20,19.
A
noite mais triste foi substituída pela linda manhã da ressurreição.
Amanhece – Poesia.
É
belo o rosto claro da manhã,
Aberto sobre a terra que se expande
Num hino de louvor e adoração.
À
luz do sol nascente que as renova,
Levantam sua voz as criaturas,
Anunciando o esplendor do novo dia.
Assim
minha vontade, assim meus olhos
Se elevam para Ti: faz-me, Senhor,
Compreender
o dia que amanhece.
E
acorda-me, meu Deus, cada manhã,
Até que saiba amanhecer seguro
Do teu amor, no dia sem ocaso!
Fernanda de O.
Souza
Que
Deus cumpra em nós o seu propósito, mesmo que para isto as trevas nos envolvam
e tenhamos muito medo. Neste tempo não faltará a mão de Deus.